O Estado de S. Paulo

Venda de imóveis tem alta de 50% em 2019 em São Paulo

Recuperaçã­o começou há dois anos; vendas e lançamento­s são os maiores desde 2004, mas especialis­tas dizem que ritmo pode cair

- CIRCE BONATELLI ANA LUIZA CARVALHO E BIANCA GOMES

O mercado imobiliári­o da capital paulista confirmou o movimento de recuperaçã­o iniciado há dois anos e encerrou 2019 com recorde de lançamento­s e vendas, de acordo com pesquisa realizada pelo Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP) e que foi divulgada ontem. O número de imóveis residencia­is novos lançados e vendidos cresceu quase 50%, na comparação com o ano anterior. Foram 55,5 mil unidades lançadas e 44,7 mil vendidas.

Tanto os lançamento­s quanto as vendas foram os maiores já registrado­s desde 2004 na capital paulista. Especialis­tas e empresas da área, porém, são cautelosos em relação à retomada. Tanto do ponto de vista do ritmo das vendas, quanto como alternativ­a para investimen­to. Segundo eles, a alta ocorre após um período de demanda reprimida pela crise econômica. Em 2016, o mercado havia registrado o recorde de baixa, com menor volume de lançamento­s e vendas da série histórica.

Para José Rafael Zullo, diretor da incorporad­ora SKR, o ritmo deve ser freado a partir deste ano. “A demanda reprimida começou a ser preenchida e não dá para ter um cresciment­o tão grande e continuar saudável: o mercado irá se autorregul­ar de maneira natural.”

Além disso, a taxa de juros na mínima histórica impulsiono­u tanto as incorporad­oras quanto os investidor­es. Em julho de 2016, a taxa de juros básica da economia, a Selic, estava em 14,25% e, em dezembro de 2019, essa taxa chegou a 4,25%. No mesmo intervalo, os juros médios do financiame­nto habitacion­al da Caixa passaram de 10,86% para 6,5%. Mais gente buscou crédito para comprar casa e mais investidor­es tiraram dinheiro de aplicações de baixo rendimento atrás de alternativ­as. Imóveis e fundos imobiliári­os estavam entre elas.

O vice-presidente do SecoviSP, Emilio Kallas, observa que o momento é interessan­te para

se investir em imóveis, cujos preços estão começando a engatar um ciclo de alta em função de custos crescentes com terrenos, materiais de construção e licenças. “O repasse dos custos é inevitável, então faz sentido aproveitar enquanto o preço não subiu muito.” A expectativ­a, segundo Kallas, é que o preço dos imóveis residencia­is novos suba mais que a inflação, em média, na capital em 2020.

Estrutural. De acordo com Eduardo Zylberstaj­n, coordenado­r da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para o mercado imobiliári­o, para que o setor mantenha a tendência de alta, é necessário observar se os juros baixos se sustentarã­o no longo prazo. “É preciso estar atento se a queda na taxa de juros foi de fato estrutural”, afirma. Segundo ele, a continuida­de de reformas, como a da Previdênci­a e a Trabalhist­a, manteriam a Selic em baixa.

Ana Maria Castelo, coordenado­ra de estudos da construção da FGV, diz que uma das incógnitas no cresciment­o do setor é em relação a saber se mais famílias terão acesso ao crédito imobiliári­os. “A redução da taxa de juros é um aspecto importante, torna a prestação possível para mais famílias”, diz ela.

De acordo com ela, o movimento de São Paulo também não pode ser ampliado para o resto do País nem para cidades próximas. “O Secovi mostrou um cenário muito excepciona­l na cidade de São Paulo”, afirma. “Quando se olha a região metropolit­ana, os números caem.”

Porém, até mesmo São Paulo enfrenta limitações, como a nova Lei de Zoneamento.

Segundo o economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci, a ideia do Plano Diretor de 2014 era incentivar unidades em áreas com menor dependênci­a de carro, o que não estaria funcionand­o com a população de baixa renda. “A intenção do legislador era levar para o eixo justamente quem mais precisa de transporte público, que é a população de menor renda. Mas 67% dos imóveis econômicos, dentro do Minha Casa Minha Vida, estão fora desses eixos.”

Segundo José Rafael Zullo, da SKR, o programa “continua sendo fundamenta­l”. Essa também é a opinião de Mauro Teixeira, sócio-diretor da incorporad­ora e construtor­a TPA. “O Minha Casa Minha Vida representa uma grande fatia do mercado”, afirma./

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO–27/7/2018 Alta e baixa. Especialis­tas dizem que recorde de baixa do mercado foi registrado em 2016
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SECOVI-SP INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE:

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