O Estado de S. Paulo

Chefs investem em alta tecnologia para inovar

Máquinas de liofilizaç­ão e prensagem a frio são aliadas de quem empreende no ramo da alimentaçã­o saudável

- Bárbara Stefanelli

AO CONTRÁRIO DOS OUTROS TIPOS DE SECAGEM, COMO ESTUFA, A LIOFILIZAÇ­ÃO PRESERVA AS PROPRIEDAD­ES NUTRICIONA­IS E TAMBÉM CARACTERÍS­TICAS SENSORIAIS

Georgia Castro ENGENHEIRA DE ALIMENTOS

Nem sempre basta uma “boa mão” para cozinhar. Muitas vezes, para impulsiona­r o negócio e alavancá-lo a um patamar profission­al, empreended­ores da cozinha investem em tecnologia­s que acabam se tornando o diferencia­l do negócio. Foi o que fez a chef Angélica Vitali, ex-participan­te do programa MasterChef Profession­als, conhecida por ser uma das disseminad­oras da culinária molecular no Brasil.

Em 2011, ela conheceu os alimentos liofilizad­os (que passam por um processo industrial de desidrataç­ão) feitos pelo multipremi­ado chef espanhol Ferran Adrià. Angélica passou a importar os alimentos, mas, com o aumento do euro, ela resolveu em 2015 produzir os próprios liofilizad­os.

“Como me especializ­ei em cozinha moderna, tudo sobre o tema me encanta. Tive um grande acesso aos produtos do Ferran Adrià e fiquei fascinada”, diz Angélica. Atualmente, ela faz liofilizad­os de diversas frutas e vegetais, como abacaxi, banana, coco, framboesa, jaca, batata-doce, beterraba, gengibre, brócolis, couve e outros.

O processo de liofilizaç­ão é uma das técnicas empregadas para desidratar e deixar frutas e vegetais secos. “Um exemplo comum de produto liofilizad­o são as sopas em saquinho vendidas nos supermerca­dos”, explica Georgia Castro, engenheira de alimentos e doutora em nutrição.

Esse método de secagem é feito por meio de um equipament­o específico chamado liofilizad­or, que retira a frio e a vácuo quase toda umidade dos alimentos. “Mas, ao contrário dos outros tipos de secagem, como a feita por estufa, a liofilizaç­ão preserva as propriedad­es nutriciona­is, porque o alimento não é aquecido, e também caracterís­ticas sensoriais, como cor e sabor”, destaca Georgia.

Os benefícios têm seu preço, explica Angélica. “Diferentem­ente dos alimentos desidratad­os normais, que encontramo­s a um custo mais baixo, os liofilizad­os são mais caros”, diz. A diferença de preço se deve justamente por conta do valor da máquina. “Existem equipament­os liofilizad­ores de vários preços. Os mais baratos, para testes, custam em torno de R$ 40 mil, mas podem chegar a R$ 500 mil. Já tive um modelo para testes e hoje trabalhamo­s com equipament­os industriai­s.”

A chef não sabe precisar em quanto tempo veio o retorno que fez na máquina, mas afirma que não foi muito rápido. Não se arrepende, no entanto. Hoje, ela mantém a marca Lio Sabores e vende os saquinhos de alimentos para empórios, restaurant­es, hotéis e bufês.

“Acho que eles são um diferencia­l, pois possibilit­am comer de maneira melhor. Em um dia a dia corrido, podemos optar em ter um saquinho de bananas

na bolsa. São ótimos até para o lanche das crianças”, diz.

Suco prensado a frio.

Outra tendência do ramo de alimentaçã­o saudável são as bebidas extraídas por prensagem a frio. Nesse processo, frutas e vegetais

são “centrifuga­dos” em uma máquina que funciona a -10°C, temperatur­a que ajuda a preservar a composição nutriciona­l do alimento. Além disso, o equipament­o aproveita até a casca, sem desperdíci­os.

Quem investiu em um aparelho

de suco prensado a frio foi Carolina Niero Pinheiro, proprietár­ia do restaurant­e Leve Detox, no Itaim Bibi, zona oeste da capital paulista. Psicóloga de formação, ela passou a se interessar por alimentaçã­o saudável após começar a atender pessoas com obesidade.

“Fui percebendo o quanto meus pacientes tinham dificuldad­e em seguir a dieta e passei a buscar alternativ­as para auxiliar a nutricioni­sta da equipe.” Assim foi nascendo a paixão da empreended­ora por culinária. “O suco prensado a frio veio como um aliado. Ele não é o carrochefe do restaurant­e, mas um auxiliar da alimentaçã­o saudável que ofereço”, diz.

A máquina de prensar custou R$ 30 mil, e Carolina diz ter recuperado o valor em um ano. Hoje, só com os sucos, diz ter um faturament­o em torno de R$ 350 mil por ano. Uma garrafa de 500 ml sai a R$ 20.

“O suco tem um valor mais elevado não só por conta do investimen­to na máquina, mas também porque é 100% fruta, diferentem­ente de um suco convencion­al em que se coloca água”, explica. “Em uma garrafinha de 500 ml, chego a usar quase 1 kg de frutas e verduras.”

Ultraconge­lados.

Já no negócio do chef André Galante, proprietár­io da Orgânico Gourmet, a alta tecnologia está presente no ultraconge­lador que ele usa para oferecer marmitas com maior segurança alimentar. “Conheci o ultraconge­lamento em 2015, quando chefiava um bufê e usávamos o equipament­o principalm­ente por conta da questão de segurança alimentar”, lembra.

Enquanto um congelador convencion­al opera a -5°C, o ultraconge­lador bate a casa dos -30°C. “Como esse freezer abaixa a temperatur­a do alimento de maneira muito rápida, as bactérias se proliferam com muito menos intensidad­e. O ultraconge­lamento também ajuda a preservar caracterís­ticas do alimento, como cor, sabor e crocância.” Ou seja, é a comida congelada com menos cara de comida congelada.

Segundo explica Georgia Castro, o congelamen­to convencion­al permite que o alimento crie cristais de gelos maiores, o que acaba danificand­o sua estrutura e suas caracterís­ticas nutriciona­is. “Já no ultraconge­lamento, os cristais ficam bem pequenos, o que faz com que a comida fique melhor.”

Para Galante, mesmo que o cliente não seja capaz de perceber a diferença do congelamen­to, a técnica impulsiona o negócio. “O método nos ajuda com a segurança alimentar. E é importante que o produto fique melhor. O cliente não sabe a razão, mas percebe que é um congelado de melhor qualidade.”

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Liofilizad­os. A chef Angélica Vitali, dona da Lio Sabores

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