O Estado de S. Paulo

Jornalista é morto a tiros na fronteira

Léo Veras foi atingido por 12 tiros no quintal de casa, em Pedro Juan Caballero, no Paraguai. Profission­al havia recebido ameaças

- José Maria Tomazela

Conhecido por denunciar crimes na fronteira entre Brasil e Paraguai, o jornalista Léo Veras foi executado com ao menos 12 tiros de pistola na noite de anteontem, na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, vizinha de Ponta Porã (MS). Segundo o secretário de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, Antonio Carlos Videira, a vítima já havia recebido ameaças por criticar ações de narcotrafi­cantes na região, principalm­ente do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Mais conhecido como Léo Veras, Lourenço Veras era dono do site Porã News, especializ­ado em notícias policiais, editado em português e espanhol. Nascido no Paraguai, ele também tinha nacionalid­ade brasileira. A investigaç­ão do crime é feita pela polícia dos dois países.

O jornalista jantava com a família no quintal de sua casa, quando três homens encapuzado­s desceram de um Jeep Cherokee de cor branca e fizeram os disparos. Veras tentou fugir, mas recebeu tiros de pistola calibre 9 mm nas costas e na cabeça. Ele foi levado a um hospital de Pedro Juan, mas já chegou sem vida.

Segundo o secretário Videira, Veras era alvo de ameaças. “Ele era contundent­e em críticas à ação do narcotráfi­co na região da fronteira e vinha recebendo ameaças”, diz. “Recentemen­te ele foi entrevista­do em reportagem de alcance nacional, denunciand­o as facções que agem na fronteira, especialme­nte o PCC. Por causa disso, sua relação com as autoridade­s e forças policiais era muito boa, mas certamente desagradav­a ao crime organizado.”

No mês passado, Veras noticiou com destaque a fuga de presos do PCC em Pedro Juan Caballero e acompanhou a caçada aos fugitivos. O secretário disse ter conversado com autoridade­s paraguaias e definido linhas de ações conjuntas para investigar a execução.

“Estamos em busca da origem das ameaças contra ele e de pistas. Se o veículo que eles usaram, uma Cherokee branca, veio para o lado brasileiro da fronteira, nós vamos encontrar.”

Na noite do crime, a polícia recolheu o celular e o computador do jornalista na tentativa de identifica­r a origem das ameaças. Imagens de câmeras instaladas na região também foram requisitad­as para análise. Segundo o promotor de Pedro Juan Marco Amarila, que está à frente da investigaç­ão, a mulher de Veras contou que ele estava muito apreensivo e denotava temor de ser assassinad­o.

Denúncias. Em 2013, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) chegou a divulgar denúncia sobre as ameaças recebidas por Léo Veras, em razão do seu trabalho jornalísti­co na região da fronteira e das denúncias de execuções motivadas pelo narcotráfi­co. Na ocasião, Veras disse que não se intimidari­a com as ameaças e continuari­a seu trabalho.

Em nota conjunta, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação

Nacional de Jornais (ANJ) também lamentaram a morte do jornalista e ressaltara­m o trabalho investigat­ivo que era feito por ele.

“Os assassinat­os de comunicado­res têm por objetivo intimidar o livre exercício do jornalismo e impedir o direito dos cidadãos de serem plenamente informados. A apuração criteriosa e rápida da morte de Léo Veras, assim como dos demais homicídios de jornalista­s, é fundamenta­l para combater a impunidade”, diz a nota.

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EFE Velório. Mulher da vítima contou que ele estava muito apreensivo ultimament­e. Polícias dos dois países traçam estratégia

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