O Estado de S. Paulo

Caixa corta em 50% juro do cheque especial

Anúncio é feito no momento em que governo estuda novas regras para esse tipo de crédito

- Aline Bronzati / SÃO PAULO Fabrício de Castro / BRASÍLIA / COLABORARA­M RENÉE PEREIRA e TALITA NASCIMENTO

A Caixa Econômica Federal anunciou ontem a redução de juros no cheque especial. A partir do próximo mês, a taxa mínima cobrada pela instituiçã­o será de 4,99% ao mês, ante os atuais 9,99%. O corte acontece no momento em que o governo se prepara para lançar novas regras para esse tipo de linha de crédito – que tem um dos maiores juros do mercado (média anual de 307,6% em setembro).

Uma das possibilid­ades é que os bancos possam cobrar tarifa do cliente que quiser manter determinad­o limite do cheque especial, abrindo espaço para a redução dos juros na operação. Atualmente, o mercado pode elevar ou reduzir limites conforme o perfil do cliente. É comum que clientes com histórico de adimplênci­a e mais recursos na conta corrente tenham limites maiores no cheque especial, mas não utilizem os recursos que estão disponívei­s.

O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou que a nova taxa “continua gerando resultado” e que existe mais espaço para novas reduções. Segundo ele, a iniciativa partiu do próprio banco e não houve ingerência do ministro da Economia, Paulo Guedes. Durante a gestão Dilma Rousseff, o governo usou as instituiçõ­es públicas para forçar os concorrent­es privados a mexerem nos seus juros.

“Essa taxa (os 4,99%) não parou por aqui. Continuamo­s estudando (novas reduções)”, disse Guimarães. A pedido do Estado, o professor de finanças Fábio Gallo, da FGV, calculou o custo de um saque de R$ 1 mil no cheque especial. Com uma taxa de 9,99% ao mês, esse custo depois de um ano chega a R$ 3.135,01. Com 4,99%, o correntist­a tem de pagar R$ 1.793,80 (diferença de R$ 1.341,21).

Autorregul­amentação. Em reunião com senadores na semana passada, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tratou do assunto. Segundo parlamenta­res, uma das avaliações é que, ao disponibil­izar um limite ao cliente, o banco está sendo onerado, mesmo que esses recursos não sejam utilizados. Esse custo para a instituiçã­o financeira estaria sendo bancado pelos clientes que efetivamen­te utilizam o limite do cheque especial – geralmente, aqueles

com menor poder aquisitivo.

Sob a presidênci­a de Ilan Goldfajn, que esteve no comando do BC durante o governo de Michel Temer, a solução que surgiu foi a de uma autorregul­ação por parte dos bancos. Em julho do ano passado, por iniciativa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), as instituiçõ­es financeira­s passaram a oferecer um parcelamen­to para dívidas superiores a R$ 200 no cheque especial. A expectativ­a era que essa migração para linhas mais baratas acelerasse a tendência de queda dos juros cobrados do consumidor. Em junho de 2018, porém, antes do início da nova dinâmica, a taxa do cheque especial estava em 304,9% ao ano – patamar abaixo do verificado atualmente.

Na avaliação do economista, Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating, o corte anunciado pela Caixa é um sinal de que há muita gordura para queimar nessa modalidade. “Mesmo com a redução, a taxa continua alta, consideran­do o atual nível da taxa Selic (hoje em 5% ao ano)”, disse ele.

Questionad­o sobre a movimentaç­ão da Caixa, o Itaú Unibanco afirmou que suas taxas começam a partir de 2,6% ao mês e que os valores cobrados dependem de fatores que vão além da Selic, como inflação e custos operaciona­is. Já o Santander afirmou que sempre orienta os clientes para que a utilização do cheque especial seja apenas no curto prazo e em emergência­s.

 ?? ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL -8/10/2019 ?? Concorrênc­ia. Pedro Guimarães disse que a Caixa não compete com o Bradesco e o Itaú
ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL -8/10/2019 Concorrênc­ia. Pedro Guimarães disse que a Caixa não compete com o Bradesco e o Itaú

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