Fora do Brasil, no meio do carnaval
Você se lembra da primeira vez que se apaixonou não por alguém, mas por algo? Algo que te fez encontrar uma felicidade arrebatadora? Eu não lembro quando foi exatamente que ocorreu essa explosão de sentimentos dentro de mim, mas ela chegou com o samba. E com seu descendente primeiro, o carnaval.
Talvez o leitor já tenha percebido minha predileção escancarada pelo carnaval – que me perdoem os demais feriados. Sempre estive por escrever, porém, sobre outras festas, de terras distantes, que a gente até estranha quando ouve alguém dizer “aqui tem carnaval”. Falo especialmente de dois cantinhos do mundo onde nunca esperei encontrar carnaval, mas lá estavam eles.
Descobri ambos no ano passado. O primeiro, em Montevidéu. Foi numa tarde fria em que saí para desbravar a região próxima ao hotel e dei de frente com um grupo de 30 pessoas tocando instrumentos musicais, enquanto passistas de diferentes idades dançavam à frente dos músicos com seus trajes vermelhos. Atrás ainda vinham uns foliões de última hora, daqueles que, sem nada a perder, seguem atrás dançando descompassados. Eu, por exemplo.
Descobri assim estar no meio do carnaval de 40 dias dos uruguaios, que começa em janeiro e vai até fevereiro. Nele, grupos desfilam por ruas de diferentes bairros (para atrair pessoas ao longo do caminho) e em avenidas. São as murgas, revistas, parodistas e comparsas – o nome da agremiação depende do estilo musical. Comparsas, por exemplo, se movem ao som do candomblé, ritmo de origem africana que é Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco.
Meses depois, tive a chance de ir às Ilhas Cayman, no Caribe. Pois além da fama de paraíso fiscal e das belezas naturais, o destino reserva uma festa animadíssima entre o fim de abril e início de maio. É o Batabano, desfile de blocos formados por moradores e associações comerciais onde o samba, marchinhas e axé dão lugar à música caribenha, sobretudo a soca – abreviação de Soul of Calypso, gênero musical nascido em Trinidad e Tobago.
Apesar de diferentes do nosso – e, por isso mesmo, tão interessantes –, encontrei neles uma enorme euforia, semelhante a que encontro nesta época do ano no Brasil. Euforia por compreender que o carnaval é um sentimento demasiado grande para caber num só país. Ele está em Cabo Verde, está em Porto Rico. Está em muitas viagens que ainda vou fazer. E em todas elas, eu apostaria, vou acabar encontrando alguém me perguntando, em inglês, se eu tenho glitter para emprestar. Aconteceu, e foi em Cayman.