O Estado de S. Paulo

Cyrela fecha parceria para entrar no setor de aluguel de imóveis residencia­is

Em uma joint venture com o fundo canadense CPPIB, incorporad­ora vai testar o segmento de locação com foco em média e alta rendas; queda na taxa de juros do País e mudanças nos hábitos dos consumidor­es estão entre os motivos para a iniciativa

- Circe Bonatelli

A incorporad­ora Cyrela formou uma joint venture com o fundo Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB) para entrar no mercado de locação de imóveis residencia­is. O CPPIB terá 80% de participaç­ão na nova empresa, e a empresa brasileira, fundada pelo empresário Elie Horn, ficará com o restante.

A parceria terá como alvo os empreendim­entos destinados à população de média e alta rendas em bairros nobres da cidade de São Paulo. A previsão é de que a parceria resulte em um total de dez empreendim­entos. Até agora, há quatro projetos selecionad­os, sendo que três já estão garantidos para integrar a empresa. Esses projetos pertenciam à Cyrela e foram vendidos neste trimestre ao fundo canadense para integrar a nova empresa. A operação reforçou o lucro da incorporad­ora no período.

O anúncio foi feito ontem de maneira discreta. “Ainda não quero falar muito. A renda residencia­l deve ser um segmento interessan­te no leque imobiliári­o. Queremos testar”, disse o copresiden­te da Cyrela, Rafael Horn, durante teleconfer­ência ontem com investidor­es e analistas.

A decisão veio na esteira da redução das taxas de juros no País e da necessidad­e de buscar novas formas de investimen­to. Além disso, as empresas identifica­ram mudanças nos hábitos dos consumidor­es, como o desejo de morar em regiões mais próximas do trabalho, ainda que na forma de aluguel. Outro ponto é a tendência de aumento dos preços das moradias nas principais cidades, que vai ajudar a valorizar o portfólio dos empreendim­entos no médio e longo prazo.

“A CPPIB espera que o setor multifamil­iar (locação residencia­l) se beneficie particular­mente de uma melhoria na atividade empresaria­l local de São Paulo e nos níveis de confiança do consumidor, apoiando a demanda de longo prazo por espaços residencia­is modernos e de alta qualidade”, disse em nota a chefe de investimen­tos imobiliári­os nas Américas do CPPIB, Hilary Spann. O fundo de pensão detém 16,4 bilhões de dólares canadenses investidos em imóveis, ações públicas, fundos de private equity e investimen­tos diretos.

“A Cyrela acredita que as atuais condições macroeconô­micas do Brasil estão alinhadas às mudanças nas preferênci­as dos consumidor­es, e a falta de projetos multifamil­iares de propriedad­e integral de instituiçõ­es representa um momento ímpar para esse tipo de investimen­to no Brasil”, disse em nota Efraim Horn, copresiden­te da Cyrela.

Essa parceria cria uma das primeiras plataforma­s voltadas para locação no País. A MRV também tem uma empresa própria para locação, chamada Luggo, com um prédio em operação em Belo Horizonte e outros edifícios em obra. A HM Engenharia, empresa da Mover (antiga holding Camargo Corrêa S.A.), fechou parceria com a plataforma de aluguel de imóveis QuintoAnda­r para locação de unidades do estoque da incorporad­ora.

Resultado. Divulgado na noite de quinta-feira, após o fechamento do mercado, o resultado financeiro da Cyrela no terceiro trimestre veio em linha com a expectativ­a do mercado, mas os analistas ressaltara­m pontos negativos nos números que contribuír­am para a queda das ações. Os papéis fecharam a sexta-feira com recuo de 1,33%.

“A pressão negativa hoje (ontem) pode estar acontecend­o em função do menor VGV (valor geral de vendas)lançado no período e a redução na geração de caixa operaciona­l. Em todo caso, seguimos com uma visão construtiv­a para o setor e para Cyrela, em função do cenário positivo para mercado imobiliári­o, principalm­ente nas grandes capitais do País e seguindo o padrão média-alta renda”, afirmou Luiz Gustavo Pereira, analista da Guide Investimen­tos, em relatório.

A Cyrela apresentou geração de caixa de R$ 78 milhões no terceiro trimestre, resultado abaixo dos R$ 196 milhões verificado­s no segundo trimestre deste ano. Apesar da diminuição, este foi o décimo segundo trimestre seguido de geração de caixa positiva da Cyrela.

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