O Estado de S. Paulo

Dólar chega a R$ 4,38, mas cai após ação do BC

Moeda americana dispara embalada pelas declaraçõe­s de Paulo Guedes; BC injetou US$ 1 bi no mercado e cotação recuou para R$ 4,33

- Altamiro Silva Júnior COLABORARA­M LUIS EDUARDO LEAL E IANDER PORCELLA

O dólar chegou a R$ 4,38 durante o dia, ontem, e o Banco Central interveio no mercado de câmbio. A cotação ficou em R$ 4,33. Além das incertezas relacionad­as ao coronavíru­s, contribuír­am para a disparada da moeda declaraçõe­s do ministro Paulo Guedes (Economia), que não mostrou preocupaçã­o com o dólar valorizado. O presidente Jair Bolsonaro avaliou que o valor está “um pouquinho alto”.

O Banco Central voltou a intervir ontem no mercado de câmbio após a cotação do dólar alcançar os R$ 4,38. A disparada da moeda foi embalada pelas declaraçõe­s na noite de quarta-feira tanto do ministro da Economia, Paulo Guedes, quanto do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que não mostraram maiores preocupaçõ­es com o nível mais alto do dólar no País. “É melhor termos juros a 4% e câmbio a R$ 4,00, do que câmbio a R$ 1,80 e juros de 14%, nas alturas”, disse Guedes.

O BC fez um leilão extraordin­ário de US$ 1 bilhão de swaps cambiais, uma espécie de venda de dólar no mercado futuro. Com isso, a moeda recuou para a casa de R$ 4,30, mas a busca por segurança diante da incerteza sobre a extensão do surto de coronavíru­s limitou a baixa fazendo com que o dólar à vista fechasse a R$ 4,3339, um recuo de 0,39%. O Banco Central anunciou um novo leilão no mesmo montante para hoje.

Após cinco dias de ganhos e uma sucessão de renovações de recordes históricos, com a intervençã­o do BC, o real se descolou de outras moedas emergentes e foi a divisa com melhor desempenho entre seus pares.

“O câmbio é flutuante, mas quando o mercado começa a ficar disfuncion­al, cabe ao Banco Central trazer alguma funcionali­dade, o que foi o que ele fez”, disse o presidente e sócio da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor da autoridade monetária no País.

Na avaliação do economista­chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, a decisão do BC de ofertar swap foi “tecnicamen­te perfeita”, no mercado futuro, onde havia demanda.

“A dinâmica dos fluxos de capital no Brasil mudou”, disse Leal, para quem Guedes vem perseguind­o a estratégia de política monetária mais frouxa e política fiscal mais apertada. Neste ambiente, o dólar fica mais alto mesmo.

Para ele, o real só vai se valorizar mais se o ritmo do PIB se acelerar. Por enquanto, os indicadore­s locais têm vindo fracos, enquanto a economia americana tem mostrado força, o que contribui para valorizar o dólar no exterior e pressionar ainda mais o câmbio aqui.

Após duas sessões em recuperaçã­o, o Ibovespa voltou a fechar no negativo, em baixa de 0,87% a 115.662,40 pontos, impactado principalm­ente por notícias do coronavíru­s, que também trouxe instabilid­ade para os índices em Nova York.

Analistas também disseram que a evolução do dólar e seu impacto sobre a inflação poderia fechar a porta para um novo corte de juros, mesmo que um pouco mais à frente./

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE: BROADCAST

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