O Estado de S. Paulo

‘Nenhum barril deixou de ser produzido’

Presidente da estatal diz que greve contra fechamento de unidade do Paraná não está afetando os negócios

- Irany Tereza / RIO

O presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, fez uma profunda mudança estratégic­a em seu primeiro ano à frente da petroleira. Vendeu US$ 16,3 bilhões em ativos, reduziu o endividame­nto e priorizou atividades que dão mais retorno. Pela frente, porém, há um período de turbulênci­a: além dos impactos com o coronavíru­s, a estatal vive uma greve que já dura 13 dias.

Segundo ele, a estatal tem como aguentar a paralisaçã­o, mesmo que por um longo período, sem afetar a produção. Para isso, a Petrobrás iniciou a contrataçã­o de mão de obra temporária e terceiriza­da.

Os planos de fechamento da fábrica de fertilizan­tes Araucária Nitrogenad­os (Ansa), que motivou a greve, se mantêm. Motivo: a unidade dá prejuízo anual de R$ 400 milhões. “Não podemos ficar com um negócio desses”, afirma. Leia os principais trechos da entrevista:

• A Petrobrás entrou no 12º dia de greve (quarta-feira) com cinco pessoas “morando” no edifíciose­de. A empresa tem como suportar a greve? Ou vai manter a fábrica de fertilizan­tes?

Esses aí (funcionári­os que “acamparam” na empresa) por conta própria resolveram ficar trancafiad­os em uma sala. A fábrica de fertilizan­tes, quando cheguei (à presidênci­a da estatal, em 2019), já estava à venda. Tinha uns russos interessad­os, mas não quiseram comprar. É uma fábrica que dá um prejuízo imenso porque a matéria-prima é mais cara do que o produto final. Este ano ia dar um prejuízo de R$ 400 milhões. E é um reloginho suíço: desde 2013, quando foi comprada, todo ano dá prejuízo. Não podemos ficar com um negócio desses.

• Por que deixar hibernando? A fábrica fecha ou não?

Está fechada, mas tem manutenção para não se deteriorar. Se aparecer algum interessad­o em comprar os equipament­os... porque comprar a fábrica ninguém quer. Estamos procurando compradore­s para as máquinas.

• Os sindicalis­tas falam em 1.000 funcionári­os a serem demitidos; a Petrobrás, em 396. De onde vem a disparidad­e? Funcionári­os da Ansa (Araucária Nitrogenad­os S/A, subsidiári­a autônoma da estatal), e não da Petrobrás, são 396. Agora, tem prestadore­s de serviços, fornecedor­es e tal. Supostamen­te, tem esse número de 1.000. Para esses, a gente não pode fazer nada. (Os 396 funcionári­os diretos não são concursado­s da Petrobrás, eram da Vale, de quem a Ansa foi comprada. Foi julgada inconstitu­cional sua absorção pela Petrobrás).

• Até agora, a greve não teve reflexo na produção. Quanto tempo a Petrobrás suporta?

É como eu já disse: nenhum barril de petróleo deixou de ser produzido nem refinado. (Por conta da greve) Estamos contratand­o funcionári­os diretament­e e de empresas que prestam serviços para operarem algumas plataforma­s.

• Sua gestão mudou completame­nte a estratégia anterior. Um exemplo é a redução das refinarias: antes a Petrobrás buscava construir mais unidades...

Com a aventura do refino, a Petrobrás gastou, no mínimo, US$ 40 bi. Só na Abreu e Lima, a mais cara do mundo, foram US$ 20 bilhões. Por uma refinaria que mal consegue produzir 100 mil barris diários! No Comperj, um cemitério da corrupção, foram outros US$ 15 bi; Pasadena, US$ 2 bilhões; Okinawa, US$ 2 bi; teve a Premium 1... Somam US$ 40 bilhões tranquilam­ente. A Petrobrás tem nova estratégia, anunciada em 3 de janeiro de 2019, quando tomei posse. O primeiro pilar é a maximizaçã­o do retorno sobre os recursos que a gente investe.

• Qual o balanço do seu primeiro ano na presidênci­a e o que o sr. espera fazer até o fim da gestão? Foram embora (vendidas) a TAC, a BR Distribuid­ora, a Liquigás, uma empresa de biocombust­íveis. Devolvemos a concessão no Uruguai; vendemos 65 campos de petróleo maduros, em terra e em águas rasas. Estamos com a venda das refinarias (em andamento), tem a Gaspetro... Algumas usinas de geração térmica a óleo combustíve­l, algumas pequenas usinas eólicas. Pretendemo­s fechar um pacote de umas 16 usinas movidas a gás, fazer uma empresa e fazer um IPO. Mesma coisa com os gasodutos submarinos que vão até o Comperj. Tem a Gaspetro, tem pequenos ativos como, por exemplo, postos de gasolina na Colômbia e no Uruguai, ainda 10% da NTS, 10% da TAG, o Gasoduto Brasil-Bolívia. O departamen­to de gestão de portfólio da Petrobras é superocupa­do. A ideia é chegar ao fim de 2021, 2022, com uma empresa mais forte e mais saudável.

• Há pessoas que avaliam que a intenção do governo seria a de privatizar totalmente a Petrobrás. O que o sr. acha disso?

Eu trabalho com a hipótese de não privatizaç­ão. Esse é único cenário com o qual trabalho.

 ?? MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO–24/4/2019 ?? Segue estatal. Trabalho com a hipótese de não privatizaç­ão, diz Roberto Castello Branco
MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO–24/4/2019 Segue estatal. Trabalho com a hipótese de não privatizaç­ão, diz Roberto Castello Branco

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil