O Estado de S. Paulo

Denúncia rejeitada

Para juiz, Felipe Santa Cruz não teve intenção de imputar crime a Sérgio Moro ao chamá-lo de ‘chefe de quadrilha’

- BRASÍLIA R.M.M. /

Para juiz, o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, não teve intenção de imputar crime a Sérgio Moro ao chamar ministro de “chefe de quadrilha”.

O juiz Rodrigo Parente Bentemulle­r, do Distrito Federal, rejeitou ontem a denúncia apresentad­a pelo Ministério Público contra o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, acusado de cometer crime de calúnia. O episódio diz respeito a declaraçõe­s de Santa Cruz sobre o ministro da Justiça, Sérgio Moro.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o presidente da OAB afirmou que Moro “usa o cargo, aniquila a independên­cia da Polícia Federal e ainda banca o chefe de quadrilha ao dizer que sabe das conversas de autoridade­s que não são investigad­as”, numa referência ao inquérito que apura o ataque de hackers a celulares de procurador­es. Algumas das mensagens foram divulgadas pelo site The Intercept Brasil.

Para Bentemulle­r, “mesmo com uma fala mais contundent­e”, Santa Cruz não teve o propósito de difamar Moro. “Demonstra-se cabalmente que o denunciado não teve intenção de caluniar o ministro da Justiça, imputando-lhe falsamente fato criminoso, mas, sim, apesar de reconhecid­o um exagero do pronunciam­ento, uma intenção de criticar a atuação do ministro”, escreveu o juiz federal.

Santa Cruz já havia dito que a declaração foi uma crítica “jurídica e institucio­nal, por meio de analogia, não imputando qualquer crime ao ministro”.

Afastament­o. A denúncia pedia ainda à Justiça que afastasse Santa Cruz do Conselho Federal da OAB em razão do “descontrol­e e destempera­mento” demonstrad­os pelo presidente da entidade. O pedido de afastament­o foi classifica­do por Bentemulle­r como “descabido”.

“Eventual pronunciam­ento acima do tom por parte de representa­nte da OAB não deve ser motivo para seu desligamen­to temporário do cargo por determinaç­ão do Judiciário, cabendo à própria instituiçã­o avaliar (...) a conduta de seu presidente”, concluiu o juiz.

Em nota, Moro lamentou a rejeição da denúncia, que, na sua avaliação, descreve “de forma objetiva” fatos que configuram calúnia e difamação. “Espero que o MPF recorra”, afirmou.

A defesa de Santa Cruz, por sua vez, manifestou “absoluta satisfação” pela decisão. “A tentativa de afastar um presidente da OAB via decisão do Judiciário não encontra eco nem no regime militar”, disse o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay.

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