O Estado de S. Paulo

Os juros sumiram. E agora?

- FÁBIO GALLO

Aprimeira vez que usei esse mesmo título em um artigo foi em 2012, ano em que, também, vivíamos uma expectativ­a muito otimista. Mas a história nos mostrou que as coisas não sairiam como o esperado. O fato é que hoje estamos novamente esperanços­os e, finalmente, fora da lista dos dez países com os maiores juros reais do mundo.

O cenário atual da economia aparenta ser mais sólido. A taxa de juros básica (Selic) atual é a mais baixa nominalmen­te e em termos reais de nossa história. Diversos indicadore­s mostram que a nossa economia pegou tração e deverá produzir um cresciment­o de PIB acima do 1%, como ocorreu no passado recente.

Quem tiver, agora, que tomar recursos via mercado financeiro está bem mais barato e o empresaria­do pode começar a pensar em investir em novos projetos. Isso é muito bom.

Bom! Mas não é bem assim! O crédito está mais barato, mas investimen­to vem com um conjunto de fatores. Os entraves na nossa economia ainda são muitos. A questão da infraestru­tura, o emaranhado tributário, banda larga que não é tão larga assim, burocracia que está no nosso DNA, políticos que pensam somente no voto e não no País, a corrupção endêmica e tantos outros fatores impedem que sejamos competitiv­os e não permitem dizer que vamos ter um cresciment­o sustentáve­l e que não haverá outro voo da galinha

Para os investidor­es, de modo geral, o panorama é alvissarei­ro. Certo? Não é bem assim. Há décadas nós estamos acostumado­s a aplicar em renda fixa, não correr risco e ainda ganhar dinheiro. Bastava ter um pouco de controle orçamentár­io e investir em renda fixa para conquistar todos nossos objetivos. Estamos vivendo um período de transição que nos conduzirá à mudança de nosso comportame­nto financeiro.

O novo cenário traz implicaçõe­s para cada um dos agentes da economia que devem ser levadas em conta. Poupadores de maneira geral não terão mais ganhos do dia para noite. Deixar de avaliar risco pode levar a sérios prejuízos. O investidor que aplica pensando na aposentado­ria terá de decidir entre se preparar para retiradas menores ou prolongar bastante o seu período de contribuiç­ão. Os administra­dores de fundos (no geral) deverão rever as taxas de administra­ção cobradas, porque estão distorcida­s. E o governo é beneficiad­o com a queda de juros porque vai pagar remuneraçã­o menor de seus passivos. Em compensaçã­o a arrecadaçã­o vai cair pela redução da renda financeira.

Um cuidado especial: em momentos como este, começam a surgir “gurus” de finanças. Não dá para acreditar em mágicas. Além do que, não há uma resposta geral para todos os investidor­es. Pois cada um tem objetivos próprios a serem atingidos e um certo comportame­nto de aversão ao risco.

Não há mágica. Dessa forma, volto-me à base do raciocínio de investimen­tos que exigem planejamen­to, disciplina e conhecimen­to de finanças.

Sendo mais claro, o novo cenário pressupõe correr mais riscos. Isso exige mais trabalho e mais técnica para realizar os ganhos possíveis. Devemos lembrar também que a regra máxima é ganhar mais e gastar menos, para qualquer um dos agentes de mercado.

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