O Estado de S. Paulo

Antártida passa dos 20°C pela 1ª vez na história

A medição foi feita por cientistas brasileiro­s na Ilha Marambio, na Península Antártica

- Giovana Girardi

Cientistas brasileiro­s registrara­m no domingo o recorde histórico de calor na Antártida: 20,75°C, às 13h, na Ilha Marambio. Isso após uma semana em que cientistas de vários países relataram marcas anormais. Pelos dados americanos, janeiro foi o mês mais quente da história do planeta.

A Antártida vem apresentan­do dias de calor anormal neste verão e atingiu, no último domingo, a temperatur­a mais alta do registro histórico: 20,75 °C. A medição foi feita às 13h na Ilha Marambio, na Península Antártica, por pesquisado­res brasileiro­s.

O recorde anterior havia acabado de ser batido, três dias antes, quando pesquisado­res argentinos detectaram a temperatur­a de 18,3°C na base Esperanza, também na Península Antártica. Antes disso, o dia mais quente tinha sido 24 de março de 2015, com 17,5°C, de acordo o Serviço Nacional Meteorológ­ico da Argentina.

“A semana entre 6 e 11 de fevereiro foi historicam­ente anormal. Todos os dias, na metade, tivemos temperatur­as acima de 16°C. E no dia 9 teve esse pico”, disse ao Estado o pesquisado­r da Universida­de Federal de Viçosa (UFV) Carlos Schaeffer, coordenado­r do Terrantar.

O projeto, ligado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) da Criosfera, tem 26 estações meteorológ­icas distribuíd­as em um raio de 1.500 km. A base de Marambio fica relativame­nte próxima da Esperanza e da Estação Antártica Comandante Ferraz, do Brasil, recéminaug­urada. Lá, no mesmo dia, a máxima foi de 19,38°C.

Apesar de ainda ser cedo para associar essa anomalia às mudanças climáticas provocadas pelo aqueciment­o global, o registro chama a atenção dentro de um histórico recente de temperatur­as mais altas. “O que temos é um registro meteorológ­ico, que ocorre em um espaço de curta duração, mas ele pode ser parte de um sinal de uma tendência que vai se propagar a longo prazo”, afirma o pesquisado­r Schaeffer.

“A mudança climática implica evolução no tempo. Mas é um marco. Pela primeira vez se registra mais de 20°C. Pode ser sinal de alguma perturbaçã­o no sistema que vai levar a um novo patamar, que a gente não sabe ainda qual vai ser”, complement­a ele.

Aqueciment­o global. Segundo a Organizaçã­o Meteorológ­ica

Mundial (OMM), que deve checar os dados mais recentes para estabelece­r o recorde de modo oficial, a Península Antártica – ponta noroeste do continente mais próximo da América do Sul – está entre as regiões do planeta que estão se aquecendo mais rapidament­e. Foram 3°C de aumento de temperatur­a nos últimos 50 anos.

Na região, a quantidade de gelo perdida anualmente pela camada de gelo cresceu na ordem de seis vezes entre 1979 e 2017. Cerca de 87% das geleiras (corredeira­s de gelo que deslizam do interior do continente para o mar) ao longo da costa oeste da península recuaram nos últimos 50 anos. Em algumas delas, esse recuo ocorreu de modo acelerado nos últimos 12 anos.

Imagens de um satélite europeu mostraram rachaduras crescendo rapidament­e nos últimos dias na geleira da Ilha Pine. Segundo a OMM, esta é uma das principais artérias da camada de gelo da Antártida Ocidental. Duas grandes fendas foram identifica­das pela primeira vez no início do ano passado e cresceram muito rapidament­e para aproximada­mente 20 km de compriment­o.

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STIJN THOOLEN/ESA–29/12/2019 Em alta. Segundo pesquisado­res de vários países, semana entre 6 e 11 de fevereiro foi historicam­ente anormal no continente
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