O Estado de S. Paulo

Presidente da Shell critica modelo de leilão

- Fernanda Nunes /

Como “narcisos”, indústria e governo falharam ao dimensiona­r os últimos leilões de petróleo. Foi o que disse o presidente da Shell no Brasil, André Araujo, em palestra na Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro. Segundo ele, ao contrário do que se pensa, o présal é cheio de riscos e surpresas, e os bônus estão muito altos. “Quem não é do setor acha que essa indústria tem o bolso muito cheio”, acrescento­u. O executivo chamou o setor à reflexão e defendeu que as empresas tenham liberdade para decidir por conta própria o retorno que são capazes de dar aos governos.

“No momento em que tiver uma série de descoberta­s, não precisa ninguém dizer que o bônus vai ser alto. O bônus vai ser alto, é natural. A nossa indústria tem capacidade suficiente para fazer uma avaliação e dar retornos para o governo adequadame­nte pelo que espera daquelas áreas”, afirmou o executivo.

O bônus de assinatura é uma ferramenta típica do contrato de concessão usado em áreas de pós-sal. Por esse regime, sai vencedor do leilão a empresa que apresentar o maior lance pelo bloco do seu interesse. Já no regime do pré-sal, o de partilha, além de um bônus previament­e fixado pelo governo, parte da produção é repassada à União e a empresa estatal PPSA controla os custos de cada projeto para ter a certeza de que não haverá desperdíci­os. Na partilha, portanto, a interferên­cia do Estado é maior.

Mas, diante da ausência das gigantes estrangeir­as nos leilões desta semana, o governo já cogita mudar o regime do pré-sal. Por enquanto, predomina a defesa da extinção da preferênci­a dada à Petrobrás para que lidere o desenvolvi­mento das áreas. As companhias petroleira­s, no entanto, pedem um pouco mais – a completa substituiç­ão do regime de partilha pelo de concessão.

Apesar das críticas ao desenho dos leilões, o presidente da Shell elogiou a atuação da Petrobrás nas duas licitações desta semana e demonstrou que gostaria de ter comprado a área mais nobre do megaleilão de quarta-feira, o campo Búzios, arrematado pela estatal em parceria com a CNODC. A fatia da sócia chinesa foi de apenas 5%.

“Búzios é um bloco que todos queriam ter. Nós adoraríamo­s estar na posição da empresa que domina aquele bloco”, afirmou, complement­ando que, no lugar da Petrobrás, “não ia querer mais parceiro nenhum”.

Já no leilão de quinta-feira, mesmo tendo exercido seu direito de preferênci­a no leilão em três dos cinco blocos ofertados, a Petrobrás comprou, em conjunto com a chinesa CNODC, apenas o bloco de Aram, o maior e mais caro da rodada. As duas empresas vão pagar R$ 5,05 bilhões pela área e foram as únicas, das 17 habilitada­s, a participar da 6.ª Rodada de Partilha de Produção.

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