Falta de conectividade emperra o campo
Mais de 70% das propriedades rurais não têm acesso à internet, tecnologia fundamental para o Brasil dar um novo salto de produtividade
Considerado a locomotiva da economia nacional, o agronegócio historicamente representa um quinto do PIB brasileiro e é um dos segmentos responsáveis pelo Brasil não ter afundado na crise econômica dos últimos anos. Mas o setor precisa resolver o gargalo da ausência de internet no meio rural para dar um novo salto de produtividade. “A falta de conectividade no campo tem o mesmo peso da falta de infraestrutura logística”, diz Alfredo Miguel Neto, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
O último censo agropecuário do Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE), de 2017, evidencia o tamanho desse abismo. Do total de 5.073.324 estabelecimentos rurais existentes no Brasil, mais de 70% não têm acesso à rede mundial de computadores. Em relação ao censo agropecuário anterior, o número de proprietários rurais que declararam ter internet disponível registrou um crescimento exponencial: de 75 mil produtores em 2006 para 1,43 milhão em 2017, um salto de 1.800%.
Mesmo assim, a oferta de internet no campo está muito aquém da necessidade. Isso porque o agro brasileiro está num processo de transição para a chamada agricultura digital ou agricultura 4.0. Trata-se de um conjunto de tecnologias que integra dados coletados por sensores de máquinas agrícolas, softwares e sistemas, permitindo melhor gestão e monitoramento da produção agrícola e, consequentemente, redução de custos e otimização de recursos. “Já ultrapassamos a agricultura de precisão. Estamos na fase da agricultura de decisão, em que o gerente da propriedade recebe uma série de dados, em tempo real, que não só auxiliam na tomada de decisões no dia a dia, mas também geram um banco de informações para a automação de processos na propriedade”, explica Miguel Neto. nas áreas próximas a grandes cidades quanto nas novas fronteiras agrícolas, regiões de acesso mais difícil e distantes de centros urbanos. “A inclusão de nossos produtores rurais na era digital é uma necessidade primordial para permitir o aumento da produtividade, da eficiência do processo produtivo, além da segurança na área rural”, afirma Carlos Marsiglia, consultor da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Mas não é o que acontece atualmente. Prova disso é a Agrishow, uma das maiores feiras de tecnologia para o agronegócio da América Latina, que acontece em Ribeirão Preto, na fazenda experimental da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), em uma área de 821 hectares.
A feira é realizada numa propriedade muito próxima à cidade autointitulada “a capital do agronegócio paulista”. Mesmo assim, o sinal de internet é precário. A explicação está na forma de atuação das operadoras de telefonias que estão focadas em áreas urbanas com alta concentração populacional, o que garante uma maior rentabilidade. O custo para montar uma infraestrutura de comunicação é alto e, em áreas rurais, a densidade demográfica é baixa, o que afasta investimentos. “Para cobrir 50 milhões de hectares, o grosso do agronegócio brasileiro, precisaríamos de 4 a 5 mil torres [de telefonia], igual número de licenças ambientais e um investimento de US$ 500 milhões”, disse Leonardo Finizola, diretor de Novos Negócios da Nokia, durante o último Summit Agro do Estadão.
Com o intuito de encontrar soluções para o gargalo da falta de internet no meio rural, o Estadão Media Lab, juntamente com a Anfavea e a CNA, organiza no dia 11 de março o Fórum Estadão Think – Conectividade no Campo. O evento será no auditório da CNA em Brasília e contará com a presença de ministros, como Tereza Cristina (da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e Tarcísio Freitas (da Infraestrutura).