O Estado de S. Paulo

CENA DE ABERTURA

- E-MAIL: RBITTAR200­7@GMAIL.COM ROSÂNGELA BITTAR ESCREVE SEMANALMEN­TE ÀS QUARTAS-FEIRAS

Estão sem projeto de candidato os 40% do eleitorado que, no momento, são apenas voyeurs na arena política de Lula e Bolsonaro.

Luiz Inácio Lula da Silva inicia a campanha municipal imediatame­nte. Quase queimou a largada ao repetir, à saída da cadeia, estilo, conteúdo e tom que há muito cansaram o eleitorado. Deverá seguir mais planejado e arejado para ser ouvido. Reativo, a princípio, retomará uma espécie de estado normal recreativo. Nada de liderar a oposição, juntar a esquerda, reunir partidos.

Elegeu Jair Bolsonaro como adversário e sua contundênc­ia, como era de se esperar, fortaleceu o presidente. Os tropeços iniciais não impedem que a retomada seja uma dramática campanha de restauraçã­o política do PT.

Lula é um ambíguo de palanque que fala aos convertido­s. Assim prosseguir­á, deixando aos demais margem para outras interpreta­ções.

No discurso da rentrée, por exemplo, lembrou à militância que é preciso respeitar Jair Bolsonaro porque, afinal, foi eleito pela maioria do povo. Permitiu a conclusão dos seus ouvintes de que vai forçar o rompimento de sua inelegibil­idade e, depois, vitoriosa uma anticandid­atura, exigir o fato consumado. Tudo é possível, mas seu exército de hoje não sustenta tal devaneio. É com discurso que Lula sempre trabalhou e vai trabalhar no futuro.

Pela campanha municipal tentará reunir e consolidar os 30% de votos que o PT manteve nos últimos 20 anos em qualquer eleição. Pretende eleger centenas de prefeitos que lhe servirão de base na campanha presidenci­al e em outros projetos a definir. Lula quer ver o PT disputando com chances em todas as capitais, nas grandes cidades do interior e em todos os Estados. A campanha será um manifesto do começo ao fim.

Sem dúvida, Lula entra em campanha mais forte, mas não porque tenha perspectiv­a de poder real a curto prazo, ele não foi inocentado, apenas libertado. Foram seus adversário­s que se enfraquece­ram. Principalm­ente o juiz que o condenou e o condutor da operação que apurou os crimes de que é acusado.

Jair Bolsonaro apresenta-se a esta cena inaugural da disputa já tendo adversário da sua faixa de frequência e com um governo inexistent­e na política. No momento, até sem partido e uma labuta rotinizada por conflitos artificial­mente construído­s. Ao designar Lula seu adversário, também permite sua recriação. Um alimenta-se do outro. Se conseguir a recuperaçã­o da economia terá projeto para qualquer campanha. Não importa que haja pouco mérito seu nos resultados, estes uma contribuiç­ão decisiva do poder Legislativ­o. O governo é sua autoria. E a tarefa do presidente Bolsonaro será também consolidar os 30% do seu eleitorado, vulnerável ao desencanto de muitos que o seguiram por razões de conjuntura.

Estão sem projeto de candidato os 40% do eleitorado que, no momento, são apenas voyeurs nesta arena política. Muito pouco já está em progresso para 2022 e a novidade é que todos fogem do apadrinham­ento de Bolsonaro ou do PT. De biografia precoce, mas se colocando em evidência, estão os governador­es Ibaneis Rocha (DF) e Wilson Witzel (RJ). Ciro Gomes nunca deixou de estar na roda e, desta vez, já completame­nte afastado da aliança com o PT. O ministro Sérgio Moro, embora tímido, está bem colocado e o governador de São Paulo, João Doria, prepara-se para saltar mais uma vez de galho. A candidatur­a melhor assessorad­a e em processo avançado de estruturaç­ão, do apresentad­or Luciano Huck, praticamen­te é uma realidade.

Nenhum deles, porém, apresentou ainda projeto para arrebatar o eleitorado.

É um risco contar com o imponderáv­el para salvar a pátria, mas um nome novo pode realmente surgir, de repente. Necessário se faz, no entanto, ajudar o acaso: estimular, estudar como se criam alternativ­as e como se transforma­m possibilid­ades em candidatos. Os partidos já estão entrando atrasados nessa cena de abertura.

Estão sem projeto de candidato os 40% do eleitorado que, no momento, são apenas voyeurs

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