Seis PMs são afastados após mortes em Paraisópolis
Seis policiais envolvidos na ocorrência que terminou com nove pessoas mortas por pisoteamento em Paraisópolis, na zona sul da capital paulista, foram afastados das ruas ontem. Eles estavam entre os primeiros agentes a entrar no local e ficarão em serviço administrativo até o fim das investigações, que serão acompanhadas por uma promotora do júri, Soraia Simões. Ontem, o governador João Doria (PSDB) defendeu a ação policial contra bailes funk e culpou criminosos pela perseguição, enquanto o comandante da PM, Marcelo Salles, admitiu que se planejava uma operação que acabou abortada por causa do grande número de pessoas. O Estado voltou à comunidade e conversou com pessoas que acompanharam e até gravaram a confusão no domingo – algumas imagens indicariam ações injustificadas, o que os policiais negam. Parte das vítimas era menor de idade e não morava em Paraisópolis.
Policiais investigados foram os primeiros achegara o local e farão serviço administrativo até o fim da apuração; comandante admite que operação planejada para o baile funk foi suspensa em razão da multidão presente. Protocolo não será alterado, diz governador
O Comando da Polícia Militar afastou do serviço operacional nas ruas seis policiais envolvidos na ocorrência que terminou com nove pessoas mortas por pisoteamento em um baile funk em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Os agentes realizarão serviços administrativos enquanto a investigação conduzida pela Corregedoria e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) esclarece em quais circunstâncias as mortes aconteceram.
Rodrigo Cardoso da Silva, de 31 anos; Antonio Marcos Cruz da Silva, de 45; Vinícius José Nahool Lima, de 35; Thiago Roger de Lima Martins de Oliveira, de 37; Renan Cesar Angelo, de 31; e João Paulo Vecchi Alves Batista, de 36, tiveram as armas apreendidas e encaminhadas para perícia. Eles foram os primeiros agentes a entrar na favela. O advogado Fernando Capano, que assumiu a defesa, informou que “aguarda o acesso aos inquéritos para que possa se pronunciar sobre o assunto”.
O afastamento havia sido pedido à Corregedoria pela Ouvidoria da Polícia. O ouvidor Benedito
Mariano disse que a ocorrência foi “desastrosa”. “A improvisação e a precipitação podem ter contribuído, direta ou indiretamente, para as mortes dessa tragédia.”
Ontem, o governador João Doria (PSDB) saiu em defesa da atuação da PM na madrugada do domingo ao dizer que “a letalidade não foi provocada pela Polícia Militar, e sim por bandidos que invadiram a área onde estava acontecendo o baile funk”. “Não houve ação da polícia em relação a invadir a área onde o baile funk estava ocorrendo. Tanto é fato que o baile funk continuou.”
Doria disse ainda que os protocolos estabelecidos para a atuação da PM no Estado não sofrerão alterações, “o que não nos desobriga de reavaliar e rever pontos específicos de ação, onde falhas possam ter acontecido”. “As ações na comunidade de Paraisópolis, como em outras comunidades do Estado de São Paulo, seja pela desobediência à Lei do Silêncio, seja pela busca e apreensão de drogas, de furto e roubo de automóveis e motocicletas, ou de outros bens, vão continuar na capital, na região metropolitana e no Estado de São Paulo”, ressaltou
o governador. Ele ainda chamou o caso de “incidente triste” e disse transmitir aos parentes dos nove jovens mortos sua “solidariedade”.
O comandante-geral da PM, coronel Marcelo Salles, afirmou que a Polícia Militar havia montado uma operação especial para coibir o baile funk. Segundo ele, havia oito festas diferentes dentro da favela naquela noite, com 5 mil pessoas. Entretanto, a operação teria sido abortada, dado o volume de cidadãos aglomerados nas vielas.
“Nós iríamos ocupar? Iríamos. Só que, às 20 horas, foi feita uma análise de risco e não dava. Já estava tudo tomado naquela localização. Ingressar ali seria um erro. (Seria um erro) dispersar ali. Tanto que esse evento ocorreu às 4 horas.”
Salles afirmou ainda que a opção foi reforçar o policiamento no entorno do baile, sob o argumento de que criminosos se aproveitam da festa, e da multidão. “Há crimes adjacentes. Carros são roubados e levados para dentro do pancadão.”
Força moderada. Anteontem, os seis policiais militares da Força Tática do 16.º Batalhão prestaram depoimento no 89.º DP (Portal do Morumbi). Ao delegado, eles repetiram versões similares. Foram acionados para apoiar uma diligência de averiguação a um veículo modelo Celta de cor preta, mas o carro não foi encontrado. Durante o deslocamento pela Avenida Hebe Camargo, na altura do cruzamento com a Rua Rudolf Lutze, ocupantes de uma moto, ao verem os policiais, efetuaram diversos disparos e adentraram na multidão do baile funk.
Os disparos, contaram os policiais, iniciaram uma confusão generalizada. “As equipes passaram a ser hostilizadas pelos frequentadores do baile funk, que arremessaram garrafas, pedras e madeira na direção dos policiais”, declarou um dos agentes à polícia. Eles, então, tentaram sair do local, mas se depararam com duas viaturas danificadas pelo tumulto. “Desembarcaram para prestar apoio, no entanto havia um grande número de pessoas descontroladas, sendo necessário uso moderado da força, com emprego de cassetete e munição química pelos policiais da Força Tática, do Comando, para dispersar a multidão.”
Esses policiais não relataram ter visto a confusão que levou às mortes. Em relatos nas redes sociais, a moradores e ao Estado, testemunhas afirmam que os PMs cercaram os participantes da festa e apontam truculência. Circulam ainda vídeos de supostas agressões por policiais militares, mas não há confirmação sobre data e local exatos das gravações – como destacaram autoridades ontem.