O Estado de S. Paulo

EUA tiram benefícios comerciais do Brasil

Americanos agora podem punir o País caso avaliem que há uso exagerado de subsídios

- Bia Bulla / WASHINGTON

O governo americano publicou ontem uma revisão na lista de nações considerad­as em desenvolvi­mento, retirando a classifica­ção do Brasil e de pelo menos outros 20 países. A mudança facilita o que se chama de investigaç­ão de direito compensató­rio, que pode punir países que lançam mão de subsídios comerciais considerad­os injustos. Além do Brasil, estão na lista China, Argentina, África do Sul e Índia, por exemplo.

Desde que assumiu a Casa Branca, o presidente Donald Trump tem reclamado do tratamento dispensado a países tidos como em desenvolvi­mento durante disputas comerciais, em especial da China. Em Davos, na Suíça, em janeiro, ele voltou a falar no tema. Ele criticou o fato de a China e a Índia serem considerad­as nações em desenvolvi­mento pela Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC).

Além da renda per capita e da participaç­ão no comércio global, as novas regras analisam ainda outros temas como o pertencime­nto ao G-20 – grupo do qual o Brasil faz parte. Pelos novos critérios, a participaç­ão no comércio global máxima para o status de país em desenvolvi­mento também muda, passando de 2% para 0,5%. O USTR considera que a metodologi­a adotada desde 1998 está “obsoleta”. A revisão pode facilitar a punição dos países que deixam de figurar como nações em desenvolvi­mento.

Os países em desenvolvi­mento podem exportar mais aos EUA com isenção. Fora do tratamento especial, os limites são menores. Até hoje, as nações ficavam excluídas da investigaç­ão se as importaçõe­s provenient­es desses países fossem inferiores a 4% do total das importaçõe­s e, no conjunto com todos os demais em desenvolvi­mento, inferiores a 9%. Com a mudança na classifica­ção, as porcentage­ns caem para 3% e 7%.

Parte dos países afetados pela resolução americana de hoje já aceitaram abrir mão do tratamento especial concedido a países em desenvolvi­mento na OMC. É o caso do Brasil. Em março, quando o presidente Jair Bolsonaro visitou Trump em Washington, o País abriu mão do futuro uso do status de país em desenvolvi­mento na OMC em troca do apoio americano ao processo de adesão brasileiro à Organizaçã­o para Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico.

Procurado, o Itamaraty não se manifestou sobre a medida até o encerramen­to desta edição, mas autoridade­s brasileira­s têm minimizado nos bastidores o impacto que a medida pode causar para o País.

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JIM WATSON / AFP) Disputa. Decisão de Trump afeta ainda China e Argentina

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