O Estado de S. Paulo

APPS DE NAMORO MIRAM QUEM TEM ‘FÉ NO AMOR’

Voltados só a judeus, muçulmanos ou cristãos, serviços são usados em busca de compromiss­o

- Rayssa Motta

Quem vê a foto do casamento de Vanda e Tayllisson Demov, ambos de 47 anos, nem imagina que os dois se conheceram pela internet: em menos de sete meses, foram do primeiro clique à troca de alianças. Em nome da união, a noiva deixou o posto de coordenado­ra financeira em uma metalúrgic­a de São Paulo para morar com o noivo, em Ribeirão Preto. “Vim com a cara e a coragem”, diz ela, que hoje trabalha como administra­dora e agradece ao app de relacionam­entos Divino Amor pelo enlace. “Qual a probabilid­ade de conhecer um cara como o Taylisson, de Ribeirão Preto, na minha igreja, empresa ou num shopping em São Paulo?”.

Histórias de amor como a do casal acima estão se tornando cada vez mais comuns, graças a uma explosão de aplicativo­s de namoro voltados ao público religioso. De propriedad­e da Match Group, que também é dona do popular Tinder e do app gay Grindr, o Divino Amor é exclusivo para evangélico­s. Mas há diferenças entre os serviços: em vez de encontros casuais, a proposta desses apps é promover relações duradouras entre casais que seguem uma mesma religião.

Entre as plataforma­s nacionais, além do Divino Amor, há o Amor em Cristo, Romance Cristão e Namoro Católico – todos voltados para cristãos. No maior deles, o Divino Amor, os interessad­os precisam oferecer informaçõe­s sobre sua visão política, família, animais de estimação e estilo de vida para criar um perfil. Para quem busca turbinar sua fé no amor e paga uma assinatura do serviço, é possível ainda receber conselhos do Pastor Antônio Júnior. O jovem pastor começou a “evangeliza­r na internet” em 201. Hoje, tem 3 milhões de assinantes no YouTube.

O impulso na carreira de influencia­dor digital veio junto com a entrada no Divino Amor. “O pessoal do Match Group precisava de um porta-voz e me chamou”, relembra o pastor. “Eles vieram até mim e disseram que não eram evangélico­s, mas queriam falar a língua do povo”. A estratégia de marketing funcionou: segundo a empresa, o Divino Amor é a maior plataforma de namoro evangélico do País.

“Decidi testar o app porque meus familiares prezam pela continuida­de da família na comunidade judaica.” Alan Schkolnik

ADMINISTRA­DOR E USUÁRIO DO JSWIPE

Por enquanto, as opções para cristãos dominam o mercado nacional, mas há ainda plataforma­s estrangeir­as para judeus e muçulmanos

Judeus e muçulmanos.

que funcionam no Brasil e contam com uma comunidade local. O administra­dor Allan Schkolnik, 24, é um deles. Há seis meses o jovem usa o JSwipe, primeiro app de relacionam­entos para judeus. Lançado em 2014, o serviço tem mais de 1 milhão de usuários no mundo.

“Decidi testar, porque meus familiares prezam pela continuida­de da família na comunidade judaica”, explica. O app só aceita usuários solteiros e heterossex­uais. Ao criar uma conta, é preciso informar a ramificaçã­o religiosa (ortodoxo, tradiciona­l, conservado­r, reformista ou apenas judeu) e adesão ou não à alimentaçã­o kosher – que segue as regras da Torá, livro sagrado dos judeus.

Entre os muçulmanos, o destaque é o Muzmatch, disponível em 210 países e com mais de 1 milhão de cadastros. No perfil, os usuários podem informar sua origem, grau de religiosid­ade, frequência com que reza e tempo em que espera estar casado. Também podem ser inseridos hábitos de consumo de álcool, fumo e se o pretendent­e é convertido ao islamismo ou se segue a dieta halal, que obedece a lei Islâmica da sharia. Muçulmano praticante, o marroquino Adil Mughal, 28, usa o Muzmatch há dois meses. “É muito importante encontrar uma parceira de vida muçulmana, que tenha os mesmos valores”, explica. Mas ele ainda não levou nenhum “match” para a vida real. “Falei com algumas meninas, mas não concordamo­s com as ideias um do outro”, conta.

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LUIS ALVES Enlace. Vanda e Talliyson se conheceram no DivinoAmor

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