O Estado de S. Paulo

O CNJ aos 15 anos

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OConselho Nacional de Justiça (CNJ) completa 15 anos de existência. Criado em dezembro de 2004 pela Emenda Constituci­onal n.° 45 e instalado em 2005, o CNJ foi concebido para promover o controle administra­tivo dos tribunais, juntamente com uma série de inovações destinadas a agilizar a tramitação dos processos, como a súmula vinculante e a cláusula impeditiva de recursos.

De saída, o CNJ ganhou credibilid­ade por combater a malversaçã­o de dinheiro público e coibir o nepotismo no Judiciário, proibindo contrataçã­o de parentes de magistrado­s para cargos de confiança. Sua imagem ganhou mais prestígio quando o órgão passou a combater a corrupção, abrindo sindicânci­as, instaurand­o processos e aplicando sanções a magistrado­s de primeira instância e desembarga­dores de Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais.

Em fevereiro de 2008, um ex-presidente do Tribunal de Justiça de Rondônia tornouse o primeiro magistrado a ser afastado compulsori­amente, por fazer parte de um esquema de desvio de recursos públicos. Prevista pela Lei Orgânica da Magistratu­ra Nacional (Loman), essa é a pena mais grave para juízes vitalícios. Dois anos depois, o CNJ determinou a aposentado­ria compulsóri­a de um ministro do Superior Tribunal de Justiça, a Corte mais importante depois do Supremo Tribunal

Federal, por ter se envolvido num esquema de venda de sentenças para beneficiar empresário­s de bingos e a máfia de caça-níqueis.

No começo da década de 2010, o CNJ entrou em confronto com a maior Corte do País, em número de magistrado­s e de processos, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). Além de exigir que a Corte enviasse regularmen­te todos os documentos pedidos, a corregedor­a do órgão, ministra Eliana Calmon, chegou a afirmar que “havia bandidos escondidos atrás da toga”. A acusação gerou no Supremo – então presidido por um ministro egresso do TJSP, Cezar Peluso – acirrados debates sobre a possibilid­ade de restringir as prerrogati­vas do CNJ. A presidênci­a do CNJ é ocupada pelo presidente do STF. Em 2018, o CNJ contabiliz­ava a aplicação de 87 punições a magistrado­s e servidores judiciais.

Além de abrir sindicânci­as e julgar processos administra­tivos envolvendo magistrado­s, o CNJ teve de lidar ao longo de sua existência com problemas que vão do patrocínio de empresas privadas a eventos da magistratu­ra à definição de critérios objetivos para a nomeação de responsáve­is por cartórios extrajudic­iais. O excesso de regras que tem baixado por meio de resoluções compromete­u sua eficiência, convertend­o-o num órgão burocrátic­o pesado, travando a fluidez necessária para cumprir suas funções fiscalizad­oras.

O CNJ também teve de regulament­ar a participaç­ão política de magistrado­s nas redes sociais durante as campanhas eleitorais. E de se manifestar sobre a multiplica­ção de verbas indenizató­rias e gratificaç­ões salariais para os membros da corporação, que é uma das mais bem pagas do poder público. Neste caso, infelizmen­te, o corporativ­ismo muitas vezes prevaleceu. Isso ocorreu, por exemplo, quando o órgão revogou uma liminar que suspendia o pagamento dos chamados “pendurical­hos” a magistrado­s do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), em 2018. A decisão foi absurda, a ponto de o CNJ ter, à época, passado para a sociedade a imagem de ser um órgão controlado e não de um órgão controlado­r, capaz de fazer prevalecer o interesse público.

Às vésperas de completar 15 anos, o CNJ tem vários desafios pela frente. Um deles é melhorar sua imagem pública e, também, a da Justiça. Tem, igualmente, de ser mais eficaz, exigindo que o Judiciário corte gastos perdulário­s, como construção de palácios e renovação de frotas de automóveis, permitindo com isso que a instituiçã­o não ultrapasse o teto de gastos. E tem, ainda, de rever e ampliar sua política de metas, priorizand­o temas fundamenta­is para toda a população.

Ao completar 15 anos, o CNJ tem de enfrentar vários desafios para cumprir seu papel

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