O Estado de S. Paulo

Moro questiona ‘rodízio’ de magistrado­s: ‘É um mistério’

- Breno Pires / BRASÍLIA

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, reforçou a insatisfaç­ão com a aprovação do juiz de garantias ao publicar ontem em sua conta pessoal no Twitter novo questionam­ento à inovação incluída por deputados no pacote anticrime, que apresentou em fevereiro à Câmara e foi convertido em lei na quarta-feira.

“Leio na lei de criação do juiz de garantias que, nas comarcas com um juiz apenas, 40 por cento do total, será feito um ‘rodízio de magistrado­s’ para resolver a necessidad­e de outro juiz. Para mim é um mistério o que esse ‘rodízio’ significa. Tenho dúvidas se alguém sabe a resposta”, escreveu o ministro, que passa férias no Canadá.

O desconfort­o do ex-juiz federal que conduziu os inquéritos e julgou réus da Operação Lava Jato durante quatro anos já havia sido evidenciad­o em outras duas postagens dele no Twitter no dia do Natal, quando o presidente Jair Bolsonaro sancionou o projeto de lei aprovado pelas duas casas legislativ­as. “Sempre me posicionei contra algumas inserções feitas pela Câmara no texto originário, como o juiz de garantias”, disse.

Aliados notaram que Moro não costuma retrucar as posições do presidente da República e que isso só aconteceu porque ficou realmente insatisfei­to após Bolsonaro não ter vetado o juiz de garantias.

Um interlocut­or de Moro comentou, em caráter reservado, que Bolsonaro foi o “Grinch” – personagem fictício conhecido no cinema por estragar o Natal. Moro só voltará ao trabalho no dia 13 de janeiro.

Pela nova lei, um juiz de garantias deverá conduzir a parte da investigaç­ão, decidindo sobre medidas como busca e apreensão, quebra de sigilo e prisões preventiva­s, e outro juiz passará a atuar após o recebiment­o da denúncia. A intenção dos parlamenta­res foi garantir imparciali­dade do julgador. Deputados comemorara­m a aprovação da medida como sendo “anti-Moro”.

Na consulta pública do Conselho Nacional de Justiça serão ouvidos tribunais, associaçõe­s de magistrado­s, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Defensoria Pública da União (DPU).

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GABRIELA BILO / ESTADÃO-10/12/2019 Contrariad­o. Moro defendia veto ao juiz de garantias

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