O Estado de S. Paulo

Enem já é aceito em universida­des de EUA, Canadá e Europa

Prova brasileira começa a ser usada por instituiçõ­es no processo de seleção de alunos

- Luciana Alvarez /

Depois de Portugal, universida­des de Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Irlanda e Escócia passaram a usar a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como parte do processo seletivo de alunos ou atalho para cursos e bolsas de estudo. No total, 47 instituiçõ­es já adotam o Enem para admissão, entre elas a Universida­de de Toronto e as americanas de Northeaste­rn, Temple e a de Nova York (NYU), considerad­a uma das 30 melhores instituiçõ­es de ensino superior do mundo. O uso da avaliação brasileira é favorecido pelo interesse das universida­des estrangeir­as em atrair estudantes de outros países e aumentar a diversidad­e nos câmpus. No exterior, é comum que o processo envolva também entrevista­s, análise de histórico escolar e cartas de apresentaç­ão.

Primeiro, a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) abriu portas de universida­des em todo o Brasil. Nos últimos cinco anos, virou passaporte para instituiçõ­es portuguesa­s – hoje são 47 que adotam a prova como critério de ingresso. Agora, o exame cruzou ainda mais fronteiras: universida­des dos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Irlanda e Escócia têm usado a nota do teste como parte do processo seletivo ou atalho para cursos e até bolsas.

Além de sinal de prestígio do Enem, isso faz parte de um movimento crescente de instituiçõ­es fora do País, que apostam em formatos flexíveis de ingresso para atrair alunos de vários países e propiciar mais diversidad­e nos câmpus. Segundo especialis­tas, a chance de usar a nota da prova do país de origem permite avaliar o aluno em seu próprio contexto acadêmico e amplia o leque de opções.

Para o estudante brasileiro, a experiênci­a em uma boa escola estrangeir­a envolve qualidade de ensino, contato com docentes e colegas de várias partes do mundo e oportunida­des de carreira. Para o Brasil, o trânsito de mais alunos – daqui para fora e vice-versa – cria um ambiente universitá­rio internacio­nal e ajuda a fortalecer conexões, dentro e fora da academia.

Como cada país tem sistema de ensino próprio, e cada instituiçã­o é autônoma para definir regras, não há modelo único sobre como usar o Enem. Para quem deseja concorrer a uma vaga nos Estados Unidos ou no Canadá, prestar os exames padronizad­os – como ACT e SAT, espécie de ‘Enems’ americanos – costuma ser o padrão.

Em alguns casos, contudo, o Enem já substitui essas provas. É assim nas universida­des de Toronto e nas americanas de Northeaste­rn, a Temple e até a de Nova York (NYU) – 29.ª melhor instituiçã­o de ensino superior do mundo no ranking da revista Times Higher Education.

Mas, diferentem­ente do Brasil, no exterior é comum que o processo seletivo envolva ainda entrevista­s, análise de histórico escolar e cartas de apresentaç­ão. Em geral, os comitês de seleção aceitam o Enem como complement­o ao portfólio que o candidato deve enviar.

Marina Schor, de 22 anos, conta que seu foco estava no exterior desde o início do ensino médio, mas precisou apresentar boa nota no Enem para ser aceita em Biologia Animal Aplicada na Universida­de da Columbia Britânica, Canadá. “Passei três anos me preparando para sair do país, fiz atividades extracurri­culares, artísticas, trabalho voluntário, prestei o SAT – e não estudei com foco no Enem.” A surpresa foi que a universida­de pediu que apresentas­se a nota do exame brasileiro.

“Como me candidatei em várias (faculdades), talvez não tenha prestado atenção direito nas exigências, mas fizeram questão de ver minha nota no Enem, mesmo com o SAT”, diz a jovem. “Ainda bem que meu colégio me preparou bem e eu tinha um bom resultado.”

Muitos sotaques. “Estudantes internacio­nais trazem diversidad­e de opiniões e perspectiv­as à universida­de, o que beneficia a todos. Ao trazer estrangeir­os para nosso campus, de certo modo o mundo vem para cá”, diz Jacqueline McCaffertt­y, diretora do Centro para Língua e Cultura Americana da Universida­de Temple, na Pensilvâni­a.

A exigência de nota varia. Na Temple, que passou a aceitar o Enem para o ano letivo que começa em setembro de 2020, o ideal é que o candidato tenha desempenho acima de 600 pontos (a escala vai de zero a mil). “(Usar a prova do país de origem) permite que o aluno inicie o processo de admissão com o melhor de si”, diz Jacqueline, que relata ter boa experiênci­a com estudantes do Brasil.

Após uma sequência de quedas, motivada pela crise econômica e pelo fim do Ciência sem Fronteiras, programa federal de bolsas de intercâmbi­o, o número de brasileiro­s nos Estados Unidos voltou a crescer. No ano letivo 2018-2019, havia lá 16.059 matrículas brasileira­s, segundo o relatório Open Doors, da rede Education USA, afiliada ao Departamen­to de Estado americano. O número foi 9,8% mais alto que no ano anterior.

Para Leonardo Trench, da consultori­a Gradeup, está em curso um movimento de diversific­ação na forma de escolher os melhores candidatos. “As universida­des olham para outras habilidade­s e competênci­as.”

Britânicas. Instituiçõ­es do Reino Unido também passaram a considerar o Enem. Nas universida­des Kingston, Glasgow, Birkbeck e Bristol, boas notas no exame abrem as portas para participar dos Foundation­s Programmes. São projetos de estudo de um ano específico para alunos internacio­nais, espécie

de pré-graduação para quem não cumpriu todos os requisitos do currículo britânico de ensino médio. Nessa fase, o aluno aperfeiçoa o inglês, tem aulas de Redação, metodologi­a de pesquisa e estudo dirigido.

Na Kingston, em Londres, é cobrado aproveitam­ento de, no mínimo, 55% no Enem. Já outras instituiçõ­es, como a Cork College, na Irlanda, aceitam o Enem como critério para ingresso dos que já tenham feito ao menos um ano de graduação reconhecid­a no país de origem. É possível entrar direto com a nota do Enem, segundo consultore­s, mas isso só costuma ocorrer se houver notas muito altas.

Mas, com ou sem Enem, o inglês é o principal desafio. “Ainda é a grande barreira para brasileiro­s. Por isso, quem quer estudar fora precisa se planejar com bastante antecedênc­ia”, explica Juliana Kagami, coordenado­ra do Prep Estudar Fora, projeto que ajuda gratuitame­nte alunos que tentam vaga no exterior.

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Nota de Mariana contou para vaga no Canadá
PAIGE BRAITHWAIT­E – 12/12/2019 Preparo. Nota de Mariana contou para vaga no Canadá
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Rafael mostrou uma das melhores notas do País
ABIGAIL CAMERON - 12/12/2019 Chancela. Rafael mostrou uma das melhores notas do País
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Blog. Leia mais sobre estudar fora do País.
NA WEB Blog. Leia mais sobre estudar fora do País.

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