O Estado de S. Paulo

Prefeitura da capital vai mudar gestão.

Haverá novo chamamento para organizaçõ­es sociais interessad­as em gerir o teatro; fundação deve ser extinta

- João Luiz Sampaio ESPECIAL PARA O ESTADO

A Secretaria Municipal de Cultura vai efetuar trocas na gestão do Teatro Municipal de São Paulo em 2020. Será realizado um chamamento para organizaçõ­es sociais interessad­as em gerir o teatro, interrompe­ndo o contrato atual com o Instituto Odeon, que duraria a princípio até 2022. Além disso, com a extinção da Fundação Teatro Municipal, prevista em projeto de lei enviado à Câmara Municipal pelo prefeito Bruno Covas, as escolas municipais de bailado e de música serão separadas do teatro e passarão, assim como a Praça das Artes, a ter gestão própria.

“O modelo atual não para em pé”, diz a secretária adjunta de

Cultura da Prefeitura, Regina Silvia Pacheco. Hoje, o Teatro Municipal é gerido por meio do Marco Regulatóri­o das Organizaçõ­es da Sociedade Civil (Mrosc), com o Instituto Odeon firmando contrato de gestão com a fundação, que por sua vez fica responsáve­l por administra­r a escolas e a Praça das Artes. “O problema é que Mrosc, escolhido pela última gestão na Secretaria de Cultura, não dá conta da complexida­de do contrato, que envolve quase R$ 500 milhões, daí a mudança para o modelo de OSs.”

A Fundação Teatro Municipal atualmente analisa as contas do Instituto Odeon, que foram questionad­as ainda pela gestão do secretário André Sturm, que propôs o rompimento do contrato com a entidade em 2018. O secretário Alê Youssef, por sua vez, decidiu manter o contrato e iniciar uma análise das prestações de contas referentes a 2017 e 2018. O prazo para análise se encerrou no dia 18 de dezembro e a direção da Fundação Teatro Municipal deve divulgar sua decisão após o recesso de fim de ano.

Segundo a secretária, no entanto, o novo chamamento será realizado independen­temente do resultado da análise das contas – e, se elas forem aprovadas, o próprio Odeon poderá concorrer ao novo chamamento. Também poderão concorrer organizaçõ­es sociais cadastrada­s pelo governo do Estado.

O edital de chamamento de uma nova gestora será colocado em consulta pública em janeiro e o novo contrato será ainda feito com a fundação. No caso de sua extinção, que ainda depende da aprovação do projeto de lei pela Câmara e de sua implementa­ção, o contrato passaria para a Secretaria Municipal de Cultura.

O novo modelo foi informado pela Prefeitura aos artistas do Municipal em reunião no final da semana passada. E algumas incertezas entre membros das orquestras e corais do teatro, os chamados corpos estáveis, como mostra documento preparado pelos artistas sobre a reunião, obtido pelo Estado.A lei que criou a Fundação Teatro Municipal em 2011 previa, dizem os músicos, a existência dos corpos estáveis (como a Orquestra Sinfônica Municipal e o Coro Lírico Municipal) e a finalidade do teatro como espaço dedicado à ópera, à música clássica e ao balé.

No limite, o temor dos artistas é o de que, com o fim da fundação, exista uma inseguranç­a jurídica que permita que uma nova gestão mude o foco do teatro, deixando de realizar concertos e óperas e, portanto, acabando com orquestras e corais.

Questionad­a sobre o tema, a secretária afirma que o texto da lei da fundação não define a ópera e a música clássica como “finalidade­s” do Municipal, mas diz que é um dos objetivos promover esses gêneros. Com relação aos corpos estáveis, Silvia

Pacheco diz que os corpos estáveis não aparecem como obrigatóri­os, mas, sim, como patrimônio­s do teatro. Assim, acredita, não haveria mudança na situação jurídica.

“E os corpos estáveis estarão presentes em qualquer contrato de gestão, com o recurso para sua manutenção previsto. O que não dá, como sugeriram alguns músicos, é para contratálo­s todos como funcionári­os da Secretaria Municipal de Cultura, uma vez que são todos contratado­s atualmente por meio de CLT.”

No modelo de OSs, é estabeleci­do um contrato entre a Prefeitura e a entidade, com deveres e direitos de ambos os lados. Para defensores do modelo, há porém a necessidad­e de autonomia para a OS, ou seja, que a partir das metas dadas pela Prefeitura, ela possa escolher a melhor maneira de realizá-las.

Na gestão anterior, uma crítica corrente dizia respeito à imposição de nomes por parte da secretaria. Silvia Pacheco diz que essa “é uma questão sensível”. Segundo ela, a OS deve ter autonomia. “Mas um cargo como o de diretor artístico, por exemplo, fundamenta­l para uma política pública de cultura, deve ser escolhido em conjunto. Isso terá de ser definido no chamamento. De qualquer forma, quando a nova OS for escolhida, nossa orientação é para que todos os cargos sejam colocados à disposição.”

 ?? TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO ?? Vista do Teatro Municipal de São Paulo. As escolas municipais de bailado e de música devem ser separadas do teatro e passar, assim como a Praça das Artes, a ter gestão própria
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Vista do Teatro Municipal de São Paulo. As escolas municipais de bailado e de música devem ser separadas do teatro e passar, assim como a Praça das Artes, a ter gestão própria

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