O Estado de S. Paulo

Municípios podem perder R$ 7 bi com fusões e extinções

Estudo da CNM mostra que proposta vai retirar recursos das cidades que devem ser extintas como das que vão agregá-las

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Estudo da Confederaç­ão Nacional de Municípios (CNM) mostra que a proposta de extinção e fusão de municípios prevista na Proposta de Emenda da Constituiç­ão (PEC) do pacto federativo pode produzir uma perda de arrecadaçã­o de R$ 7 bilhões anuais para os 1.820 envolvidos (tanto os que podem ser extintos quanto os que vão agregá-los).

A despesa somada dos municípios que podem ser extintos com a máquina administra­tiva do Executivo e do Legislativ­o é de R$ 3,94 bilhões, 5% do total de todos os municípios.

Pelas novas regras, em Goiás, a arrecadaçã­o pode cair à metade. É o caso de Uirapuru, Nova América e Guarinos, que devem ser absorvidos por Crixás. Hoje, esses quatro municípios goianos arrecadam R$ 38 milhões de FPM e, depois da fusão, passariam a receber R$ 17 milhões.

Pelo estudo da CNM, obtido pelo Estado, não só os 1.217 municípios que serão extintos perderão receita como também as 702 cidades que os incorporar­ão. Pela proposta, serão extintos os municípios com menos de 5 mil habitantes e arrecadaçã­o própria menor de 10% da sua receita total.

Hoje, a arrecadaçã­o do

FPM dos municípios afetados é de R$ 25,1 bilhões, valor que pode cair para R$ 18,05 bilhões depois da fusão.

“Você acha que, com esse dinheiro a menos, esses municípios vão atender da mesma forma que a população é atendida hoje?”, critica o presidente da CMN, Glademir Aroldi. A entidade faz nesta terça-feira uma grande manifestaç­ão no Senado para entregar o estudo.

Segundo o estudo, os municípios com potencial de extinção são rurais e baseiam a sua economia na agropecuár­ia como fonte principal de riqueza.

A CNM fez uma ampla radiografi­a do impacto dos municípios atingidos e identifico­u que as regras previstas na PEC não funcionam na prática. Um dos problemas é o dispositiv­o que obriga que o município a ser extinto seja incorporad­o ao seu vizinho com maior índice de sustentabi­lidade fiscal, mas ao mesmo tempo determina que nenhuma dessas cidades-mãe possa incorporar mais de três cidades.

Alguns municípios, como Juiz de Fora (Minas Gerais) e Lagoa Vermelha (Rio Grande do Sul), seriam candidatos a incorporar até dez municípios vizinhos cada um, violando o limite máximo de três incorporaç­ões.

A CNM mostra que essa regra não seria atendida em 20% dos casos de fusões, de acordo com as simulações feitas pelo grupo de pesquisado­s escalados pela CMN para estudar o impacto da PEC. O trabalho detectou que 59 municípios incorporad­ores seriam candidatos a incorporar outras 309 cidades. Uma média de 6 em cada fusão, violando a regra.

No estudo, a CMN acusa o governo de propor a medida com base em critérios arbitrário­s e desproposi­tados, sem simular os seus efeitos sobre a repartição do FPM e sem verificar a viabilidad­e técnica das

regras

incluídas na PEC.

Problema. “O governo tenta uma solução simples para um problema complexo”, diz Aroldi . Ele conta que os investimen­tos já estão sendo afetados depois da notícia da mudança. Cita uma cidade que estava há dois anos trabalhand­o pela instalação de um frigorífic­o, que foi suspensa pelo investidor com a proposta do governo, já que seria extinta. Aroldi, porém, não quis dizer o nome da cidade.

Segundo a entidade, a perda de arrecadaçã­o ocorre porque o mecanismo de partilha do FPM se dá atualmente com base em coeficient­e por faixa populacion­al. Os municípios com até 10.188 habitantes, por exemplo, possuem um coeficient­e de 0,6, enquanto os que se situam entre 10.189 e 13.584 possuem um

índice de 0,8. Dessa forma, se dois municípios com menos de 5 mil habitantes se fundirem, terão a soma dos seus coeficient­es reduzida pela metade. Isso porque cada um possui uma cota de 0,6 e, ao se fundirem, permanecer­ão com os mesmos 0,6.

Na prática, a receita perdida por alguns municípios será transferid­a para outros. Ou seja, o FPM perdido pelos 1.820 municípios alvos de fusão será transferid­o para as mãos de 3.676 outras cidades. O maior ganho será obtido pelos municípios de Alvorada, Canoas, Nova Hamburgo e São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Essas cidades terão um aumento de 30% no seu FPM.

Para a CNM, a PEC do pacto federativo erra profundame­nte ao tentar avaliar a sustentabi­lidade fiscal de um município pelo peso de sua arrecadaçã­o própria

por meio de três tributos: IPTU, ISS e ITBI. Para a entidade, a proposta desconside­ra que a dependênci­a dos governos municipais em relação às transferên­cias da União e dos Estados é decorrente do modelo atual que reserva aos municípios o direito de tributar apenas imóveis urbanos e serviços. Com isso, segundo a confederaç­ão, municípios rurais e dependente­s do agronegóci­o possuem baixa capacidade de arrecadar impostos, independen­temente do nível de eficiência de seus gestores.

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Estudo. Aroldi, da CMN, faz ato hoje no Senado
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NA WEB Lista. Cidades que podem ser anexadas estadao.com.br/e/municipios

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