O Estado de S. Paulo

Bate-bola de futebol com música inspira peça

‘Samba Futebol Clube’ faz uma homenagem às maiores paixões nacionais

- Ubiratan Brasil

Foi em 2010 que o ator, diretor e dramaturgo Gustavo Gasparani recebeu o desafio: que tal criar um musical que casasse o futebol com a música brasileira? “Eu estava fazendo o espetáculo Oui, Oui... A França é Aqui, no Rio, e, depois de uma sessão, o jornalista João Pimentel me propôs isso”, relembra ele que, desconfiad­o de que a relação pudesse, de fato, resultar em uma peça de teatro, pediu uma pesquisa. “João retornou com uma relação rica, uma variedade de textos e canções que me deslumbrou pela profundida­de e beleza.”

Animado, Gasparani promoveu uma habilidosa costura entre roteiro e músicas, que resultou em Samba Futebol Clube, finalmente em cartaz em São Paulo, no Teatro Unimed, depois de ter estreado há cinco anos no Rio. Trata-se de uma homenagem a duas das grandes paixões nacionais. Em cena, oito atores (Alan Rocha, Daniel Carneiro, Gabriel Manita, Jonas Hammar, Marcel Octavio, Pedro Lima, Rodrigo Lima e Sergio Dalcin) se desdobram em diversos papéis para homenagear duas figuras essenciais: o torcedor e o jogador. “E como, além de cantar, todos tocam algum instrument­o, temos uma ‘banda show de bola’”, brinca o diretor.

Samba Futebol Clube divide-se em dois atos. No primeiro, a história é contada sob a ótica dos torcedores – entram aí as paixões descontrol­adas, as rivalidade­s, as idiossincr­asias, as dores de pessoas que vivem focadas em outro plano, aquelas para quem não existe nada mais importante no mundo que o clássico Palmeiras x Corinthian­s.

No segundo ato, os jogadores tornam-se os protagonis­tas – novamente, um desfile de momentos inesquecív­eis do folclore futebolíst­ico, com cenas hilariante­s que vão desde a forma atropelada com que alguns atletas cantam o Hino Nacional até as mais descabidas declaraçõe­s para repórteres de rádio.

“É um mundo particular e muito fascinante”, comenta Gasparani que, no texto, promove encontros notáveis, como Pixinguinh­a com Carlos Drummond

de Andrade, Jackson do Pandeiro com José Lins do Rêgo, Armando Nogueira com Gonzaguinh­a, Skank e Rappa com Ferreira Gullar. “São trabalhos que me permitiram extrair o que de memória, afeto, infância, poesia, política e filosofia o futebol ainda nos dá.”

Para a temporada paulistana, Gasparani decidiu reforçar a presença de times locais, o que não acontecia muito na versão carioca, que circulou pelo País. Assim, canções de Adoniran Barbosa e Germano Mathias enaltecend­o o Corinthian­s ganharam um espaço. “O problema foi tirar canções favoráveis ao Fluminense, que é meu time do coração”, brincou o encenador.

Outro momento adequado à plateia paulista é o que mostra um dos atores confessand­o sua paixão clubística, geralmente por uma agremiação que é alvo de brincadeir­as por outros torcedores. Assim, se no Rio o fanático era um vascaíno doente, agora o homenagead­o é um torcedor do Guarani de Campinas.

Com habilidade, Gasparani construiu um espetáculo recheado de pequenas referência­s que fazem a alegria dos torcedores mais antigos, como um bordão do saudoso radialista Valdir Amaral (“O relógio marca!”) ou a sequência de trinados que Altamiro Carrilho tirava de sua flauta, para marcar também o tempo de jogo.

E o roteiro musical reúne pérolas do cancioneir­o popular, desde Fio Maravilha (1972), de Jorge Benjor, a É Uma Partida de Futebol (1996), de Samuel Rosa e Nando Reis, sem se esquecer de Lamartine Babo, autor dos hinos dos principais clubes cariocas, com destaque para o América, seu clube do coração.

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FOTOS DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Jogo. Atores encenam os torcedores e os jogadores
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Gasparani. Diretor revive lembranças afetivas do torcedor

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