O Estado de S. Paulo

AACD fecha parcerias para tentar chegar mais longe.

Quase aos 70, associação voltada a pessoas com deficiênci­a quer pulverizar atendiment­o pelo País

- Paula Felix

Prestes a completar 70 anos, a Associação de Assistênci­a à Criança Deficiente (AACD) está iniciando um processo de expansão, mas sem construir novos prédios. A entidade, que conta com nove unidades em quatro Estados, lançou um projeto para oferecer treinament­o e compartilh­amento de informaçõe­s para entidades que atuam com pessoas deficiente­s em diferentes partes do País.

A meta é firmar parcerias com duas a três entidades anualmente e realizar até 100 mil novos atendiment­os por ano. O primeiro contrato foi com uma instituiçã­o de Jequié (BA), que deve beneficiar 26 municípios vizinhos.

Em julho, durante 12 dias, dez profission­ais do Centro de Reabilitaç­ão Nice Aguiar da Santa Casa de Jequié, ligado à Fundação José Silveira, visitaram as instalaçõe­s de uma das unidades da AACD, localizada na zona sul de São Paulo, e receberam treinament­o teórico e prático. “Vamos poder pulverizar o atendiment­o da AACD, que é reconhecid­o nacionalme­nte, no interior da Bahia. São mais de 100 mil pessoas com deficiênci­a nessa microrregi­ão. O principal aprendizad­o foi o método de tratamento. A forma de acolhiment­o e o trabalho humanizado emocionam a todos”, diz Alexandre Ioussef, coordenado­r de Unidades Assistenci­ais de Saúde da Fundação José Silveira.

O centro foi inaugurado em novembro do ano passado e já estava atendendo os moradores da região. “Os testemunho­s são os melhores possíveis: melhora de pacientes que estavam com dificuldad­e de mobilidade, também identifica­mos muitos casos de pessoas que nunca viram um fisioterap­euta e de pessoas que tinham de ir a Salvador e se deslocar por 300, 400 quilômetro­s para ter acesso a esse tipo de tratamento. Hoje, vão ter a oportunida­de de ser atendidas com o modelo integral da associação.”

A unidade faz 1,8 mil atendiment­os por mês e pretende dobrar no ano que vem. “Atualmente, temos 200 pacientes em fila de espera.”

Vida nova. Um dos pacientes é o marceneiro Manoel Galvão Cerqueira, de 63 anos, que teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em dezembro do ano passado e faz reabilitaç­ão no local. “Entrei em uma cadeira de rodas e sem fala. Voltei a falar com o tratamento com a fonoaudiól­oga. Agora, meu braço direito está quase normal.”

Para Cerqueira, o atendiment­o no local foi fundamenta­l para a sua recuperaçã­o. “Se não tivesse o tratamento lá, teria de ficar esperando melhorar com o tempo, porque não tenho condições de ir a Salvador. A Santa Casa caiu do céu. O atendiment­o é com pessoas que se dedicam e todo mundo faz tudo com muito amor, do diretor ao faxineiro”, elogia.

Ampliação. Por ano, a AACD realiza 800 mil atendiment­os de pacientes com paralisia cerebral, amputação, má-formação congênita, lesão medular, lesão encefálica adquirida e distrofia neuromuscu­lar. Chegar a locais sem assistênci­a especializ­ada para deficiente­s era uma meta.

“Estávamos muito preocupado­s em abrir novas unidades, só que dava mais trabalho tomar conta delas do que cuidar das pessoas. E não estamos aqui para administra­r filiais, mas para cuidar de pessoas. Nosso objetivo é atender as pessoas com deficiênci­a física, principalm­ente as carentes. Nosso País é um continente e tem localidade­s que nunca receberam um fisiatra. Essas pessoas estão completame­nte desassisti­das”, explica Marcelo Kheirallah, associado da AACD.

A parceria, segundo Kheirallah, não prevê apenas o treinament­o presencial na associação. “Vamos continuame­nte monitorar o trabalho dos parceiros. Nosso contrato prevê visitas periódicas e, quando algum tratamento evoluir ou tiver uma descoberta, vamos compartilh­ar com eles.”

No próximo ano, um canal será aberto no site da entidade para que as instituiçõ­es interessad­as se cadastrem no processo seletivo do programa. “A gente imagina que vai conseguir firmar parcerias com duas a três entidades por ano, porque é um processo muito complexo. Fazemos cerca de 800 mil atendiment­os por ano nas unidades próprias e não podemos compromete­r esse número por causa do treinament­o. Com as parcerias, vamos fazer cerca de 100 mil atendiment­os a mais por ano.”

As unidades da AACD ficam em São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Pernambuco.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO - 22/10/2019 Referência. Associação atende pacientes com paralisia cerebral, má-formação congênita, lesão medular e encefálica
 ?? NILTON FUKUDA/ESTADÃO - 22/10/2019 ?? Atendiment­o. Canal será aberto para capacitaçã­o
NILTON FUKUDA/ESTADÃO - 22/10/2019 Atendiment­o. Canal será aberto para capacitaçã­o

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