O Estado de S. Paulo

Balbúrdia cultural

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Há um ano, aconteceu em Foz do Iguaçu a 1ª Cúpula Conservado­ra das Américas, promovida na esteira da vitória de Jair Bolsonaro e que reuniu os principais expoentes do conservado­rismo brasileiro e do continente. Ali os irmãos Weintraub fizeram uma palestra em dupla em que ensinavam como vencer o marxismo cultural nas universida­des.

O caminho, ensinavam, era ser mais engraçado que o comunista. “O comunista te xinga de fascista, racista, e você fica se defendendo. Quando um comunista ou um socialista te xinga você xinga de volta, como ensinou o professor Olavo”, palestrava Arthur. Abraham emendava: “Como a gente ganha? Não sendo chato. A gente tem de ser mais engraçado que os comunistas. Como você ganha a juventude? Com humor e inteligênc­ia”.

Foi assim, com um esquete pseudohumo­rístico, que os irmãos Weintraub foram abrindo espaço no bolsolavis­mo. Abraham e Arthur haviam se aproximado de Bolsonaro por intermédio do então deputado Onyx Lorenzoni. Naquele evento seminal, os dois propunham “aplicar a teoria do Olavo de Carvalho para lidar com o marxismo cultural”. Viriam a ocupar assessoria­s no Planalto e o primeiro, meses depois, substituir­ia Ricardo Vélez Rodriguez no Ministério da Educação.

Ele levou a própria palestra ao pé da letra. Estrelou paródias musicais, distribuiu chocolates em lives, tirou a camisa para mostrar uma cicatriz que explicaria seu fraco desempenho acadêmico, xingou muito no Twitter e levou a guerrilha ideológica à condição de política educaciona­l. O MEC, uma das pastas mais importante­s da Esplanada, assiste, desde janeiro, a uma paralisia já constatada em dados por meio de um relatório de uma comissão especial da Câmara.

O Brasil perdeu o ano na Educação em 2019. E agora, de recuperaçã­o, assiste à fritura do ministro, vejam só, pelos próprios olavetes. Provavelme­nte os irmãos Weintraub não contavam com essa ao traçar sua estratégia de sobrevivên­cia ao comunismo.

O fogo amigo se tornou público no fim de semana. Pupilos do autoprocla­mado filósofo passaram a fritar o ministro nas redes sociais. Ele foi chamado de “Weintroubl­e”, um trocadilho de seu nome com a palavra em inglês que significa “problema”, por uma página da internet ligada ao assessor presidenci­al Filipe G. Martins.

A origem da artilharia explica por que Jair Bolsonaro não praticou um de seus esportes favoritos, desmentir a imprensa, no noticiário que aponta que o ministro está pela bola sete.

A nota triste é que Weintraub não está para cair por conta da balbúrdia – para usar uma palavra que ele próprio notabilizo­u ao se referir ao que, segundo ele, ocorre nas universida­des federais – na pasta, mas porque o aparelhame­nto do MEC não foi total e irrestrito, como desejam os olavetes.

O estopim para queimar seu filme com os seguidores do guru foi o anúncio de extinção da TV Escola, mantida pela pasta, que acabara de fechar acordo para a exibição de uma série documental (sic) do projeto Brasil Paralelo sobre História do Brasil, contada segundo Olavo e outros expoentes do conservado­rismo.

Não é só no MEC que a sanha de dominação olavista galopa neste fim do primeiro ano de Bolsonaro. A Cultura está completame­nte aparelhada por pessoas que exibem como currículo o fanatismo ao guru e uma série de teorias tão toscas quanto a dos irmãos Weintraub.

Ao apostar na balbúrdia cultural, Bolsonaro mostra que, nesta área como em outras, aplica no governo, com sinal trocado, aquilo que condenava no PT antes de eleito. Com uma agravante: nos governos petistas o revanchism­o, a perseguiçã­o aos inimigos, a censura das visões contrárias e o direcionam­ento de recursos públicos para propaganda ideológica nunca atingiram os níveis vistos agora.

Áreas da Educação e Cultura no governo Bolsonaro viram palco de guerrilha olavista

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