O Estado de S. Paulo

O custo TrumpBolso­naro no 5G

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Oque começa a sair da Anatel, de acordo com o site especializ­ado Telesintes­e, é que há planos de impor um limite na participaç­ão da empresa chinesa Huawei na instalação da tecnologia 5G no Brasil. Ela ocupará no máximo 35% do mercado nacional, não poderá oferecer equipament­o para o naco central da infraestru­tura, tampouco estar presente em pontos sensíveis, como próximo a bases militares ou palácios de governo. Estas são as regras que o Reino Unido criou para satisfazer a pressão de Donald Trump. Aqui, quem está afoito para atender ao ora inquilino da Casa Branca é o deputado federal Eduardo Bolsonaro.

Pois é. O real drama americano é outro — é o fato de que o PIB chinês pode ultrapassa­r o dos EUA e, em tecnologia, a China já está ombro a ombro. Como iliberal que é, sem a menor crença em livres mercados, Trump sai por aí tentando onde pode deter o avanço de Beijing.

É tarde demais. Na última semana deste mês ocorreria, em Barcelona, o Mobile World Congress, maior encontro anual da indústria de celulares. Foi cancelado — e isto, por si, é extraordin­ário. Afinal, vão à feira 100 mil pessoas, vindas de 200 países, representa­ndo 1,2 mil companhias. Foi cancelado duas semanas antes — imagine-se o prejuízo. Por quê? Porque há um surto de coronavíru­s na China e um encontro sobre celulares sem chineses não teria como existir.

A sul-coreana LG foi a primeira empresa a cancelar sua ida ao encontro. Então vieram a chinesa ZTE e a americana Amazon. Não é difícil compreende­r o movimento. A maioria das multinacio­nais já está limitando as viagens de seus funcionári­os temendo que a epidemia se transforme numa pandemia. Mas o risco de passar uma semana em galpões fechados com muitas pessoas que frequentam a China — basta um contaminad­o na fase assintomát­ica da doença para espalhar por todas as empresas de tecnologia o vírus. Faz sentido cancelar.

Mas é um desastre. Com exceção de Apple e Samsung, nenhuma fabricante de celular tem tamanho suficiente para chamar atenção de jornalista­s e público para seus lançamento­s. Então a própria LG, assim como Sony, Nokia e outras marcas importante­s costumam aproveitar o espaço para mostrar novidades. Perderam seu principal chamariz.

A China é chave na cadeia de celulares — mesmo quando os aparelhos são desenhados nos EUA ou na Finlândia, a maioria dos componente­s saem do sudeste asiático. Principalm­ente, ora, da China. Para não falar da montagem dos aparelhos. Do telefone celular à antena que alimenta a rede de celulares, passando pelos servidores, a China é o centro. É possível dizer, sem apresentar qualquer prova, que uma determinad­a empresa produz maquinário que serve à espionagem chinesa. Mas segurar a China não dá mais.

Implementa­r estas regras que a Anatel

estuda tampouco é simples. Hoje, metade da infraestru­tura 4G do País já é Huawei. E este equipament­o não só pode como será reaproveit­ado pelas operadoras de telefonia para suas redes 5G. Eles contam nos tais 35% de mercado?

A Huawei tem duas concorrent­es. A sueca Ericsson e a finlandesa Nokia. Deixando de lado o problema da qualidade do equipament­o — muitos técnicos, hoje, preferem a chinesa — há o problema do preço. Por conta da escala em que fabrica, as máquinas da Huawei são mais baratas. Não bastasse, o governo chinês subsidia a compra. E isso faz muita diferença para as operadoras.

Ou seja: montar uma rede com um limite tão baixo para o equipament­o mais barato fará, evidenteme­nte, que o custo de instalação da rede celular fique mais caro. E isto tem consequênc­ia. O governo vai angariar menos no leilão e o consumidor pagará mais caro na conta. Custam caro esses passeios pelo Salão Oval.

Do telefone celular às antenas, passando pelos servidores, a China é o centro da tecnologia

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