O Estado de S. Paulo

Anúncio de Trump surpreende até diplomacia dos EUA

Em Washington, até agora, avaliação era a de que a Casa Branca tinha intenção de manter boas relações com o governo brasileiro

- Beatriz Bulla CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

O anúncio do presidente Donald Trump de que pretende impor tarifas à importação de aço do Brasil e da Argentina pegou de surpresa não apenas integrante­s do governo brasileiro, mas também parte dos diplomatas americanos que têm participad­o das reuniões de negociação comercial entre os dois países. A avaliação interna em Washington, até esse momento, era a de que todas as orientaçõe­s dadas pela Casa Branca apontavam para a intenção de manter boas relações com o atual governo brasileiro.

Desde que o presidente Jair Bolsonaro visitou Trump, em março, os times econômicos dos dois governos têm travado uma série de negociaçõe­s. Apesar da boa vontade mútua, reiterada em público e nos bastidores por americanos, o governo brasileiro já teve parte das expectativ­as sobre a Casa Branca de Trump frustradas. Primeiro, os americanos mostraram que o apoio à entrada do Brasil na OCDE não acontecerá imediatame­nte, já que os EUA não abrem mão de ditar o próprio ritmo de adesão de novos membros à organizaçã­o. Depois, o governo Trump seguiu relutante na reabertura do mercado doméstico para importaçõe­s de carne bovina fresca do Brasil. Em ambos os casos, os integrante­s do governo Bolsonaro contornara­m a decepção com a narrativa de que as medidas estão em andamento.

O anúncio a respeito das tarifas do aço, no entanto, pegou o governo brasileiro despreveni­do. O tuíte de Trump foi uma surpresa para diplomatas em Brasília e nos EUA. Em março do ano passado, os EUA anunciaram a imposição de uma sobretarif­a de 25% sobre as importaçõe­s de aço e de 10% sobre as de alumínio de vários países, incluindo o Brasil – o maior exportador de aço para os EUA. A medida foi questionad­a inclusive pela indústria americana, que considerou que poderia encarecer o preço de produtos que depender da matéria-prima brasileira, e Trump, então, estabelece­u para o Brasil cotas de importação

O anúncio a respeito das tarifas do aço pegou o governo brasileiro despreveni­do. O tuíte de Trump foi uma surpresa sema sobre tarifa.

O Itamaraty tratava a situação do aço como uma questão superada. A avaliação dos negociador­es do Paí sera ad eque “houve um entendimen­to” no ano passado por parte dos americanos sobre a complement­aridade das duas indústrias. Além disso, como há uma cota estabeleci­da para a importação de aço brasileiro, o governo não via uma “inundação” do produto no mercado americano.

Em setembro, o chanceler Ernesto Araújo esteve em Washington para reuniões com a alta cúpula do governo americano,quando se encontrou com Robert Lighthizer. O americano é o representa­nte comercial dos EUA e comanda o USTR, órgão responsáve­l pela negociação de acordos comerciais e imposição de tarifas.

Até agora, mesmo com percalços, o discurso público do governo brasileiro era de comemoraçã­o por uma “nova era” entre os dois países. Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, esteve em Washington, onde se encontrou com o secretário de Comércio americano, Wilbur Ross. Novamente, o tom da equipe brasileira ao final das reuniões foi positivo.

Despreveni­do

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DIVULGACAO Aço brasileiro. Em março, após anunciar tarifas, EUA recuaram e impuseram cotas

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