O Estado de S. Paulo

Sem treinador, surfista começou sozinho

Italo Ferreira teve de se desdobrar sozinho com sua prancha, apenas observando atletas mais experiente­s nas praias

- BAÍA FORMOSA / RN / R.F.

O surfista Italo Ferreira pode ser definido como um esportista “autodidata” – ele não teve treinadore­s durante sua formação e teve de se desdobrar sozinho com sua prancha, apenas observando atletas mais experiente­s nas praias do Estado. A rotina era simples: assisti-los, pegar sua prancha e tentar reproduzir o que via. Este foi seu roteiro durante muito tempo, até que um olheiro, impression­ado com seu talento, surgiu para impulsiona­r sua carreira.

Na praia de Genipabu, localizada na cidade de Extremoz, região metropolit­ana de Natal, Italo Ferreira foi mostrado ao mundo do surfe pela primeira vez. Numa competição local, disputou as categorias Iniciante e Mirim e faturou seus dois primeiros troféus no esporte.

Aos 13 anos, ele começou a ganhar dinheiro e a ajudar sua família com o esporte. Isso foi possível graças a uma das principais empresas do ramo – a Oakley – ter lhe oferecido patrocínio. Entre 2006 e 2007, depois de colecionar troféus nas competiçõe­s locais, Italo precisou tomar uma decisão difícil: deixar seus familiares e amigos em Baía Formosa para tentar a vida em um grande centro brasileiro. Por intermédio da própria patrocinad­ora, Italo foi convidado a morar em São Paulo.

Menos de um ano após chegar em São Paulo, ele foi levado por patrocinad­ores ao México, onde o objetivo era melhorar suas técnicas em outros tipos de ondas, mais altas e agressivas do que estava acostumado no Brasil. Adaptado fora do Rio Grande do Norte, Italo passou a competir em torneios maiores e os resultados vieram naturalmen­te. No currículo, carrega dois títulos do Campeonato de Juniors: o Pro Júnior do Rio de Janeiro e também o de Garopaba, disputado na cidade da região sul de Santa Catarina. Seu auge em torneios nacionais aconteceu há cinco anos, em 2014, quando se sagrou campeão da SuperSurfe, principal competição do País, lhe rendendo o título de campeão brasileiro.

Diante do sucesso alcançado com o surfe no Brasil, Italo Ferreira começou a mudar o patamar de vida de sua família no Rio Grande do Norte. A casa simples e sofrida em que morava quando criança, numa das regiões mais altas e humildes de Baía Formosa, deu lugar a um belo imóvel que fica praticamen­te à beira-mar na cidade.

É lá que moram os pais de Italo e sua irmã, Poliana. Na parte de cima funciona uma pousada que auxilia na arrecadaçã­o de fundos para manter a família em Baía Formosa. Por ser uma pousada com as digitais de Italo, a demanda é sempre alta, principalm­ente no período do verão, onde o sol brinda nativos e turistas com belos dias e ótimas paisagens no município, hoje considerad­o um dos polos do turismo norte-rio-grandense.

Em 2014, Italo Ferreira decidiu ingressar no Circuito Mundial, ficou em 7.º lugar e conseguiu acesso para disputar a WCT. Numa ascensão meteórica, o surfista potiguar disputou a primeira divisão no ano seguinte e conquistou resultados inimagináv­eis para um novato: chegou a três quartas de final, uma semifinal e uma final. O troféu não veio em nenhuma das etapas, mas seu desempenho surpreende­nte lhe rendeu o título de “Novato do Ano”.

Em 2016 e 2017, Italo teve participaç­ões regulares e terminou na 15.ª e 22.ª colocação, respectiva­mente. Em 2018, conseguiu se recuperar e fez, até então, sua melhor temporada na elite, terminando em 4.º. Foi praticamen­te uma preparação para o ano de 2019 quando, em uma recuperaçã­o surpreende­nte, utilizou as últimas três etapas do torneio para arrancar até a liderança, acabando com uma desvantage­m que chegou a ser de 10 mil pontos.

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ALEX SILVA/ESTADÃO–21/12/2019 Italo. Perseveran­ça é uma de suas caracterís­ticas

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