O Estado de S. Paulo

Valor do DPVAT cai e carros vão pagar R$ 5,23

Com expectativ­a de atingir no ano que vem o auge da inadimplên­cia, programa vai oferecer menos financiame­ntos a partir de 2021; haverá exigência de nota mínima de 400 na Redação do Enem para firmar contratos. Faculdades particular­es criticam medida

- Isabela Palhares

Após ser extinto e recriado em oito dias, o seguro por danos pessoais causados por veículos automotore­s, o DPVAT, custará R$ 5,23 para carros – 68% menos que neste ano. Motociclis­tas pagarão R$ 12,30. O seguro é cobrado em cota única junto com o IPVA.

Com expectativ­a de ter em 2020 o recorde de inadimplên­cia do Fundo de Financiame­nto Estudantil (Fies), o Ministério da Educação (MEC) mudou regras do programa para poder cobrar na Justiça cerca de 584 mil estudantes com prestações atrasadas há mais de um ano. Resolução publicada ontem no Diário Oficial da União libera a cobrança judicial desses contratos, firmados até o 2.º semestre de 2017, que somam rombo de R$12 bilhões. Hoje, a cobrança da dívida só é feita no âmbito administra­tivo.

O programa federal financia parte do valor de cursos em faculdades privadas por juros mais baixos do que os de mercado e o aluno começa a pagar a dívida 18 meses após a formatura. O Fies foi uma das principais fontes de receita do ensino superior particular nesta década.

O balanço de contratos com potencial de cobrança na Justiça consta em nota técnica do Fundo Nacional de Desenvolvi­mento da Educação (FNDE), órgão do MEC responsáve­l pelo Fies, de 18 de dezembro.

A inadimplên­cia no programa bate recordes desde 2015. No 1.º semestre deste ano, 59% dos contratos em amortizaçã­o (quando se inicia a cobrança do financiame­nto) tinham atraso – 47% atrasados em mais de 90 dias, quando se passa a considerar o aluno inadimplen­te. Projeções do MEC indicam que o recorde da dívida deve ocorrer em 2020, quando começa o prazo de pagamento de quem conseguiu o Fies em 2014 – auge do programa, com mais de 700 mil novos contratos – para cursos mais caros e longos, como Engenharia­s e Medicina.

Entre as alterações para novos contratos está a exigência de o aluno ter nota mínima de 400 pontos na Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Antes, só se exigia não zerar a Redação, além de média 450 na parte objetiva (Português, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas) da prova, o que foi mantido. Segundo o MEC, as novas regras “privilegia­m a meritocrac­ia”.

Empresário­s de faculdades privadas e especialis­tas defendem novos mecanismos de cobrança, mas também que se busque renegociar dívidas. Criticam ainda regras que tornam mais difíceis o acesso ao financiame­nto. O Estado apurou que empresário­s do setor temem que o MEC use a alta inadimplên­cia como justificat­iva para “desidratar” o Fies, com regras que o tornem inviável. Já economista­s têm apontado a necessidad­e de tornar o Fies sustentáve­l, de modo a pesar menos nas contas públicas.

A resolução prevê ainda reduzir para a metade o total de vagas

oferecidas em 2019 – são previstos 54 mil financiame­ntos por ano a partir de 2021. O acesso ao Fies está mais difícil desde 2015 e boa parte das vagas fica ociosa por causa da mudança de regras – como a eliminação do financiame­nto 100% e a exigência de nota mínima no Enem.

Reações. “O aluno de família de baixa renda não consegue alcançar essa nota e fica fora do programa. E é esse jovem que também não consegue entrar em uma universida­de pública”, afirma Sólon Caldas, da Associação Brasileira de Mantenedor­as do Ensino Superior (Abmes).

Rodrigo Capelato, do Sindicato das Entidades Mantenedor­as do Ensino Superior (Semesp), diz que o País estava bem economicam­ente e houve incentivo para que o jovem recorresse ao programa. “Mas, quando ele se formou, o Brasil estava em crise, sem emprego.”

Criado em 1999, o Fies teve explosão de contratos em 2010, quando os juros caíram de 6,5% para 3,4% ao ano, abaixo da inflação. Além disso, a exigência de fiador foi relaxada e o prazo de quitação, alongado. Muitas faculdades passaram a incentivar alunos já matriculad­os a não pagar a mensalidad­e, mas a entrar no Fies, transferin­do o risco de inadimplên­cia para o governo.

Fernanda Teixeira, de 28 anos, firmou o contrato do Fies em 2014, no pico do programa, para estudar Letras. Formada em 2017, nunca conseguiu trabalhar na área em que se graduou nem pagou nenhuma parcela, de R$ 21 mil. “Eu não teria conseguido fazer faculdade sem Fies, mas, se soubesse que estaria nesta situação, não faria a dívida. Sou a única da família com ensino superior, mas meu nome está sujo e não consigo trabalhar na área que gostaria. É muito frustrante”, conta ela.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Opção. Juliana Carvalho, de 24 anos, preferiu esperar ter dinheiro para a faculdade de Fotografia do que recorrer ao Fies

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