O Estado de S. Paulo

Inpe diz que óleo tem origem no mar da África

Nova hipótese refuta a tese de vazamento por navio em área mais próxima da costa brasileira; contaminaç­ão já atingiu 129 municípios

- André Borges / BRASÍLIA

Estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que o óleo que já atingiu 942 pontos do litoral brasileiro teve como origem o mar da África. O derramamen­to teria começado em abril. Anteriorme­nte, a principal tese envolvia um vazamento de navio perto da costa.

Estudos realizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que a origem do derramamen­to de petróleo no litoral brasileiro estaria a milhares de quilômetro­s da costa do País. Mais precisamen­te as avaliações indicam que o óleo teria se deslocado da região sul do mar da África, em abril, até chegar à costa brasileira, em setembro.

Essa hipótese refuta completame­nte a linha mais recente de investigaç­ões divulgadas pela Marinha e pela Polícia Federal, que apontaram, como principal suspeito pela tragédia, o navio Bouboulina, da empresa grega Delta Tankers. No início de novembro, o Ministério da Defesa, a Marinha e a PF declararam que, por meio de geointelig­ência, haviam identifica­do uma imagem de satélite do dia 29 de julho relacionad­a a uma mancha de óleo a 733,2 quilômetro­s da costa brasileira, na região leste do Estado da Paraíba. De um dia para o outro, essa mancha teria aparecido, na região por onde o navio passava.

A Delta Tankers negou qualquer tipo de incidente com a embarcação e se prontifico­u a auxiliar nas investigaç­ões. Nesta semana, a Marinha evitou falar sobre o assunto em audiência na CPI do Óleo, instalada na Câmara dos Deputados.

A nova hipótese de que o local de origem seria o mar na região sul da África é detalhada por Ronald Buss de Souza, pesquisado­r do Inpe que atua no Grupo de Acompanham­ento e Avaliação (GAA) da crise do óleo. Oceanógraf­o, Souza é chefe de gabinete e diretor substituto do Inpe. Segundo o especialis­ta, modelos estatístic­os que levam em consideraç­ão situações tecnicamen­te reconhecid­as sobre as correntes marítimas, vento e ondas indicam que o óleo, que efetivamen­te chegou ao litoral de forma submersa, teria como origem a região sul da África. O pesquisado­r, no entanto, não detalhou se seria um acidente com embarcaçõe­s ou um vazamento.

Fim. O Inpe considera ainda que, apesar de não terem surgido novas manchas no litoral brasileiro, há o risco de que parte do óleo ainda possa estar estocada no fundo do mar, presa a sedimentos. “A gente tem uma hipótese principal de que esse derrame aconteceu a partir de abril deste ano, e as manchas só chegaram ao País, em subsuperfí­cie, de maneira difícil de ser detectada através de imagem de satélite, em setembro”, comentou Ronald Buss de Souza, que participou da reunião da CPI do Óleo, na quarta-feira.

A Marinha tem reafirmado que o óleo seria uma mistura de petróleo com origem em poços da Venezuela. Passados mais de cem dias desde a primeira ocorrência do derramamen­to no litoral da Paraíba, em 30 de agosto, uma faixa de 3,6 mil quilômetro­s do litoral já foi atingida pelo óleo. São 942 localidade­s de 129 municípios nas Regiões Nordeste e Sudeste. O levantamen­to das ações feitas por Marinha, Ibama e demais órgãos que atuam na retirada do petróleo cru aponta que 5 mil toneladas de óleo já foram coletadas.

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE: INPE
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TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO – 25/10/2019 Limpeza. Ao menos 5 mil toneladas de óleo foram coletadas em 942 localidade­s litorâneas

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