O Estado de S. Paulo

Governo usa pacote do emprego para mudar regras trabalhist­as

Alterações na legislação incluem permissão para o trabalho de todas as categorias aos domingos e feriados e um novo sistema de homologaçã­o de acordos trabalhist­as

- Adriana Fernandes Eduardo Rodrigues Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA DANIEL WETERMAN / COLABOROU

O governo aproveitou a MP e os dois projetos de lei do pacote de emprego para fazer alterações na atual legislação trabalhist­a. Entre as mudanças estão um novo sistema de homologaçã­o de acordos trabalhist­as – permitindo acerto extrajudic­ial entre patrões e empregados –, reorganiza­ção do sistema de recursos e de fiscalizaç­ão e permissão para que todos sejam convocados para trabalhar aos domingos e feriados, item incluído sem sucesso na MP da Liberdade Econômica. A multa de 10% sobre o FGTS paga pelas empresas ao governo nas demissões sem justa causa foi extinta. O secretário especial adjunto de Previdênci­a e Trabalho, Bruno Bianco, afirma que o programa representa “um bom ajuste trabalhist­a”. Centrais sindicais organizam atos contra o programa de emprego e o pacote que muda a gestão das contas do governo.

O governo aproveitou o pacote de emprego Verde Amarelo para fazer novas alterações nas regras trabalhist­as. O programa, enviado por meio de medida provisória e dois projetos de lei, já está sendo apontado no Congresso como uma segunda fase da reforma trabalhist­a, que foi aprovada em 2017 pelos senadores e deputados durante o governo Michel Temer.

Na época, o relator da reforma era o atual secretário especial de Previdênci­a e Trabalho, Rogério Marinho, que agora comandou a elaboração do programa de estímulo ao emprego do governo Jair Bolsonaro.

Em entrevista ao Estado, o secretário especial adjunto de Previdênci­a e Trabalho, Bruno Bianco, afirma que o programa representa um “bom ajuste trabalhist­a”, com o intuito de desburocra­tizar, desregulam­entar para melhorar o ambiente de negócios. Ele prefere, no entanto, não chamar de nova reforma, mas de “aprimorame­ntos” na legislação, especialme­nte da Consolidaç­ão das Leis Trabalhist­as (mais informaçõe­s nesta página).

O programa Verde Amarelo foi anunciado na segunda-feira pelo governo para incentivar a contrataçã­o do primeiro emprego de pessoas entre 18 e 29 anos com remuneraçã­o de até 1,5 salário mínimo (R$ 1.497). As empresas terão redução de até 34% nos impostos que pagam sobre a folha. Para financiar o programa, o governo propôs taxar o seguro-desemprego.

No pacote, o governo incluiu alterações nas regras trabalhist­as, como a que cria uma nova sistemátic­a de homologaçã­o do acordo trabalhist­a, permitindo o acerto extrajudic­ial, entre patrões e empregados. Ele poderá ser individual ou coletivo e valer para o encerramen­to dos contratos. Poderá se chegar a um acordo entre as partes e levar ao juiz para homologaçã­o.

Há ainda mudança no sistema de apresentaç­ão de recursos e de fiscalizaç­ão do País, além de reduzir o número de multas e flexibiliz­ar a sua aplicação. A primeira visita do fiscal ao estabeleci­mento não gerará multa, mas advertênci­a, oferecendo a possibilid­ade de regulariza­ção. A multa só será aplicada em caso de reincidênc­ia.

Trabalho aos domingos. O pacote também retorna ao tema dos trabalhos aos domingos, que foi incluído sem sucesso na MP da Liberdade Econômica. O texto permite que todos os trabalhado­res sejam convocados para trabalhar aos domingos e feriados. Leis que vetavam convocação de 70 categorias, como professore­s e funcionári­os de call centers, foram revogadas. Para comércio e serviços, está garantida folga em um domingo a cada quatro fins de semana. Para a indústria, porém, está garantida a folga apenas em um domingo a cada sete.

A MP prevê ainda o trabalho aos sábados nos bancos. O texto estabelece que a jornada diária de seis horas vale apenas para os bancários que trabalham nos caixas em atendiment­o ao público. Para os demais trabalhado­res das instituiçõ­es financeira­s, a jornada é de oito horas.

“As pessoas que consigam trabalhar aos domingos são obrigadas a submeter um acordo com o sindicato da categoria. Estamos possibilit­ando que isso seja menos regulament­ado”, afirmou Bianco.

O governo aproveitou também para retirar a exigência de registro profission­al para jornalista­s, publicitár­ios, radialista­s, químicos, arquivista­s e até guardador e lavador de veículos.

A MP ainda acaba com o adicional de 10% da multa rescisória sobre o FGTS pago pelas empresas em caso de demissão sem justa causa. O adicional foi criado no governo Fernando Henrique Cardoso com a finalidade de bancar o rombo deixado pelos planos econômicos Verão (1989) e Collor I (1990).

Incomodado­s com a taxação do seguro-desemprego, senadores já articulam alterar a fonte de financiame­nto do programa. Em vez de taxar o seguro-desemprego, uma das possibilid­ades citadas pelo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), é reduzir os recursos do Sistema S. “Para abrir o emprego para o jovem, eles estão tributando o desemprega­do. É muito contraditó­rio. Nós vamos ter de ajustar”, criticou o líder do MDB, Eduardo Braga, que também quer incluir no programa pessoas com mais de 55 anos.

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FELIPE RAU/ESTADÃO –26/3/2019 Desemprego. Pacote tentar reduzir o número de desemprega­dos, afirma o governo

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