O Estado de S. Paulo

Bolsonaro se afasta de vez de primeiros aliados

Presidente confirma ida de Onyx para Cidadania e se distancia dos políticos que o apoiaram na eleição; Bebianno, Bivar e Joice já haviam deixado núcleo do governo

- Jussara Soares Julia Lindner Tânia Monteiro / BRASÍLIA

Ao confirmar ontem as mudanças no primeiro escalão, o presidente Jair Bolsonaro fez um movimento para rearrumar o governo em ano eleitoral, se distanciou mais de aliados civis de primeira hora e afastou o perfil político do Palácio do Planalto. Sob o argumento de que é preciso virar a página de crises e mostrar resultados em áreas críticas, como a social, Bolsonaro recorreu, mais uma vez, aos militares. De uma só vez, tirou Onyx Lorenzoni da Casa Civil e o transferiu para o Ministério da Cidadania, no lugar de Osmar Terra. O general Walter Braga Netto, chefe do Estado-Maior do Exército, assumirá a Casa Civil e Terra retomará o mandato de deputado na Câmara.

O anúncio foi feito por Bolsonaro pelas redes sociais, um dia depois de ele ter batido o martelo sobre as substituiç­ões. A cerimônia de transmissã­o dos cargos será realizada na próxima terça-feira, no Planalto. Onyx ocupava o ministério mais importante do governo, mas teve suas funções esvaziadas após sofrer seguidos desgastes. Nas últimas semanas, Bolsonaro já dava sinais de que procurava um perfil militar para conduzir a coordenaçã­o da equipe.

Na sua avaliação, os partidos vão “nacionaliz­ar” as disputas municipais de outubro e esse embate será um termômetro para as eleições de 2022, quando ele planeja concorrer a um segundo mandato. Em conversas reservadas, o presidente tem dito que precisa apresentar um portfólio de ações em todas as áreas, e não apenas na economia, mas não pretende fazer mais mudanças no Ministério, ao menos por enquanto.

No fim da tarde, ao receber estudantes no Palácio da Alvorada, Bolsonaro exaltou a militariza­ção do governo. “Trocamos hoje (ontem) dois ministros. Ficou completame­nte militariza­do o meu terceiro andar”, disse ele, em transmissã­o ao vivo na internet, em referência ao local onde fica seu gabinete, no Planalto. “São quatro generais ministros agora. Nada contra os civis. Tem civis excepciona­is trabalhand­o, como o Sérgio Moro (ministro da Justiça), por exemplo. Cada área a gente coloca um ministro que entende do assunto sem aquela jogada que vocês sabiam que existia.”

Ex-intervento­r federal na segurança do Rio, Braga Netto será o terceiro general com assento no Planalto. Os outros são Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucio­nal) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). Ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidênci­a, Jorge Oliveira é major da Polícia Militar do Distrito Federal. Bolsonaro fala em “quatro generais ministros” porque é muito próximo de Fernando Azevedo e Silva, titular da Defesa.

Com a saída de Onyx do Planalto, Bolsonaro sacramenta o afastament­o do time civil que esteve na linha de frente de sua campanha. No primeiro ano de governo, ele demitiu o então ministro Gustavo Bebianno, coordenado­r da campanha. Também foram expurgados do círculo presidenci­al deputados como Luciano Bivar, presidente do PSL, Julian Lemos (PSL-PB), Joice Hasselmann (PSL-SP) e o senador Major Olímpio (PSL-SP).

Queixas. Interlocut­ores de Bolsonaro disseram que, ao mexer na equipe, ele também quis se afastar de possíveis acusações de uso político da máquina. O Estado revelou que o Ministério da Cidadania, na gestão de Terra, contratou empresa suspeita de ser usada como laranja para desviar R$ 50 milhões dos cofres públicos. Bolsonaro cobrou explicaçõe­s de Terra. Nas redes, o presidente agradeceu ao agora ex-ministro “pelo trabalho e dedicação ao Brasil”.

Bolsonaro ainda se queixava da atenção “exacerbada” que Onyx dava ao Rio Grande do Sul. Filiado ao DEM, Onyx é précandida­to ao governo gaúcho. Agora, terá a missão de comandar o Bolsa Família e acabar com as filas do programa.

“O time Bolsonaro é humilde, é unido e é forte e aqui não importa o número da camiseta. O presidente me entrega hoje uma nova missão que eu vou cumprir com o mesmo zelo, com a mesma dedicação e com o mesmo empenho para melhorar a vidas dos brasileira­s e das brasileira­s”, disse Onyx, em vídeo no Twitter. Deputado licenciado do MDB, Terra afirmou, por sua vez, que continuará ajudando o governo. “Eu estarei onde for mais importante para o governo e para o presidente.”

 ?? ALAN SANTOS/PR-3/12/2019 ?? Trocas. Fora do Planalto, Onyx vai ocupar o lugar de Osmar Terra, que volta para a Câmara
ALAN SANTOS/PR-3/12/2019 Trocas. Fora do Planalto, Onyx vai ocupar o lugar de Osmar Terra, que volta para a Câmara
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil