O Estado de S. Paulo

Mais trabalho, menos ideologia

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Alição que o Ministério da Infraestru­tura dá às demais pastas é que o trabalho deve se sobrepor às narrativas, que os critérios técnicos prevaleçam sobre os ideológico­s.

Dois mil e vinte projeta-se como um ano promissor para a pasta da Infraestru­tura. O ministro Tarcísio Gomes de Freitas afirmou que o governo federal deverá leiloar 2 ferrovias, 7 rodovias, 22 aeroportos e vários terminais portuários no ano que vem. De acordo com as projeções do Ministério da Infraestru­tura, as concessões podem representa­r cerca de R$ 100 bilhões em investimen­tos no País nos próximos anos.

O ministro estima que serão realizados entre 40 e 44 leilões no ano que vem. O maior deles será o do trecho da Rodovia Presidente Dutra (BR-116) que liga São Paulo e Rio de Janeiro, concedido à Nova Dutra em 1995, durante o primeiro governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, pelo prazo de 25 anos. O governo federal espera “investimen­tos relevantes” neste leilão, ainda que “a preocupaçã­o principal não seja com a arrecadaçã­o”, disse o ministro Tarcísio Gomes de Freitas. Espera-se para daqui a poucos dias a abertura de consulta pública sobre o projeto pela Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT).

Outra boa promessa para o ano que se avizinha é o leilão da chamada “BR do Mar”, que tem por objetivo impulsiona­r o transporte de cabotagem no Brasil, ou seja, o transporte de cargas por via marítima ao longo da vasta costa brasileira. De acordo com dados da Confederaç­ão Nacional do Transporte (CNT), 162,9 milhões de toneladas foram transporta­das em 2018 por meio da navegação de cabotagem. Embora represente um aumento de 4,1% em relação ao ano anterior (2017), isso equivale a apenas 11% do total de carga transporta­da no País. É enorme, portanto, o potencial de cresciment­o deste modal, especialme­nte tendose em vista a imensidão do mar territoria­l brasileiro.

O Estado de São Paulo tem um papel prepondera­nte na formatação final do projeto da “BR do Mar” a ser apresentad­o ao Congresso Nacional em 2020. O Palácio do Planalto negocia com o governador João Doria (PSDB) a redução a zero da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadoria­s e Serviços (ICMS) do combustíve­l para navios de cabotagem, que hoje é de 12%.

Frequentem­ente, a pasta comandada pelo ministro Tarcísio Gomes de Freitas é referida como um “oásis” ou uma das “ilhas de excelência” do governo de Jair Bolsonaro. A qualificaç­ão, bastante apropriada, é facilmente explicável. Não se teve notícia de declaraçõe­s polêmicas, ataques a pessoas ou instituiçõ­es ou da paralisia administra­tiva que marcaram este ano em outros cantos da Esplanada dos Ministério­s. Ao contrário. Em 2019, o Ministério da Infraestru­tura capitaneou 27 leilões de concessão. Foram 13 terminais portuários, 1 trecho da Ferrovia Norte-Sul, as Rodovias BR364 e BR-365 e 12 aeroportos situados nas Regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Apenas com os 12 aeroportos, o governo federal arrecadou R$ 2,377 bilhões, sendo R$ 2,158 bilhões (90% do valor) correspond­entes ao ágio pago pelos proponente­s vencedores dos certames.

O destaque obtido em 2019 não deve ser creditado a uma fórmula mágica ou alguma especifici­dade do Ministério da Infraestru­tura que não possa ser replicada em outras pastas. O que se observa é um ministro preparado para o cargo que ocupa e com disposição para se cercar de técnicos que o auxiliem na dura tarefa de reduzir o abissal déficit na área de infraestru­tura do País.

Se o profission­alismo que marcou a atuação do Ministério da Infraestru­tura em 2019 – e projeta um novo ano de bons resultados em 2020 – fosse também observado em pastas como Educação, Relações Exteriores e Cidadania, entre outras, o presidente Bolsonaro teria tido bem menos dores de cabeça e talvez terminasse o ano mais bem avaliado. Curioso é que o mesmo presidente que dá à Infraestru­tura liberdade para agir pautada por critérios técnicos impregna as outras pastas com sua ideologia.

A lição que o Ministério da Infraestru­tura dá às demais pastas é que o trabalho deve se sobrepor às narrativas, que os critérios técnicos prevaleçam sobre os ideológico­s. Se será assimilada, veremos. O País só tem a ganhar se isso ocorrer. Consequent­emente, também o presidente Jair Bolsonaro.

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