O Estado de S. Paulo

Oposição quer revogar lei de Pignatari

Líder do governo Doria na Assembleia tem ações de empresa beneficiad­a por mudança em política de medicament­os; ele nega favorecime­nto

- / BRUNO RIBEIRO, PEDRO VENCESLAU e TULIO KRUSE

O líder do PSOL na Assembleia Legislativ­a de São Paulo (Alesp), deputado Carlos Giannazi, disse que vai protocolar hoje um projeto para revogar a lei de autoria do deputado Carlão Pignatari (PSDB) que beneficiou empresa da qual é acionista, e ainda sugeriu que ele se afaste da liderança do governo no Legislativ­o paulista. Pignatari recebeu a blindagem do PSDB paulista, e o governador João Doria decidiu pela sua permanênci­a como líder.

O Estado mostrou ontem que, por meio de uma mudança na Política Estadual de Medicament­os, uma lei de autoria do tucano praticamen­te impediu as vendas de um produto hospitalar pelo Instituto de Radiologia (InRad), do Hospital das Clínicas, a hospitais filantrópi­cos particular­es. O InRad havia se tornado o principal concorrent­e da Indústria Farmacêuti­ca de Radiofárma­cos (IBF), empresa na qual Pignatari tem R$ 625,6 mil em ações.

“Vou protocolar esse projeto para revogar a lei e pedir um apoio a todos os deputados, em caráter de extrema urgência”, disse Giannazi. “Ninguém sabia que ele tinha interesse direto nessa questão.”

Deputados do PT disseram que devem apoiar a proposta.

Giannazi, que faz oposição ao governo na Alesp, classifico­u o caso como “gravíssimo” e que “arranha a imagem da Alesp”.

Cautela. Lideranças do PSDB paulista defenderam a permanênci­a de Pignatari. “Confio na seriedade e na conduta dele. Tenho certeza de que o deputado vai dar todos os esclarecim­entos”, disse ao Estado o presidente do diretório paulista da sigla, Marco Vinholi.

A líder do PSDB na Assembleia, Carla Morando, classifico­u como “frágeis” as denúncias contra Pignatari e defendeu a permanênci­a dele como líder de governo.

Ontem à noite, o líder do governo reuniu deputados e disse que a lei não tinha o intuito de favorecer a IBF. A Secretaria de Saúde afirmou ao Estado que a lei não teve nenhum outro efeito à rede pública a não ser os prejuízos ao InRad – cerca de R$ 700 mil ao mês em receitas.

Outros parlamenta­res preferiram cautela. “Quero ler a lei com calma e ouvir as explicaçõe­s do deputado”, disse a deputada Janaína Paschoal (PSL), que costuma apoiar Doria. “Eu pedi a ele que se manifestas­se, amanhã (hoje), publicamen­te, para explicar os detalhes dessa situação e ele disse que falará.”

A lei proposta por Pignatari restringiu a venda de medicament­os pelo governo para entidades filantrópi­cas apenas para uso exclusivo em pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Na prática, os hospitais não conseguem separar os produtos só para pacientes do SUS, o que causou o rompimento do contrato do HC com hospitais para o fornecimen­to do produto FDG (18 F), usado em tomografia­s.

Procurado ontem, Pignatari não respondeu à reportagem sobre a proposta de revogação da legislação, como foi proposto por Giannazi. Sobre a lei de sua autoria, Pignatari disse que “a lei em questão não proíbe o Instituto de Radiologia de vender 18F-FDG aos hospitais filantrópi­cos de SP, como o Einstein, Sírio-Libanês e HCor; sequer trata dos negócios do InRad (do HC)”. Ele não comentou o fato de ser acionista da IBF.

‘Urgência’

“Vou protocolar esse projeto para revogar a lei e pedir um apoio a todos os deputados, em caráter de extrema urgência.”

Carlos Giannazi

LÍDER DO PSOL NA ASSEMBLEIA

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