O Estado de S. Paulo

Esquerda fecha acordo para governar Espanha 23 vagas

Partido Socialista e esquerda radical, liderada pelo partido Podemos, formalizam aliança para tirar país de impasse político

- MADRID

O premiê socialista Pedro Sánchez e o chefe da esquerda radical, representa­da pela agrupação Unidas Podemos, Pablo Iglesias, alcançaram ontem um pré-acordo para um governo de coalizão na Espanha. A aliança precisará do apoio de outras legendas para obter a aprovação da Câmara Baixa, renovada nas eleições legislativ­as de domingo.

Segundo fontes da negociação, que durou uma hora, ouvidas pelo jornal El País, Sánchez decidiu fechar um acordo com Iglesias rapidament­e, o que significou aceitar uma aliança sem vetos, algo que esteve próximo de ocorrer em julho. Segundo essas fontes, a decisão de aceitar tal acordo foi tomada apenas por Sánchez e os políticos de mais alto cargo de seu partido sabiam.

Caso o acordo seja confirmado, será o fim de meses de bloqueio político na quarta economia da zona euro. “Alcançamos um pré-acordo para compor um governo de coalizão progressis­ta na Espanha, (...) que combine a experiênci­a do Partido Socialista com a coragem do Podemos”, disse Iglesias, após a inesperada assinatura do documento no Parlamento espanhol.

Nos últimos meses, Iglesias chegou a chamar Sánchez de “loser” (perdedor), enquanto o premiê qualificou o agora aliado como populista, associando-o à “Venezuela de Chávez”.

Ontem, Sánchez mudou o tom: “Este novo governo vai ser um governo categorica­mente progressis­ta”, pensado para durar os quatro anos da legislatur­a, porque “a Espanha precisa de um governo estável, não interino, um governo sólido, e precisa já”. Os líderes disseram que, nas próximas semanas, vão detalhar o programa e a estrutura do governo.

A imprensa local afirmou que Iglesias ficará com a vice-presidênci­a, têm os separatist­as catalães – por isso, os socialista­s buscam outros partidos nanicos algo que Sánchez havia recusado em abril, e os dois discutirão quem vai encabeçar três ministério­s importante­s do governo. Se confirmado, seria o primeiro governo de coalizão da Espanha desde o retorno do país à democracia no final da década de 1970.

O partido de Sánchez venceu as eleições, mas perdeu força nas legislativ­as. Os socialista­s já haviam tentado negociar a formação de um governo de coalizão com a Unidas Podemos (coalizão entre o Podemos e o Esquerda Unida), após as eleições anteriores, em abril. As negociaçõe­s fracassara­m em razão de divergênci­as sobre qual papel o Podemos teria no Executivo. O desentendi­mento levou o país de volta às urnas, no último domingo, quando a extrema direita do Vox se tornou a terceira força política do país.

O novo acordo “é tão promissor que supera qualquer tipo de desencontr­o que possamos ter tido nos últimos meses”, disse Sánchez, que selou o pacto com um abraço com Iglesias. Os socialista­s e o Podemos reúnem 155 deputados, motivo pelo qual vão precisar conquistar apoio de outras siglas para alcançar a maioria absoluta de 176, em um Congresso de 350 cadeiras.

A preferênci­a dos socialista­s é um apoio dos liberais do Cidadãos,

que perderam espaço no domingo. Dos 57 deputados conquistad­os em abril, caíram para 10 assentos. Os socialista­s também esperam poder contar com outros partidos nanicos para não dependerem dos separatist­as catalães, que têm 23 vagas.

Um dos temas dominantes da campanha foi a situação na Catalunha, onde segue vivo o pulso do separatism­o. Nesse ponto do acordo, fica decidido que “o governo da Espanha terá como prioridade garantir a convivênci­a na Catalunha e a normalidad­e da vida política. Com essa finalidade, será fomentado o diálogo, buscando fórmulas de entendimen­to, sempre dentro da Constituiç­ão.”

A tensão aumentou com a condenação, em outubro, de nove líderes independen­tistas a penas de prisão de 9 a 13 anos de prisão, por seu papel na tentativa fracassada de secessão de 2017. A sentença deu lugar a uma semana de distúrbios na Catalunha.

O principal beneficiad­o pela crise regional foi o Vox. Entre outros pontos, seu líder, Santiago Abascal, defende suspender a autonomia catalã e ilegalizar os partidos soberanist­as.

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SERGIO PEREZ/REUTERS Espanha. Premiê socialista Pedro Sánchez (E) com Pablo Iglesias: aliança de esquerda

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