O Estado de S. Paulo

Bolsonaro encontrará Fernández em março

Depois de tensão e troca de farpas, Brasil e Argentina acertam encontro em Montevidéu, na posse do novo presidente do Uruguai

- Jussara Soares Julia Linder / BRASÍLIA

O presidente Jair Bolsonaro deve se encontrar com seu colega argentino, Alberto Fernández, no início de março. A ideia é realizar uma reunião bilateral durante a viagem que os dois farão para a posse do novo presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou. A informação é do chanceler argentino, Felipe Solá, que esteve ontem com Bolsonaro no Palácio do Planalto.

De acordo com Solá, a proposta partiu de Bolsonaro, que afirmou que gostaria de falar reservadam­ente com Fernández. “Falamos sobre o futuro, falamos sobre a possibilid­ade de que se encontrem (Bolsonaro e Fernández) em 1.º de março no Uruguai”, disse – data da posse de Lacalle Pou.

No ano passado, durante a eleição presidenci­al argentina, Bolsonaro e Fernández trocaram críticas. No entanto, passada a disputa, Bolsonaro convidou o argentino para vir ao Brasil.

Na visão de Solá, o encontro no Uruguai funcionari­a como “um passo intermediá­rio”.

O chanceler também disse que os dois concordara­m que, quando se trata do Mercosul, Brasil e Argentina não querem “olhar para trás”. “O Mercosul deve ser renovado, olhar para o mundo, e apoiamos o acordo do Mercosul com diferentes regiões”, declarou Solá.

Mais cedo, no Itamaraty, ao lado do chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, Solá disse que a Argentina adotará uma posição “pragmática e realista” nas relações bilaterais com o Brasil.

A relação entre os presidente­s ficou estremecid­a quando, no ano passado, Bolsonaro declarou apoio à reeleição de Mauricio Macri e fez ataques à vice na chapa de Fernández, a expresiden­te Cristina Kirchner.

Por sua vez, Fernández publicou após sua vitória uma foto com apoiadores fazendo um “L” com a mão, símbolo usado por petistas em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em declaração conjunta após o encontro, Solá e Araújo reafirmara­m compromiss­o de fortalecim­ento do Mercosul e apoios na áreas de segurança e no combate ao crime organizado.

Solá indicou que o governo de Fernández não colocará barreiras para o avanço do bloco para o restante do mundo. “Entendemos que o Mercosul, para crescer, precisa fazer acordo para o livre-comércio com outros países. Israel, América Central, Líbano, Cingapura. Temos de ter a mente aberta para os acordos e vamos tratar de não ser um entrave”, disse.

Ele afirmou ainda que fez um relato das dificuldad­es econômicas na Argentina e pediu ajuda ao Brasil. “Pedimos aos irmãos brasileiro­s que nos apoiem com o FMI para termos tempo para crescer e pagar dívida. Não vamos dar o calote.”

Negociaçõe­s. Em 2019, o Mercosul encerrou suas negociaçõe­s de parcerias comerciais com a União Europeia (UE) e com a Associação Europeia de Livre-Comércio (Efta), que reúne também Noruega, Suíça e Islândia.

Por sua vez, Araújo disse que tem a “convicção e a expectativ­a de contar com a parceria da Argentina para consolidaç­ão do Mercosul”. “Brasil e Argentina estão na mesma página em cresciment­o, segurança e valores democrátic­os”, afirmou.

“O Mercosul deve ser renovado, olhar para o mundo, e apoiamos o acordo do Mercosul com diferentes regiões”

“Pedimos aos irmãos brasileiro­s que nos apoiem com o FMI. Não vamos dar calote”

Felipe Solá

MINISTRO DAS RELAÇÕES

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