O Estado de S. Paulo

Brexit dá impulso ao nacionalis­mo escocês

Defensores da independên­cia da Escócia acreditam que eleição britânica oferece janela para um novo plebiscito

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Se a consequênc­ia mais importante das eleições no Reino Unido é a ruptura da União Europeia, a segunda mais importante é que o próprio Reino Unido talvez não sobreviva ao Brexit.

O grande avanço do Partido Nacional Escocês (SNP) – que aumentou sua bancada de 35 para 48 deputados, de um total de 59 possíveis –, combinado com o crescente abismo entre a política inglesa e a escocesa, significa que as bases para outro plebiscito sobre a independên­cia da Escócia saíram muito fortalecid­as.

Para o restante do Reino Unido, a eleição foi sobre o Brexit. Mas, para o SNP, como toda a política, foi sobre a independên­cia escocesa. Desde o plebiscito de 2014, em que o separatism­o foi derrotado, o SNP vem defendendo uma nova votação.

O novo plebiscito estimulou o movimento pró-independên­cia e o SNP obteve uma vitória esmagadora nas eleições de 2015, embora tenham recuado um pouco em 2017. O resultado da eleição de quinta-feira reforça seu argumento.

O mesmo acontece com a divisão cada vez mais acentuada entre a política escocesa e a do restante do país. O Partido Trabalhist­a, que costumava considerar a Escócia como um feudo, ficou reduzido a um único deputado escocês. Os conservado­res, que avançaram na Escócia em 2017, retroceder­am desta vez. Jo Swinson, a líder dos liberal-democratas, perdeu o cargo.

Coloque tudo isso junto e os partidos que defendem a união entre Escócia e Inglaterra estão agora quase invisíveis ao norte da fronteira. Embora o SNP seja governo há 12 anos, e apesar da desilusão natural que aflige os partidos que governam há tanto tempo, os nacionalis­tas escoceses tiveram outro desempenho notável nas eleições de quinta-feira.

Mas a eleição foi complicada – muito mais no norte do que no sul da fronteira. A Escócia votou para permanecer na UE (62% a 38%) e o SNP prometeu ao eleitor que votar neles seria a melhor maneira de evitar o Brexit. Isso parece ter conseguido convencer muita gente a deixar de lado suas dúvidas sobre o SNP.

No entanto, embora a opinião pública pareça ter caminhado levemente em direção à independên­cia – que foi de 55% a 45%, em 2014, para cerca de 50% a 50% agora –, a Escócia permanece fortemente dividida sobre o assunto. Portanto, a grande questão para os escoceses é se o resultado da eleição é a consequênc­ia de uma votação tática para evitar o Brexit ou se representa uma mudança na opinião pública escocesa sobre seu futuro relacionam­ento com o restante do Reino Unido.

O SNP aposta na última alternativ­a e argumenta que outro plebiscito sobre independên­cia precisa ser realizado porque os fatos nos quais as pessoas votaram em 2014 mudaram. No último plebiscito sobre a independên­cia, um dos argumentos da campanha foi que, se a Escócia deixasse o Reino Unido, enfrentari­a a incerteza de permanecer na UE.

Agora, os escoceses sabem que, ficando no Reino Unido, enfrentarã­o a incerteza que o Brexit trará. Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia e líder do SNP, disse que solicitará uma permissão para outro plebiscito logo após a eleição.

Mas, por mais razoável que pareça esse argumento, o caminho para outra votação não é claro. Não cabe ao governo escocês decidir. Apenas Londres tem esse direito. E Boris Johnson já disse que não quer um plebiscito, com o argumento de que “o povo britânico e o povo da Escócia foram informados, em 2014, que o plebiscito era “um evento único” para esta geração.

No entanto, as coisas podem mudar na próxima eleição escocesa, em 2021. Alister Jack, o secretário de Estado escocês, disse, no mês passado, que “o mandato democrátic­o para uma nova votação é uma questão para ser resolvida em 2021”. Como ele foi um dos poucos conservado­res que conseguira­m se eleger deputado na Escócia, sua opinião pode ter algum peso.

Partidos que defendem a união entre Escócia e Inglaterra estão agora quase invisíveis ao norte da fronteira

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