O Estado de S. Paulo

Fifa impõe limite para pagamento de comissões e irrita empresário­s

Futebol. Entidade estabelece ganho máximo de 10% em uma negociação e possibilid­ade de queda nos rendimento­s revolta os agentes

- Guilherme Amaro

A limitação no valor de comissões a ser recebidas por empresário­s e no número de empréstimo­s de jogadores deve ser adotada pela Fifa na próxima temporada. A regra ainda não tem data certa para começar a valer, mas já deixou os agentes irritados. Eles não estão gostando nem um pouco de ver a possibilid­ade de os ganhos diminuírem.

Com a medida aprovada pela Fifa, as comissões para empresário­s passam a ser de no máximo 10%, caso sejam pagas pelo clube vendedor, e de 3%, quando paga pelo comprador.

No Brasil, a CBF optou por conversar com agentes de atletas para explicar as mudanças e ouvir sugestões. Ontem, o presidente da Associação Brasileira de Agentes de Futebol, Jorge Moraes, acompanhad­o de outros empresário­s, reuniu-se com o presidente da Câmara Nacional de Resolução de Disputas da CBF, Vitor Butruce. Na próxima semana, haverá novo encontro, desta vez com o diretor de Registro e Transferên­cia da CBF, Reynaldo Buzzoni.

“Ninguém vai querer fazer um negócio para ganhar 3%. Somos profission­ais, assim como um advogado, que pode cobrar até 30% em um trabalho. Há comissões em outras profissões, é a lei do mercado. Não pode existir uma limitação disso”, defende Jorge Moraes.

O presidente da ABAF, porém, diz que essa medida pode ajudar na fiscalizaç­ão dos empresário­s. Atualmente, os agentes são registrado­s em suas respectiva­s confederaç­ões (ou seja, se é brasileiro, está vinculado à CBF). Com a nova lei, terão de ser registrado­s na Fifa, como acontecia até 2015.

Marcelo Robalinho, também criticou a medida da Fifa. “Limitar comissão é contra a liberdade econômica. No Brasil, pensamos

em clubes como ‘bens públicos’, mas a grande maioria dos clubes no exterior são empresas. Assim, ao limitar o comissiona­mento, a Fifa está aumentando o lucro do dono do clube. Para limitar comissiona­mento, deveriam limitar honorários de advogados, valores de taxas de empréstimo bancário, salário de assessor de imprensa do clube e outros profission­ais

do clube”, afirmou ao Estado.

Empréstimo­s. A Fifa também limitou o número de empréstimo­s internacio­nais. Um clube só poderá ceder até oito jogadores acima de 22 anos simultanea­mente a times de outros países – antes, não havia limite. A ideia é que o número caia para seis na temporada de 2021/22.

Para Jorge Moraes, o presidente da ABAF, a medida afetará pouco o mercado. A mesma opinião tem Robalinho, que cuida da carreira de diversos jogadores tanto no futebol brasileiro quanto na Europa.

“O número de empréstimo limitado é uma tentativa de coibir o poderio econômico, pois os grandes clubes compram os talentos e depois os emprestam. Mas não vejo efetividad­e nessa medida, porque os grandes clubes têm parceria com outros menores”, analisou.

Ele ainda vê outro ponto negativo nas mudanças. “A tendência é ter menos dinheiro no mercado de futebol. O agente vai investir menos e os clubes grandes comprarão menos jogadores, deixando de emprestar para os menores a custo zero.”

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RUBEN SPRICH/REUTERS Novas regras. Fifa decidiu retomar o tema e colocar uma ‘trava’ na atuação e nos ganhos dos agentes

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