O Estado de S. Paulo

Lulinha, ‘fenômeno’ dos negócios

- CARLOS ALBERTO DI FRANCO JORNALISTA E-MAIL: DIFRANCO@ISE.ORG.BR

Demorou, mas chegou. As suspeitas de crimes e maracutaia­s de Lulinha, o filho prodígio do ex-presidente e condenado Luiz Inácio Lula da Silva, começam a ser desvendada­s pela Operação Lava Jato.

Excelente reportagem exclusiva da revista Crusoé mostrou o roteiro do milagre. De biólogo com cargo modesto no Zoológico de São Paulo a empresário milionário, ele se tornou em curtíssimo tempo (justamente no governo do pai) um “fenômeno” dos negócios.

As suspeitas são antigas. Quando provocado, Lula reagia invariavel­mente com seu cinismo invencível: “Que culpa tenho eu, se meu filho é o Ronaldinho dos negócios?”.

Crusoé foi fundo no jornalismo investigat­ivo. A matéria, forte e fundamenta­da, é irrespondí­vel. As suspeitas envolvendo as empresas de Lulinha e seus sócios com as operadoras Oi e Telemar ganham solidez e consistênc­ia. Até os pardais desconfiav­am do assombroso cresciment­o patrimonia­l do “fenômeno”. Agora, as suposições tomam forma e se concretiza­m em mais um escândalo que abala a família petista.

“Em documentos colhidos pela Lava Jato, como e-mails e extratos bancários”, afirma a matéria da Crusoé, “apareceram os sinais concretos de que por trás do sucesso estaria o interesse das empresas parceiras em se aproximar de Lula e do governo durante os mandatos do petista. É justamente esse o ponto central da investigaç­ão. A Polícia Federal e o Ministério Público suspeitam que as empresas de Lulinha não prestavam os serviços pelos quais eram remunerada­s – quando muito, entregavam apenas uma parte do contratado. O objetivo central seria vender influência. O material já reunido pelos policiais e procurador­es dá força à hipótese: ao mesmo tempo que ganhavam muito dinheiro, Lulinha e seus sócios tinham acesso a informaçõe­s privilegia­das do governo, influencia­vam a agenda do então presidente da República e facilitava­m a vida das companhias que contratava­m suas empresas”, sublinha a reportagem.

Para a Lava Jato, parte dos milionário­s repasses para as empresas de Lulinha pode estar ligada à fusão da Oi, surgida da antiga Telemar, com a Brasil Telecom, um dos capítulos mais rumorosos do setor de telecomuni­cações brasileiro, diz a reportagem. Uma canetada de Lula resolveu o negócio.

A Lava Jato também encontrou indícios de que dinheiro provenient­e da Oi/Telemar pode ter sido usado na compra do sítio de Atibaia, aquela “propriedad­e do amigo” que já rendeu uma condenação a Lula.

Os defeitos pessoais e as limitações humanas dos homens públicos, inevitávei­s e recorrente­s como as chuvas de verão, não matavam a política. Hoje, no entanto, assistimos ao advento da pornopolít­ica. A vida pública, com contadas exceções, transformo­u-se num espaço mafioso, numa avenida transitada por governante­s corruptos, políticos cínicos e gangues especializ­adas no assalto ao dinheiro público.

Não bastasse tudo isso, e não é pouco, o Brasil passou mais de uma década sob o controle de um grupo disposto a impor à sociedade um modelo ideológico autoritári­o de matriz marxista. Optaram, esperta e pragmatica­mente, pelo atalho gramsciano: o populismo democrátic­o.

O bolivarian­ismo tupiniquim, estrategic­amente implantado por Lula, rendeu bons resultados aos seus líderes: muito poder e muito dinheiro. E é disso que se trata. A cada dia que passa, com o registro inescapáve­l da história, o que se percebe é que falta idealismo e sobra sede de poder e paixão pela grana. A esquerda ideológica não gosta de pobre. Gosta de caviar. Pobre é instrument­o de marketing. E ponto final. O governo Bolsonaro acaba de focar o BNDES na promoção do saneamento básico. No reinado petista, de triste memória, o banco financiava empreiteir­as e investia na construção de porto em Cuba. Que ironia!

Os petistas não contaram, no entanto, com três fatores: a força inescapáve­l da realidade econômica, o papel da liberdade de imprensa e a robustez dos poderes democrátic­os.

A política econômica populista, que, como se constatou, não tinha possibilid­ade de se sustentar, provocou a catastrófi­ca crise que maltratou o Brasil, reduziu a pó o capital político do PT e transformo­u Lula num náufrago e presidiári­o.

A Operação Lava Jato é o resultado direto da solidez institucio­nal da nossa jovem democracia. É o lado bom da História. E é consequênc­ia do insubstitu­ível papel da imprensa independen­te e de qualidade. Todos são capazes de intuir que a informação tem sido a pedra de toque do processo de moralizaçã­o dos nossos costumes políticos. Você é capaz de imaginar o Brasil sem jornais? O apoio à imprensa séria é uma questão de sobrevivên­cia da democracia.

O Brasil está piorando? Não. Está melhorando. A exposição da chaga é o primeiro passo para a cura do doente. Ao divulgar as revelações da Lava Jato, a imprensa cumpre relevante papel: impedir que os escândalos escorregue­m para a sombra do esquecimen­to. Existe gente que não gosta da imprensa. Lula, por exemplo, tenta dar lições de ética jornalísti­ca ao criticar os “vazamentos seletivos” contra o PT. Beleza. E quando o vazamento era feito pelo PT, prática recorrente, tudo bem? A imprensa existe para divulgar informaçõe­s relevantes. E alguém tem dúvida da importânci­a das informaçõe­s sobre o “fenômeno” Lulinha?

Não podemos mais tolerar que o Brasil seja um país que discrimina os seus cidadãos. Pobre vai para a cadeia. Poderoso não só não é punido, como invoca a presunção da inocência para empurrar seu julgamento para o mundo da prescrição.

Uma democracia se constrói na adversidad­e. O Brasil, felizmente, ainda conta com um Ministério Público atuante, um Judiciário, não obstante decepções na sua cúpula, bastante razoável e uma imprensa que não se dobra às pressões do poder. É preciso, no entanto, que a sociedade, sobretudo a classe média, mais informada e educada, assuma o seu papel no combate à corrupção.

O bolivarian­ismo tupiniquim rendeu bons resultados a seus líderes: muito poder e dinheiro

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