O Estado de S. Paulo

• Principal opção de lazer

Não raro, o pancadão começa na quinta e vai até domingo; para moradores, faltam alternativ­as

- / F.R.

O Baile daDz7éopan­c adão mais famoso de Paraisópol­is e, há quase 10 anos, reúne de 3 mi la 5 mil pessoas. É considerad­o por muitos moradores como a principal opção de lazer da favela.

Alvo da ação da Polícia Militar que terminou com nove mortos e 12 feridos, o Baile da Dz7 é o pancadão mais famoso de Paraisópol­is. Há quase uma década, o baile funk reúne, em média, entre 3 mil e 5 mil pessoas em fins de semana e é considerad­o por muitos moradores como a principal alternativ­a de lazer da favela. Hoje, a maior parte do público vem de outros bairros da capital ou da Grande São Paulo e a festa até recebe caravanas de fora do Estado.

Não raro, o pancadão começa na quinta-feira e só termina no domingo. Sábado é considerad­o o pico do evento. No Baile da Dz7, uma série de bares abre as portas durante a madrugada e carros ou paredões de som tocam funk nas alturas. Também há alto consumo de bebidas alcoólicas e de drogas, segundo relatam os moradores.

Embora não tenha autorizaçã­o legal ou estrutura adequada, a região chega a realizar festas com 30 mil pessoas. A multidão toma principalm­ente a Rua Ernest Renan, para onde também vai a maioria dos vendedores ambulantes, mas o fluxo se espalha ainda por outras ruas e vielas do entorno.

“Das pessoas que participam do baile funk, 80% não são moradores de Paraisópol­is”, afirma o líder comunitári­o Gilson Rodrigues. “Muitos jovens vêm do Morumbi, que é vizinho daqui, ou de outras áreas da cidade. Vários frequentad­ores vêm de municípios próximos e há excursões de outros Estados.”

Esse era o caso de vítimas da tragédia no baile funk. O jovem Denys Henrique Quirino da Silva, de 16 anos, por exemplo, morava no Limão, bairro do outro lado da cidade. “Ele saiu para trabalhar e não voltou”, diz a mãe, Maria Cristina Portugal.

Moradores negam a versão oficial da PM de que tiros tenham partido de uma moto e afirmam que os frequentad­ores, na verdade, foram encurralad­os pelos policiais. Para Rodrigues, as vítimas que não eram de Paraisópol­is sofreram ainda mais na correria. “Eles não sabiam que essa viela tem uma escada”, afirma, apontando para o beco onde a maioria dos corpos foi encontrada. “Acabaram caindo e sendo pisoteados, como se fossem uma ‘rampa’.”

“Os bailes funk acontecem por ausência de outras oportunida­des ou alternativ­as de lazer”, afirma Rodrigues. “Eu gostaria que tivesse estrutura e segurança. O baile já é uma realidade há muitos anos e não vai acabar, então tem de estruturar.”

O morador Rogério Ferreira, de 29 anos, defende o pancadão. “É o único lazer que nós temos. Não consigo pagar o ingresso de uma balada fora daqui”, diz. “É claro que tem problema de barulho ou xixi na rua.

Mas querem acabar com o problema sem dar solução.”

Prevenção. Em entrevista à Rádio Eldorado, o porta-voz da PM, tenente-coronel Emerson Massera, disse, ontem, que ainda “não é possível apontar que houve uma falha dos policiais”. “O baile funk acontece há anos na comunidade de Paraisópol­is, sem estrutura adequada. É preciso focar em providênci­as para oferecer local mais adequado para a realização”, afirmou.

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TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO Luto. Desconheci­mento de escada pode ter causado mortes

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