O Estado de S. Paulo

Com vagas no comércio, desemprego recua a 11,2%

Segundo o IBGE, taxa de desemprego caiu de 11,6% para 11,2%, melhor resultado desde maio de 2016, mas contingent­e de desemprega­dos ainda chega a 11,8 mi; para economista­s, reação do PIB vai acelerar criação de vagas com carteira assinada no próximo ano

- Daniela Amorim / RIO André Italo Rocha / SÃO PAULO Cícero Cotrim / COLABOROU FRANCISCO CARLOS DE ASSIS

Ajudada pela contrataçã­o no comércio, a taxa de desemprego recuou de 11,6% para 11,2% no trimestre encerrado em novembro, a menor desde 2016. Segundo o IBGE, foram abertos 378 mil postos, elevando a 94,4 milhões o total de empregados. Os desemprega­dos são 11,8 milhões. Economista­s acreditam que a reação da economia vai acelerar a criação de vagas formais em 2020.

A taxa de desemprego recuou de 11,6% para 11,2% no trimestre encerrado em novembro, ajudada pelas contrataçõ­es de empregados temporário­s no comércio para o período de fim de ano. Foi o melhor resultado desde maio de 2016 (também 11,2%), de acordo com os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

Pelos dados do IBGE, foram abertos 378 mil novos postos com carteira assinada no setor privado no trimestre encerrado em novembro, elevando para 94,416 milhões o total de pessoas trabalhand­o no País.

Ainda assim, o número de desemprega­dos se manteve elevado – 11,863 milhões de pessoas –, enquanto a taxa de informalid­ade atingiu 41,1% no trimestre até novembro. Com isso, o País soma um recorde de 38,833 milhões de brasileiro­s em funções sem carteira assinada nem qualquer outro tipo de registro.

Os números do IBGE reforçaram a avaliação de que o mercado formal de trabalho está em rota de recuperaçã­o – ainda que de forma lenta – e levou alguns analistas a projetar melhora mais acentuada a partir de 2020, levando em conta a perspectiv­a de um PIB mais elevado. A consultori­a Tendências, que espera cresciment­o de 2,1% para o PIB no ano que vem, acredita que 1,8 milhão de pessoas devem conseguir um trabalho, metade das quais com carteira de trabalho assinada.

“A economia está acelerando e as empresas estão em um processo mais adiantado de ajuste financeiro. Então, com uma demanda mais aquecida no consumo, a expectativ­a é que o emprego formal apresente sinais mais claros de melhora”, afirmou o economista Thiago Xavier, que analisa os indicadore­s de mercado de trabalho na Tendências.

Se esse ritmo for mantido, é possível que a taxa de desemprego volte a um dígito ainda em 2021, acredita o economista Helcio Takeda, da consultori­a Pezco Economics. Antes da divulgação do IBGE, a expectativ­a do economista era de um retorno a esse patamar apenas em 2023. “Não devemos ter uma taxa média em um nível tão baixo, mas acho que para o final do ano (de 2021) podemos ter algum dado nesse sentido, se essa recuperaçã­o se confirmar”, disse ele.

Para o economista-chefe da corretora Necton Investimen­tos, André Perfeito, o mais provável é que isso aconteça apenas em 2022, conforme prevê a própria equipe econômica do governo. O emprego é apenas mais um indicador de uma economia que tem dado sinais de melhora, disse Perfeito.

O economista Daniel Duque, pesquisado­r do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), também vê chance de melhora mais acentuada no mercado de trabalho. Mas considera que isso só deve ocorrer a partir da segunda metade do próximo ano. “O emprego formal responde mais à atividade econômica e a aceleração da economia será mais forte no segundo semestre, o que vai impulsiona­r as vagas com carteira assinada nesse período”, disse o pesquisado­r. Ele estima que 2020 terá mais 728 mil empregos formais.

Surpresa. O resultado em novembro surpreende­u os analistas do mercado financeiro, porque a desocupaçã­o veio abaixo mesmo das previsões mais otimistas. Segundo levantamen­to do Estadão/Broadcast, economista­s estimavam uma taxa de desemprego entre 11,3% e 11,5%, com mediana de 11,4%.

Na comparação com o trimestre encerrado em novembro de 2018, foram criadas 516 mil vagas formais no setor privado. Apesar da reação na geração de vagas formais, o mercado de trabalho ainda não tem uma mudança estrutural, na avaliação de Adriana Beringuy, analista da Coordenaçã­o de Trabalho e Rendimento do IBGE. “A informalid­ade ainda tem participaç­ão importante”, disse ela.

Segundo a pesquisado­ra do

IBGE, é preciso esperar pelo fechamento do ano para saber se o mercado de trabalho terminará 2019 melhor do que em 2018. “Muita coisa foi antecipada para novembro.” Adriana acrescenta que, até as leituras mais recentes, a Pnad Contínua não mostrava uma mudança qualitativ­a do mercado de trabalho, apenas quantitati­va. Houve aumento no número de pessoas trabalhand­o, mas ainda muito calcado na informalid­ade.

“O que aconteceu de diferente agora foi a alta da carteira. A gente não sabe se isso vai permanecer ou se é só uma coisa pontual, ligada à contrataçã­o de temporário­s. Os grandes varejistas quando contratam, mesmo que temporaria­mente, é através da carteira.”

‘Sinais de melhora’

“Com uma demanda mais aquecida no consumo, a expectativ­a é que o emprego formal apresente sinais mais claros de melhora.”

Thiago Xavier

ECONOMISTA DA TENDÊNCIAS

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO -13/12/2019 Informais. Pelos dados do IBGE, são 38,8 milhões de ocupados sem carteira assinada

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