Com vagas no comércio, desemprego recua a 11,2%
Segundo o IBGE, taxa de desemprego caiu de 11,6% para 11,2%, melhor resultado desde maio de 2016, mas contingente de desempregados ainda chega a 11,8 mi; para economistas, reação do PIB vai acelerar criação de vagas com carteira assinada no próximo ano
Ajudada pela contratação no comércio, a taxa de desemprego recuou de 11,6% para 11,2% no trimestre encerrado em novembro, a menor desde 2016. Segundo o IBGE, foram abertos 378 mil postos, elevando a 94,4 milhões o total de empregados. Os desempregados são 11,8 milhões. Economistas acreditam que a reação da economia vai acelerar a criação de vagas formais em 2020.
A taxa de desemprego recuou de 11,6% para 11,2% no trimestre encerrado em novembro, ajudada pelas contratações de empregados temporários no comércio para o período de fim de ano. Foi o melhor resultado desde maio de 2016 (também 11,2%), de acordo com os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Pelos dados do IBGE, foram abertos 378 mil novos postos com carteira assinada no setor privado no trimestre encerrado em novembro, elevando para 94,416 milhões o total de pessoas trabalhando no País.
Ainda assim, o número de desempregados se manteve elevado – 11,863 milhões de pessoas –, enquanto a taxa de informalidade atingiu 41,1% no trimestre até novembro. Com isso, o País soma um recorde de 38,833 milhões de brasileiros em funções sem carteira assinada nem qualquer outro tipo de registro.
Os números do IBGE reforçaram a avaliação de que o mercado formal de trabalho está em rota de recuperação – ainda que de forma lenta – e levou alguns analistas a projetar melhora mais acentuada a partir de 2020, levando em conta a perspectiva de um PIB mais elevado. A consultoria Tendências, que espera crescimento de 2,1% para o PIB no ano que vem, acredita que 1,8 milhão de pessoas devem conseguir um trabalho, metade das quais com carteira de trabalho assinada.
“A economia está acelerando e as empresas estão em um processo mais adiantado de ajuste financeiro. Então, com uma demanda mais aquecida no consumo, a expectativa é que o emprego formal apresente sinais mais claros de melhora”, afirmou o economista Thiago Xavier, que analisa os indicadores de mercado de trabalho na Tendências.
Se esse ritmo for mantido, é possível que a taxa de desemprego volte a um dígito ainda em 2021, acredita o economista Helcio Takeda, da consultoria Pezco Economics. Antes da divulgação do IBGE, a expectativa do economista era de um retorno a esse patamar apenas em 2023. “Não devemos ter uma taxa média em um nível tão baixo, mas acho que para o final do ano (de 2021) podemos ter algum dado nesse sentido, se essa recuperação se confirmar”, disse ele.
Para o economista-chefe da corretora Necton Investimentos, André Perfeito, o mais provável é que isso aconteça apenas em 2022, conforme prevê a própria equipe econômica do governo. O emprego é apenas mais um indicador de uma economia que tem dado sinais de melhora, disse Perfeito.
O economista Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), também vê chance de melhora mais acentuada no mercado de trabalho. Mas considera que isso só deve ocorrer a partir da segunda metade do próximo ano. “O emprego formal responde mais à atividade econômica e a aceleração da economia será mais forte no segundo semestre, o que vai impulsionar as vagas com carteira assinada nesse período”, disse o pesquisador. Ele estima que 2020 terá mais 728 mil empregos formais.
Surpresa. O resultado em novembro surpreendeu os analistas do mercado financeiro, porque a desocupação veio abaixo mesmo das previsões mais otimistas. Segundo levantamento do Estadão/Broadcast, economistas estimavam uma taxa de desemprego entre 11,3% e 11,5%, com mediana de 11,4%.
Na comparação com o trimestre encerrado em novembro de 2018, foram criadas 516 mil vagas formais no setor privado. Apesar da reação na geração de vagas formais, o mercado de trabalho ainda não tem uma mudança estrutural, na avaliação de Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE. “A informalidade ainda tem participação importante”, disse ela.
Segundo a pesquisadora do
IBGE, é preciso esperar pelo fechamento do ano para saber se o mercado de trabalho terminará 2019 melhor do que em 2018. “Muita coisa foi antecipada para novembro.” Adriana acrescenta que, até as leituras mais recentes, a Pnad Contínua não mostrava uma mudança qualitativa do mercado de trabalho, apenas quantitativa. Houve aumento no número de pessoas trabalhando, mas ainda muito calcado na informalidade.
“O que aconteceu de diferente agora foi a alta da carteira. A gente não sabe se isso vai permanecer ou se é só uma coisa pontual, ligada à contratação de temporários. Os grandes varejistas quando contratam, mesmo que temporariamente, é através da carteira.”
‘Sinais de melhora’
“Com uma demanda mais aquecida no consumo, a expectativa é que o emprego formal apresente sinais mais claros de melhora.”
Thiago Xavier
ECONOMISTA DA TENDÊNCIAS