Xiitas querem fim da elite política de Bagdá
Sistema chegou ao poder após queda de Saddam Hussein com apoio dos mesmos xiitas que agora protestam nas ruas
Durante semanas, o centro nevrálgico dos xiitas no Iraque se revoltou abertamente contra o governo central, contestando um sistema que os próprios xiitas apoiaram. De respaldo confiável da elite de Bagdá, eles se transformaram numa voz poderosa da oposição.
A maioria muçulmana xiita iraquiana tem sido o sustentáculo da liderança em Bagdá desde a invasão americana que derrubou Saddam Hussein. As províncias xiitas ao longo do sul do Iraque votaram em políticos xiitas e apoiaram os líderes quando estes enfrentaram a insurgência sunita e enviaram milhares de homens para lutar contra o Estado Islâmico (EI).
Mas agora os xiitas iraquianos, cansados da pobreza em que vivem, enfurecidos com a corrupção e frustrados, vêm combatendo o sistema que ajudaram a construir.
Manifestantes antigoverno ocuparam praças e pontes, bloquearam estradas e queimaram ou saquearam prédios governamentais, inclusive missões diplomáticas pertencentes ao Irã xiita, que tem vínculos estreitos com a liderança iraquiana.
Em Najaf e Nasiriyah, ao sul do país, forças de segurança mataram inúmeros manifestantes num único dia, no mês passado – no âmbito dessa rebelião que desde outubro já provocou mais de 500 mortes e forçou o primeiro-ministro a renunciar.
Uma demonstração de cólera que, se continuar, poderá virar de cabeça para baixo o sistema instalado desde a invasão americana em 2003 e possivelmente reformular o futuro político do Iraque, cujas minorias árabes sunitas e curdas foram amplamente marginalizadas.
Os manifestantes demandam desde uma reforma da lei eleitoral até a abolição dos partidos políticos e o fim da corrupção. O slogan do movimento – “Queremos uma pátria!” sublinha seu profundo sentimento de alienação. Mas o Estado iraquiano vem reagindo com uma demonstração de força própria.
Nas últimas semanas pelo menos meia dezena de ativistas foram atacados por pistoleiros mascarados e em ataques à bomba em Bagdá e outras cidades do sul. Segundo os manifestantes, os políticos e comandantes apoiados pelo Irã, incluindo as milícias xiitas que combatem o EI, enriqueceram com um esquema de compartilhamento que sustenta a ordem política e divide os ganhos com as pilhagens entre os partidos no poder. Ministérios de governo são tratados como feudos, dizem os manifestantes, e muito pouco é oferecido aos cidadãos comuns.