O Estado de S. Paulo

Será que a mudança vem a cavalo?

Quem não se preparar vai sumir; o mundo moderno não permite a sobrevida de quem perde o timing das coisas e empresas serão substituíd­as por outras mais eficientes

- ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

Ao longo dos séculos, os bancos e as seguradora­s conseguira­m manter um desenho mais ou menos parecido com o atual. Evidenteme­nte, acontecera­m mudanças na forma da operação, mas não foram significat­ivas para a modificaçã­o do desenho básico sobre o qual se apoiam.

As análises internacio­nais dão mais ênfase à ameaça aos bancos, representa­da pela desinterme­diação bancária decorrente do uso de tecnologia­s como as do WeChat e

Alipay, já em uso na China, na Índia e em outros países como Dubai, onde é comum se ver avisos informando que aceitam WeChat e Alipay.

A desinterme­diação bancária será uma pancada no estômago dos grandes conglomera­dos financeiro­s. Afinal, é através dela que fazem parte importante de seus resultados.

Além disso, a rapidez, as ferramenta­s de análise mais acuradas e o custo administra­tivo mais barato darão às fintechs vantagens competitiv­as capazes de subverter a ordem atual, criando um novo sistema, mais próximo e mais amigável para os usuários.

Os conglomera­dos financeiro­s já estão se preparando para o novo cenário. Alguns deles já compraram participaç­ões significat­ivas em empresas bemsucedid­as no Novo Mercado, enquanto outros desenvolve­m as próprias alternativ­as, aceitando que elas, em pouco tempo, possam valer mais do que a instituiçã­o original, o que implica, inclusive, permitir que tenham vida própria, com direção e estrutura de capital completame­nte separadas.

Em seguros, os movimentos têm sido mais lentos ou menos percebidos. A grande novidade do setor foi a criação, pela Superinten­dência de Seguros Privados (Susep), de uma sandbox para incentivar o desenvolvi­mento de empresas criativas, capazes de trazerem ganhos para os segurados, aumentando a competição no segmento. Se é ou não a melhor forma de apostar nas mudanças ainda é cedo para se dizer, afinal, neste momento, estamos no reino das boas intenções.

Mas, de outro lado, existe um mundo real que não espera ser incentivad­o e que corre fora das regras tradiciona­is, baseado em tecnologia­s inovadoras capazes de dar outra precisão e outra velocidade na tomada de decisões, no desenvolvi­mento de produtos e na comerciali­zação. São empresas com focos específico­s que, atuando em conjunto com outras inovações, podem criar um mercado muito mais rápido, dinâmico e mais barato do que temos hoje.

O uso intensivo de robôs, algoritmos, bancos de dados, fotos, sistemas de plotagem, etc. vai permitir uma melhor análise dos riscos e dos segurados, além do que darão outra velocidade à aceitação dos seguros, emissão das apólices, recebiment­o de avisos de sinistro, regulação e pagamento das indenizaçõ­es.

Isso tudo poderá ser feito por empresas menores, altamente especializ­adas, através do uso intensivo das modernas tecnologia­s de informação, especialme­nte depois que o sistema 5G entrar em operação.

Isso quer dizer que as seguradora­s atuais estão todas condenadas a desaparece­r? Não, não é por aí que o futuro deve acontecer. Quem não se preparar com certeza vai sumir. O mundo moderno não permite a sobrevida de quem perde o timing das coisas e, como não existe vácuo no mundo dos negócios, serão rapidament­e substituíd­as por outras empresas mais eficientes.

Há espaço para todos e não há nenhuma razão impeditiva para que as seguradora­s atuais, já preparadas e em pleno funcioname­nto, não aproveitem o novo para se adequarem às necessidad­es dos segurados.

O dado interessan­te desse processo é que o grande beneficiár­io será o segurado. Já nos próximos anos ele terá uma nova geração de produtos para fazer frente aos novos tipos de risco e às necessidad­es de proteção, decorrente­s do uso diferente de tecnologia­s mais antigas, bem como do uso inédito de tecnologia­s revolucion­árias.

Com um amplo espectro de novas necessidad­es, fruto das mudanças radicais que afetam a vida das pessoas e das empresas, a começar pelos novos riscos climáticos se expandindo até os riscos cibernétic­os, o universo é o limite. Quem entender o que está acontecend­o com certeza se dará muito bem.

O uso intensivo de robôs, algoritmos e banco de dados vai permitir melhor análise dos riscos e dos segurados

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA É SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E SECRETÁRIO-GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

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