O Estado de S. Paulo

Escolha de militar para lugar de Onyx incomoda ‘olavistas’

- Vera Rosa

Adecisão do presidente Jair Bolsonaro de entregar a Casa Civil ao general Walter Braga Netto, chefe do Estado-Maior do Exército, provocou revolta e desconfian­ça na ala bolsonaris­ta formada por seguidores do escritor Olavo de Carvalho. Nos bastidores, o grupo avalia que, ao se cercar de militares no Palácio do Planalto, dando aos generais postos estratégic­os no núcleo do governo, o capitão Bolsonaro criou um problema que pode se voltar contra ele.

Conhecidos por ver “conspiraçã­o” em tudo, os olavistas disputam poder com os militares desde a campanha de 2018. Na Esplanada, o representa­nte mais dileto desse time é o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que, apesar de desgastado, não cairá agora. Mais adiante, Weintraub deve até mesmo ser o formulador do programa ideológico do Aliança pelo Brasil, novo partido de Bolsonaro.

Amigo de Weintraub e de malas prontas para o Ministério da Cidadania, Onyx Lorenzoni sai da Casa Civil após entrar em confronto com o general Luiz Eduardo Ramos, que há sete meses assumiu a Secretaria de Governo. Foi o próprio Bolsonaro, porém, que criou o embaraço ao chamar Ramos para comandar a articulaçã­o política com o Congresso, esvaziando funções que antes eram de Onyx. Até hoje, no quarto andar do Planalto, o corredor que separa os gabinetes de Onyx e Ramos é conhecido como “Faixa de Gaza”.

Indicado por Onyx para a pasta da Cidadania, Osmar Terra retomará o mandato de deputado na Câmara. A ala fardada do governo não se cansa de repetir que as últimas crises ocorreram no “núcleo gaúcho”. Na prática, desde meados de 2019, o então todo-poderoso chefe da Casa Civil – que é pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul – vem sendo “fritado” em praça pública.

Agora, em um ano de eleições municipais, sem uma base de apoio no Congresso, com programas sociais empacados e um partido que ainda não saiu do papel, Bolsonaro quer que o general Braga Netto seja o bedel dos ministério­s. Nesse enredo pré-carnaval, ele também se reaproximo­u do vice, general Hamilton Mourão, escolhido para coordenar o Conselho da Amazônia. Detalhe: os olavistas não gostaram de ver Mourão recuperar o protagonis­mo, após nove meses de ostracismo.Para eles, o golpe está logo ali na esquina.

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