Na Prevent Senior, 58% das mortes
Município pede intervenção em hospitais do plano, voltado para idosos e criticado pelo ministro Mandetta; empresa nega irregularidades
A Prevent Senior concentra 79 das 136 mortes por coronavírus no Estado de São Paulo. O governo estadual analisará pedido da Prefeitura por intervenção. A rede disse seguir protocolos da OMS.
A rede Prevent Senior concentra 79 das 136 mortes (58%) já registradas por coronavírus no Estado de São Paulo. No total, o País já tem 201 óbitos confirmados pela doença. A Prefeitura da capital paulista disse ter pedido intervenção sanitária na Prevent ao governo estadual, que ainda analisa a solicitação. A rede particular, voltada para idosos, disse seguir os protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e negou que as infecções tenham ocorrido dentro de seus hospitais.
“Ali (Prevent)é um fenômeno, porque um determinado empresário tinha de fazer um plano de saúde só para idoso. Como os idosos compram, fez uma carteira muito idosa. O hospital inteirinho é de idoso. Entrou o coronavírus dentro de um hospital só de idosos, um ponto fora da curva. Não conseguiram segurar ali dentro”, disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Segundo ele, se os idosos estivessem espalhados em diferentes locais, a transmissão teria sido menor.
“O que você não quer? Aglomeração é a primeira. A segunda é aglomeração de idosos. A terceira é aglomeração de idosos, todos, doentes. A quarta é que esses idosos não possam sair desse lugar. E a quinta é que entre o vírus no ambiente”, criticou Mandetta. “E isso serve muito para a Agência Nacional de Saúde (Suplementar, autarquia responsável pelos planos), que não deveria ter autorizado isso (plano só para idosos).”
Mandetta disse que as mortes foram em um único hospital, mas a Prevent Senior afirmou que foram em duas unidades, no Paraíso, zona sul, e em Santa Cecília, na região central. O ministério afirmou estarpreocupado com a aglomeração de idosos em hospitais, asilos e outros locais que atendem pessoas acima de 60 anos, parte do grupo de risco do vírus.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que solicitou à Secretaria Estadual da Saúde, na sexta-feira, 27, intervenção sanitária temporária em três unidades da Prevent. Quando começaram a ser registradas mortes na rede, a pasta fez investigação nos hospitais, com técnicos da Vigilância Sanitária, e informou ter encontrado quadro de superlotação, incorreção no isolamento de contaminados e poucos profissionais. A rede foi autuada, mas as mortes continuaram.
O Estado informou que o Centro de Vigilância Sanitária (CVS) pediu à Prefeitura para o relatório referente ao Hospital Sancta Maggiore, da Prevent. Visita do CVS havia constatado que a unidade estava em conformidade com a lei sanitária.
Defesa. Fernando Parrillo, CEO da Prevent, afirmou ao Estado que a rede segue o protocolo da OMS. “Logo que começou a epidemia na China, começamos a conversar com pessoas nesses países e seguimos o que fizeram e deu certo, o isolamento dos pacientes que tinham o problema”, afirmou.
Ele negou que o número de mortos em dois hospitais da rede seja um número alto. “Temos padrões de transparência e estamos notificando todos os casos. Obviamente temos um problema estrutural no Brasil inteiro de termos testes. Mas a nossa taxa de mortalidade para casos críticos está abaixo da média observada em outros países, de 15%. A nossa é de 12%”, afirmou ele, sem citar os casos totais atendidos pelo grupo. Afirmou apenas que a rede tem 470 mil beneficiários, todos idosos.
Sobre o pedido do Município e a declaração de Mandetta, disse que “causaram espanto”, porque os laudos do governo não tinham indicado problema.
Investigação. O Ministério Público de São Paulo também apura suposto delito de não notificação compulsória de mortes por coronavírus na Prevent. A rede nega omissões e diz colaborar com as autoridades.