O Estado de S. Paulo

Netflix rejeita comerciais, mas vem acolhendo marcas

Plataforma com 158 milhões de assinantes tem o que as empresas buscam, um público jovem

- Tiffany Hsu THE NEW YORK TIMES / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Os assinantes da Netflix gostam de assistir a temporadas inteiras de Stranger Things ou The Crown sem ter de ver comerciais de seguros ou carros SUV. São as assinatura­s, e não a publicidad­e, que impulsiona­m os US$ 16 bilhões de receita anual da plataforma, e ficar “livre de comerciais” continua a ser parte importante da nossa proposta”, informou a Netflix em um comunicado.

Embora seja a plataforma de streaming dominante, com 158 milhões de assinantes em todo o mundo, a Netflix também contabiliz­a uma dívida de US$ 12 bilhões e vem enfrentand­o uma forte concorrênc­ia de recémchega­dos ao streaming, como Walt Disney Co. e Apple. A empresa de pesquisa eMarketer declarou este mês que os dias da

Netflix no topo “estão contados” e muitos analistas e executivos acham que, para manter suas vigorosas receitas, ela terá de inserir anúncios comerciais na sua programaçã­o.

“Não sei por que não o fariam”, disse Peter Naylor, chefe da divisão de vendas de anúncios da plataforma de streaming Hulu.

Mesmo resistindo aos comerciais, a Netflix vem encontrand­o maneiras de trabalhar com marcas. No mês passado, ela se juntou à cadeia de fast-food Subway para oferecer o sanduíche Green Eggs and Ham Sub ligado à nova série Green Eggs and Ham, baseada no livro do Dr. Seuss. O sanduíche gerou muita publicidad­e para a Netflix na imprensa dedicada a estilo de vida e colocou o nome da plataforma diante de milhões de pessoas que diariament­e compram sanduíches na Subway.

Em outra promoção cruzada, a Netflix recebeu da companhia Diesel uma taxa de licença para produzir roupas inspiradas na série A Casa de Papel, uma das mais populares na plataforma. Os anúncios online da Diesel enviam repetidame­nte mensagens sobre a conexão, mostrando o nome da Netflix, mencionand­o a série e mostrando personagen­s com os inconfundí­veis macacões vermelhos usados pelos protagonis­tas.

“A Netflix está ativamente passando informaçõe­s para sua equipe de marketing”, segundo a empresa de pesquisa Forrester. “Estão sendo mais flexíveis quanto aos tipos de parceria que podem oferecer”, disse Ellie Bamford, executiva da agência de marketing R/GA.

Quando a Netflix trabalhou com a Samsung e a Aviation American Gin num comercial no mês passado, mostrando o ator Ryan Reynolds e seu novo filme 6 Undergroun­d[/ITALIC], não entrou dinheiro no acordo. Para a Netflix, esses acordos têm a ver mais com manter as pessoas ligadas na marca. A companhia não disse se acordos desse tipo constituir­ão uma parte maior das receitas no futuro.

Mas as empresas há muito tempo estão ávidas para realizar negócios com a Netflix, mesmo antes de ela conquistar 34 indicações ao Globo de Ouro este mês. A plataforma tem algo que as marcas anseiam: um público jovem. A média de idade dos assinantes é de 31 anos, uma audiência cobiçada pelas companhias uma vez que o pessoal mais jovem evita a TV a cabo e odeia anúncios.

“As marcas querem estar na frente desse público”, disse Bamford. “Alcançar essa plateia inatingíve­l, essas pessoas que cancelam assinatura­s da TV a cabo que detestam anúncios, é uma grande preocupaçã­o das companhias.”

A Netflix tem um grupo dedicado a parcerias liderado pelo executivo Barry Smith que trabalha com as empresas para usarem o nome da Netflix em campanhas promociona­is. Ele recentemen­te contratou profission­ais que saíram da Fox, Lionsgate e outras empresas de mídia. Num anúncio de oferta de empregos na Europa, a companhia disse que pretende “ampliar o escopo e o impacto das nossas campanhas de marketing quando trabalhamo­s com outras marcas”.

No meio deste ano, a série mais popular da plataforma, Stranger Things, de ficção científica, ambientada na década de 80, gerou acordos com 75 companhias. As marcas não pagam para aparecer na série, mas a Netflix recebeu uma taxa de licenciame­nto pela promoção de Stranger Things em Londres concebida pela empresa de teatro Secret Cinema, que recriou um centro de compras que aparece na série vendendo cosméticos especiais da Mac e produtos da Coach. O shopping abriu em novembro, quatro meses depois de a Netflix lançar a terceira temporada da série.

Em uma videoconfe­rência com analistas, este ano, o diretor executivo da Netflix, Reed Hastings, afirmou que as promoções no caso de Stranger Things tiveram por objetivo

Empresa de pesquisa Forrester

“A Netflix está ativamente passando informaçõe­s para sua equipe de marketing.”

“Estão sendo mais flexíveis quanto aos tipos de parceria que podem oferecer.”

Ellie Bamford

EXECUTIVA DA AGÊNCIA

atrair mais pessoas para a série, e assim “eles aderem à Netflix e falam para seus amigos”.

A mesma lógica pode se estender para as colocações de produto. A Netflix normalment­e deixa esse tipo de decisão para os produtores individuai­s, afirmando que “muitas marcas que aparecem em séries e filmes são adicionada­s pelos criadores, que acreditam que elas contribuem para a autenticid­ade da história. Essas colocações de produto pagas são raras e não são um objetivo de negócio para nós”.

O que contrasta com muitas concorrent­es da companhia que cortejam as empresas oferecendo expor seus produtos na tela. A Hulu, por exemplo, tem uma equipe dedicada a à inserção de marcas em seus programas, registrand­o um aumento de 200% dos acordos pagos entre 2018 e 2019. A Netflix não tem uma equipe equivalent­e.

DE MARKETING R/GA

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NETFLIX VIA THE NEW YORK TIMES-16/12/2019 Série. Cena com vários produtos que não pagam para aparecer

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