O Estado de S. Paulo

Para Moro, 2ª instância pode ser votada agora

Ministro da Justiça diz ser contra acordo para PEC da Câmara, conforme acertaram Maia e Alcolumbre

- BRASÍLIA / BRENO PIRES e D.W.

O ministro Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública, afirmou ser contra deixar para 2020 a discussão sobre a prisão em segunda instância. Esse é o cenário mais provável no momento no Congresso, na medida em que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEMAP), costura acordo com líderes para aguardar a tramitação de uma proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC) na Câmara.

Na primeira manifestaç­ão contrária ao acordo, Moro reafirmou que não é necessária PEC, e sim, projeto de lei, para promover a mudança, por meio da alteração do Código do Processo Penal.

“Eu gostaria de ver isso aprovado o quanto antes. Se for possível aprovar por um projeto de lei neste ano, no Senado ou na Câmara, um tanto melhor. Por que a gente tem de esperar o ano que vem?”, perguntou em Moro, em entrevista à Rádio Jornal do Commercio de Caruaru.

“Mas, se a decisão do Congresso for fazer por uma emenda constituci­onal, que tenha alguns prazos maiores, aí é uma decisão do Congresso. O importante é a sociedade, nós ficarmos vigilantes em relação a essa situação, para que possamos ver isso realizado.”

A tentativa de firmar um acordo para bloquear a tramitação das propostas no Senado foi encampada por Alcolumbre, em reunião com líderes do Congresso na terça-feira da semana passada. Após reação da ala contrária à solução, incluindo a presidente da Comissão de Constituiç­ão e Justiça, Simone Tebet (MDB-MS), Alcolumbre decidiu aguardar a Câmara enviar um cronograma de tramitação da PEC e instalar comissão especial hoje. A expectativ­a é se Maia irá cumprir esse combinado.

Se a PEC da Câmara realmente for priorizada, a tramitação deve ser mais lenta e a aprovação, mais difícil. Uma PEC precisa de 308 votos na Câmara e 49 no Senado em dois turnos para ser aprovada, além de ter de passar por comissões antes do plenário, com até 40 sessões. Levantamen­to feito pelo Estado em novembro mostra que prisão após segunda instância tem maioria no Congresso.

Já um projeto de lei, como querem

Mais propostas na fila

Fracassou ontem a primeira tentativa de agilizar votações da Câmara. A ideia era esvaziar a pauta, mas os deputados aprovaram dois pedidos de urgência, o que aumentou a fila de propostas.

Moro e a bancada “lavajatist­a”, precisa de maioria simples nas duas Casas. Defensores da proposta dizem já ter votos para aprovar o projeto. Reservadam­ente, parlamenta­res avaliam que a estratégia de priorizar a PEC da Câmara leva em conta que os deputados dificilmen­te votarão a proposta em plenário rapidament­e. Ou seja, esperar a Câmara e evitar que o Senado aprove outra proposta deixaria o assunto em “banho-maria”.

Deputados do Centrão argumentam que a PEC da Câmara, ao alcançar mais processos além de acusações penais, é uma discussão mais justa e aplica a segunda instância “para todos”. A proposta tem um efeito ampliado e afetar não só ações na área criminal, mas também antecipar o pagamento de dívidas cobradas na Justiça, aumentando despesas para União, Estados, municípios e empresas.

“Eu sou daqueles que prefiro esperar mais um mês e dar uma solução robusta, estruturad­a que responde à população, que dá estabilida­de para as instituiçõ­es a embarcar numa aventura, para fazer demagogia, sabendo que ela não terá efeito prático nenhum ou que ela pode mudar ali na próxima esquina”, disse o deputado Marcelo Ramos (PL-AM).

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-05/11/2019 Pressa. Moro diz que projeto de lei resolveria discussão

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