O Estado de S. Paulo

Reajuste para polícia do DF vira projeto de lei

Alertado por auxiliares, Bolsonaro desiste de MP e inclui aumento em projeto de lei

- Camila Turtelli / BRASÍLIA

O presidente Jair Bolsonaro desistiu de dar aumento às Polícias Civil e Militar do Distrito Federal por meio de medida provisória. Como revelou o Estado, a área econômica alertou o presidente de que a concessão de reajustes de 8% a 25% para essas categorias, ao custo de R$ 505 milhões ao ano, poderia violar leis orçamentár­ias e a Constituiç­ão.

O governo federal é responsáve­l pelo pagamento de policiais do Distrito Federal. Ou seja, os contribuin­tes de todo o País bancam a segurança brasiliens­e.

Na véspera do Natal, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), anunciou que Bolsonaro havia assinado uma MP concedendo os reajustes. Uma MP tem força de lei a partir da publicação, embora precise ser aprovada pelo Congresso em até 120 dias para continuar valendo.

Ontem, Bolsonaro explicou que, para não ser punido pela Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF), só poderia dar aumento de 1,5% para as categorias, pois há apenas R$ 96,7 milhões do Orçamento deste ano para compromete­r. Mas, segundo ele, esse valor seria considerad­o um “acinte”. Por isso, decidiu enviar projeto ao Congresso para que o aumento seja aprovado em fevereiro, retroativo a janeiro.

Pela proposta, policiais civis teriam reajuste de 8% em 2020 Para militares, o aumento seria de 25% e as remuneraçõ­es iriam para até R$ 9 mil.

As secretaria­s de Gestão de Pessoal e de Orçamento Federal

do Ministério da Economia emitiram pareceres contrários à medida. Técnicos citam que a proposta esbarra em disposiçõe­s constituci­onais. O artigo 169 da Constituiç­ão diz que um aumento só poderá ser concedido se houver “prévia dotação orçamentár­ia”, o que não é o caso.

Congelados. As áreas também alertaram que as demais categorias de servidores estão com salários congelados por falta de espaço no Orçamento e que até o salário mínimo de todos os trabalhado­res deve ser reajustado apenas pela inflação diante da necessidad­e de conter despesas. O piso nacional é o valor de 67% dos benefícios (aposentado­rias e pensões) do INSS.

A Associação da Auditoria de Controle Externo do Tribunal de Contas da União e a Associação Contas Abertas repudiaram o aumento por considerá-lo “flagrante afronta” às regras constituci­onais. Pelo cálculo das associaçõe­s, ao todo a União gastará neste ano mais de R$ 15,4 bilhões com despesa de pessoal do Ministério Público e Tribunal de Justiça do DF e da segurança pública, “privilégio fiscal que nenhum outro Estado recebe”.

“O aumento é ilegal, inoportuno, injusto e incoerente. Ilegal porque fere a Lei de Responsabi­lidade Fiscal e a Constituiç­ão, visto que não há previsão para o aumento no Orçamento de 2020. Inoportuno pois o déficit fiscal previsto para o próximo ano é de R$ 124,1 bilhões. Injusto porque policiais do DF já têm salários maiores que os da maioria dos servidores nas mesmas funções em outros Estados. Incoerente porque o governo acaba de enviar proposta admitindo a redução de até 25% no salário e jornada de servidores federais”, criticou Gil Castello Branco, secretário-geral do Contas Abertas.

Injusto

“Policiais do DF já têm salários maiores que os da maioria dos servidores nas mesmas funções em outros Estados.”

Gil Catello Branco

SECRETÁRIO DO CONTAS ABERTAS

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO Mudança. Bolsonaro espera que projeto de reajuste a policiais seja aprovado em fevereiro

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