O Estado de S. Paulo

Última vez que brasileiro chegou em 1º foi em 2010

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O Brasil vive um jejum de nove anos na São Silvestre. A última vitória verde e amarela aconteceu em 2010, quando Marílson Gomes dos Santos faturou a prova no masculino. Entre as mulheres, o tempo sem conquista é ainda maior: desde 2006, com o título de Lucélia Peres. De lá para cá, nas duas modalidade­s, os corredores da Etiópia e Quênia vêm dominando a competição em São Paulo.

Apesar do jejum, o Brasil ainda é o maior vencedor da São Silvestre, com 29 edições conquistad­as. O Quênia aparece em segundo lugar, com 14 títulos. No feminino, o País figura na terceira posição, com cinco conquistas, atrás de Portugal (sete vezes) e Quênia (13).

Na prova do ano passado, por exemplo, o Brasil mais uma vez não conseguiu fazer frente aos africanos. Os melhores colocados do País foram Giovani dos Santos e Jenifer Nascimento, ambos em oitavo lugar.

Na edição de 2017, o Brasil amargou o pior resultado em 45 edições da São Silvestre. No masculino, o representa­nte mais bem colocado foi Ederson Pereira, que terminou a prova em 12.º lugar. Entre as mulheres, a melhor posição foi da 10.ª colocada Joziane Cardoso.

Para o ex-presidente da Associação dos Treinadore­s de Corrida de São Paulo Nelson Evencio, são dois fatores principais que fazem o Brasil viver o jejum de títulos na São Silvestre: a falta de apoio aos corredores no País e a genética dos africanos.

“Perdemos essa qualidade de treinament­o. Hoje, você treina para correr várias provas e fazer seu pé de meia. Tem corredores que fazem três provas por mês, por exemplo. Os africanos, do chamado primeiro escalão, correm apenas as provas grandes e chegam mais preparados para a São Silvestre”, opinou Evencio.

As diversas opções de corridas ao longo do ano, atrelada à forte concorrênc­ia da São Silvestre, também explicam a falta de brasileiro­s campeões nas últimas edições. Em vez de apostarem na tradiciona­l prova de São Paulo, muitos competidor­es preferem disputar outras corridas. A São Silvestre distribui R$ 461 mil em prêmios, com igualdade no masculino e feminino. O vencedor fica com R$ 94 mil, o segundo colocado ganha R$ 47 mil, o terceiro embolsa R$ 27 mil, o quarto ganha R$ 22 mil, o quinto recebe R$ 16 mil, o sexto fica com R$ 7 mil, o sétimo ganha R$ 5 mil e do oitavo ao décimo colocados ganham R$ 4 mil cada um. O valor da inscrição foi de R$ 197,50.

“Há centenas de provas com boa premiação durante o ano. Até por questão de sobrevivên­cia, os atletas acabam correndo mais provas, e a São Silvestre deixa de ser uma prioridade, porque eles já estão cansados. É importante ressaltar que isso não é culpa dos competidor­es, e sim da falta de apoio ao esporte no Brasil”, pontua Evencio.

O professor de corridas mostra mais pessimismo para o futuro da modalidade no País. Para ele, há apenas um clube de ponta no Brasil, o Pinheiros, de São

Paulo, que oferece infraestru­tura aos atletas. Ele também citou a falta de patrocínio para os competidor­es. “Esse cenário só tende a piorar, porque os corredores têm cada vez menos opções. Falta apoio e investimen­to aqui no Brasil, há um grande problema de falta de infraestru­tura, enquanto os estrangeir­os têm vários incentivos e lugares para treinar”, disse ao Estado.

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