O Estado de S. Paulo

SoftBank reduzirá ritmo de aportes no Brasil em 2020

Após liderar 10 rodadas de investimen­tos em startups em 2019, grupo japonês fará cheques maiores e em menos empresas, diz executivo

- Bruno Capelas Giovanna Wolf

Depois de fazer dez aportes em startups brasileira­s ao longo de 2019, o grupo japonês SoftBank seguirá investindo no País ao longo de 2020, mas em ritmo mais lento. Segundo André Maciel, líder da operação brasileira da empresa, o fundo latino do conglomera­do fará menos investimen­tos no ano que vem, mas trará cheques maiores a quem decidir apoiar.

Segundo o executivo, já foram realizados 19 investimen­tos pelo fundo latino do SoftBank, mas apenas 14 deles foram revelados no mercado. “Aportamos entre R$ 6 bi e R$ 10 bi até agora”, disse Maciel em evento realizado pela empresa ontem, em São Paulo. É apenas uma fração dos US$ 5 bi que a empresa destinou para seu fundo latino, revelado ao mercado em março.

Segundo o executivo, há recursos destinados para novos aportes em startups que já fazem parte do portfólio do fundo (prática conhecida como followon no mercado). “É o melhor tipo de investimen­to, porque normalment­e significa que as empresas já têm modelo provado e só precisam de mais capital”, afirmou. De acordo com Maciel, o SoftBank já analisou mais de 300 empresas no mercado latino. Destas, 15 chegaram a uma análise mais profunda (due dilligence, no jargão do mercado), mas não chegaram a fechar um acordo com o grupo japonês.

Durante o evento, Maciel admitiu que “já realizamos nossos aportes mais óbvios, mas não fizemos ainda nossos maiores cheques.” “Ainda não sabemos como será o portfólio, porque temos cinco anos para investir. Esperamos mortalidad­e de algumas empresas, o que é natural, mas vamos manter o ritmo de investimen­tos”, afirmou.

Segundo ele, a empresa costuma entrar com até um terço das rodadas em que participa, realizando cheques entre US$ 7 mi e US$ 350 mi para as startups. A maior rodada da qual o SoftBank participou foi a de US$ 1 bilhão na startup colombiana Rappi, realizada em abril deste ano. Além dela, o grupo já investiu nas brasileira­s Loggi, Creditas, QuintoAnda­r, Gympass,

Buser, Olist, Vtex, MadeiraMad­eira, Volanty e Banco Inter, bem como nas mexicanas Clippy e Konfío e na fintech argentina Ualá.

Dificuldad­es. Se na América Latina o clima do SoftBank é de otimismo, com investimen­tos nas startups da região, o mesmo não se pode dizer do que acontece no mundo – recentemen­te, o grupo japonês teve de desempenha­r US$ 10 bilhões para socorrer a operação do WeWork, que entrou numa crise após seu prospecto de abertura de capital não ser aceito pelo mercado.

Líder do fundo latino do SoftBank, Marcelo Claure teve de assumir a presidênci­a do conselho da startup de escritório­s compartilh­ados após a crise. “Ele tem um monte de trabalho, passa três ou quatro dias em Nova York só nisso”, disse Maciel. Mas o líder brasileiro do SoftBank não vê a empresa desanimand­o após o tropeço. “O We Work é um dos maiores desafios que nós temos atualmente, houve erros e lições a serem aprendidas. Mas na média, o empreended­or vai sempre contra as normas.”

De acordo com o executivo, outro desafio que a companhia precisa superar é a falta de desenvolve­dores e programado­res experiente­s no Brasil. “Conseguimo­s encontrar profission­ais iniciantes, mas falta quem suporte a construção de arquitetur­a de tecnologia de uma empresa”, comentou Maciel. Também presente no evento, o presidente executivo da Gympass no Brasil, Leandro Caldeira, concordou: “criamos nosso hub de inteligênc­ia artificial em Nova York por conta disso”.

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FELIPE RAU/ESTADÃO À caça. SoftBank, de Maciel, avaliou mais de 300 startups
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