Jornalista é morto a tiros na fronteira
Léo Veras foi atingido por 12 tiros no quintal de casa, em Pedro Juan Caballero, no Paraguai. Profissional havia recebido ameaças
Conhecido por denunciar crimes na fronteira entre Brasil e Paraguai, o jornalista Léo Veras foi executado com ao menos 12 tiros de pistola na noite de anteontem, na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, vizinha de Ponta Porã (MS). Segundo o secretário de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, Antonio Carlos Videira, a vítima já havia recebido ameaças por criticar ações de narcotraficantes na região, principalmente do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Mais conhecido como Léo Veras, Lourenço Veras era dono do site Porã News, especializado em notícias policiais, editado em português e espanhol. Nascido no Paraguai, ele também tinha nacionalidade brasileira. A investigação do crime é feita pela polícia dos dois países.
O jornalista jantava com a família no quintal de sua casa, quando três homens encapuzados desceram de um Jeep Cherokee de cor branca e fizeram os disparos. Veras tentou fugir, mas recebeu tiros de pistola calibre 9 mm nas costas e na cabeça. Ele foi levado a um hospital de Pedro Juan, mas já chegou sem vida.
Segundo o secretário Videira, Veras era alvo de ameaças. “Ele era contundente em críticas à ação do narcotráfico na região da fronteira e vinha recebendo ameaças”, diz. “Recentemente ele foi entrevistado em reportagem de alcance nacional, denunciando as facções que agem na fronteira, especialmente o PCC. Por causa disso, sua relação com as autoridades e forças policiais era muito boa, mas certamente desagradava ao crime organizado.”
No mês passado, Veras noticiou com destaque a fuga de presos do PCC em Pedro Juan Caballero e acompanhou a caçada aos fugitivos. O secretário disse ter conversado com autoridades paraguaias e definido linhas de ações conjuntas para investigar a execução.
“Estamos em busca da origem das ameaças contra ele e de pistas. Se o veículo que eles usaram, uma Cherokee branca, veio para o lado brasileiro da fronteira, nós vamos encontrar.”
Na noite do crime, a polícia recolheu o celular e o computador do jornalista na tentativa de identificar a origem das ameaças. Imagens de câmeras instaladas na região também foram requisitadas para análise. Segundo o promotor de Pedro Juan Marco Amarila, que está à frente da investigação, a mulher de Veras contou que ele estava muito apreensivo e denotava temor de ser assassinado.
Denúncias. Em 2013, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) chegou a divulgar denúncia sobre as ameaças recebidas por Léo Veras, em razão do seu trabalho jornalístico na região da fronteira e das denúncias de execuções motivadas pelo narcotráfico. Na ocasião, Veras disse que não se intimidaria com as ameaças e continuaria seu trabalho.
Em nota conjunta, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação
Nacional de Jornais (ANJ) também lamentaram a morte do jornalista e ressaltaram o trabalho investigativo que era feito por ele.
“Os assassinatos de comunicadores têm por objetivo intimidar o livre exercício do jornalismo e impedir o direito dos cidadãos de serem plenamente informados. A apuração criteriosa e rápida da morte de Léo Veras, assim como dos demais homicídios de jornalistas, é fundamental para combater a impunidade”, diz a nota.